Quinta, 16 de maio de 2024

(At 22,30;23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 7ª Semana da Páscoa.

“Eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo reconheça que tu me enviaste e os amaste como amaste a mim” Jo 17,23.

“Em 17,23 Jesus pede que cheguemos à unidade perfeita. Reaparece aí a palavra ‘telos’, que já teve um papel importante no lava-pés e o terá também na crucificação. Na unidade dos cristãos cumpre-se o amor com que Jesus nos amou até a perfeição no lava-pés e em sua morte de cruz. Para João, a morte de Jesus não pertence ao passado, é uma imagem que os cristãos devem sempre ter presente, para que possam participar do amor perfeito de Jesus. O amor de Jesus só alcança a perfeição quando os cristãos estão transformados a ponto de estarem prontos para a unidade. Revela-se nesta visão o que João entende por salvação: não é expiação nem sacrifício, e sim o amor perfeito em que os cristãos devem continuamente aprofundar-se em suas meditações, para que nele experimentem a unidade, a paz e a glória. O evangelho de João, sendo meditação das palavras e ações, já é uma maneira de experimentar a salvação. O evangelho de João dispensa os apelos morais, pois confia na força da palavra de Jesus. Meditando as palavras de Jesus, já passamos deste mundo para de Deus. A palavra de Jesus cria uma nova realidade. Meditando experimentamos a nós próprio como novos, transformados, mergulhados no amor de Deus. A palavra de Jesus nos tira desde agora do mundo da morte. A morte já não tem poder sobre nós. Isso fica claro no pedido de Jesus: ‘Pai, quero que, lá onde eu estiver, os que me deste estejam também comigo, e que contemplem a glória que me deste desde antes da fundação do mundo’ (17,24). Contemplando as palavras de Jesus participamos desde já da glória de Deus. Mas é na nossa morte que se manifestará o que já é realidade agora. A morte perdeu a sua substância. Ela já não poderá destruir-nos. Ela só revelará é que já é a nossa realidade agora: que estão mergulhados no amor perfeito de Deus. É esse o auge da mensagem libertadora e salvadora do evangelho de João. A morte perdeu seu poder. Ela se transformou em passagem definitiva para a glória de Deus. Ao mesmo tempo, a morte de Jesus, que nos amou até a perfeição, é também um desafio para nós cristãos, pois devemos entender a nossa morte como uma entrega por amor, não nos agarrando a nós próprios, e sim entregando-nos, à maneira de Jesus, pelos nossos amigos” (Anselm Grüm – Jesus, porta para vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite