(1Pd 1,18-25; Sl 147; Mc 10,32-45) 8ª Semana do Tempo Comum.
“Eles responderam: ‘Podemos’. E ele lhes disse:
‘Vós bebereis o cálice que devo beber e sereis batizados com o batismo que eu
devo ser batizado’” Mc 10,39.
“Seguros
de si, os filhos de Zebedeu se declaram dispostos a beber o cálice. A resposta
de Jesus pode ser um indício de que, à altura da redenção do Evangelho de
Marcos, eles já tinham sofrido o martírio. Mas continuemos acompanhando a
narrativa. Os outros discípulos ficaram indignados com a pretensão dos dois
irmãos. Jesus aproveita essa indignação para discorrer sobre o exercício do
poder dentro da comunidade cristã. Primeiramente, ele cita dois exemplos
negativos de abuso do poder. Os soberanos oprimem seus povos. Eles os mantêm
inferiorizados porque só assim conseguem acreditar em sua própria grandeza,
quando os outros têm de rebaixar-se. E os poderosos aproveitam seu poder para
exercê-lo contra as pessoas. Compreendem mal o sentido do poder. Eles se acham
poderosos ferindo os outros. Mas isso só mostra que não estão em harmonia
consigo mesmos, sentem a necessidade de passar aos outros seus próprios
ferimentos. Ao abuso do poder, Jesus opõe um outro tipo de liderança. Quem
quiser ser grande deverá servir. Jesus se refere ao serviço à mesa. O líder
deve colocar-se a serviço da vida. E quem quiser ser o primeiro deverá
transformar-se no escravo de todos. No grego, a distinção se faz entre
‘diakobos’ e ‘doulos’, no latim, entre ‘minister’ e ‘servus’. Ministro é aquele
que serve à mesa. É o auxiliador que sustentava os outros quando estes se
sentem fracos, que os ajuda a viver. O servo é o estafeta que leva e traz as
informações trocadas entre o exército e seu general; é ele o responsável pelo
funcionamento da comunicação. A palavra grega ‘doulos’ se refere ao escarvo que
não é senhor nem livre. O escravo tem obrigações para com seu senhor. Nessa
condição deve sentir-se o cristão em relação a Deus, cumprindo com humildade as
obrigações que lhe competem. Ele deve servir à comunidade e prover tudo o que
for necessário para uma convivência proveitosa. Isso significa que na
comunidade cristã devem reinar outras formas de exercício do poder do que as
que reinam no resto do mudo. Liderar significa servir à vida, estimular a vida,
cuidar da vida. O líder sabe que depende de Jesus, o Senhor, por isso não banca
o senhor sobre os demais. Ele age sob as ordens de Jesus e lhe serve com
disposição” (Anselm
Grüm – Jesus, Caminho para a liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite