Quarta, 29 de maio de 2024

(1Pd 1,18-25; Sl 147; Mc 10,32-45) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Eles responderam: ‘Podemos’. E ele lhes disse: ‘Vós bebereis o cálice que devo beber e sereis batizados com o batismo que eu devo ser batizado’” Mc 10,39.

“Seguros de si, os filhos de Zebedeu se declaram dispostos a beber o cálice. A resposta de Jesus pode ser um indício de que, à altura da redenção do Evangelho de Marcos, eles já tinham sofrido o martírio. Mas continuemos acompanhando a narrativa. Os outros discípulos ficaram indignados com a pretensão dos dois irmãos. Jesus aproveita essa indignação para discorrer sobre o exercício do poder dentro da comunidade cristã. Primeiramente, ele cita dois exemplos negativos de abuso do poder. Os soberanos oprimem seus povos. Eles os mantêm inferiorizados porque só assim conseguem acreditar em sua própria grandeza, quando os outros têm de rebaixar-se. E os poderosos aproveitam seu poder para exercê-lo contra as pessoas. Compreendem mal o sentido do poder. Eles se acham poderosos ferindo os outros. Mas isso só mostra que não estão em harmonia consigo mesmos, sentem a necessidade de passar aos outros seus próprios ferimentos. Ao abuso do poder, Jesus opõe um outro tipo de liderança. Quem quiser ser grande deverá servir. Jesus se refere ao serviço à mesa. O líder deve colocar-se a serviço da vida. E quem quiser ser o primeiro deverá transformar-se no escravo de todos. No grego, a distinção se faz entre ‘diakobos’ e ‘doulos’, no latim, entre ‘minister’ e ‘servus’. Ministro é aquele que serve à mesa. É o auxiliador que sustentava os outros quando estes se sentem fracos, que os ajuda a viver. O servo é o estafeta que leva e traz as informações trocadas entre o exército e seu general; é ele o responsável pelo funcionamento da comunicação. A palavra grega ‘doulos’ se refere ao escarvo que não é senhor nem livre. O escravo tem obrigações para com seu senhor. Nessa condição deve sentir-se o cristão em relação a Deus, cumprindo com humildade as obrigações que lhe competem. Ele deve servir à comunidade e prover tudo o que for necessário para uma convivência proveitosa. Isso significa que na comunidade cristã devem reinar outras formas de exercício do poder do que as que reinam no resto do mudo. Liderar significa servir à vida, estimular a vida, cuidar da vida. O líder sabe que depende de Jesus, o Senhor, por isso não banca o senhor sobre os demais. Ele age sob as ordens de Jesus e lhe serve com disposição” (Anselm Grüm – Jesus, Caminho para a liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite