(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20)*
1. A narrativa dos Atos dos
Apóstolos e do Evangelho se complementam de alguma forma com seus vários
elementos. Gostaria de tomar para nossa reflexão a pergunta narrada nos Atos
dos Apóstolos. Desta vez ela é dirigida a todos nós: “Por que ficais aqui,
parados, olhando para o céu?”.
2. Na resposta a esta pergunta
está contida a verdade fundamental sobre a vida e sobre o destino do ser
humano. A pergunta em questão refere-se a duas atitudes relacionadas com as
suas realidades, nas quais está inscrita a vida humana: a terrena e a celeste.
Primeiro, a realidade terrena: “Por que ficais aqui?” Por que estais na terra?
3. Respondemos: estamos na Terra
porque o Criador nos colocou como coroamento da Criação. Criado a sua imagem e
semelhança, concedeu-lhe a dignidade de filho de Deus e a imortalidade. Mas
sabemos que o homem se perdeu, abusou do dom da liberdade e disse ‘não’ a Deus
condenando-se desta forma a uma existência na qual entram o mal, o pecado, o
sofrimento e a morte.
4. Mas também sabemos que o
próprio Deus não se resignou a essa situação e entrou diretamente na história
humana, a qual se tornou história da salvação. Estamos na Terra, estamos
radicados nela, dela crescemos.
5. Aqui praticamos o bem nos
vastos campos da existência cotidiana, no âmbito da esfera material, e também
na espiritual: nas relações recíprocas, na edificação da comunidade humana, na
cultura.
6. Aqui experimentamos a fadiga
do viandante a caminho rumo à meta pelas estradas complicadas, entre
hesitações, tensões, incertezas, mas também na profunda consciência que mais
cedo o mais tarde este caminho chegará ao fim. E é então que nasce a reflexão:
só isto? A Terra na qual ‘nos encontramos’ é o nosso destino definitivo?
7. Nesse contexto é preciso
deter-se na segunda parte do interrogativo contido no Livro dos Atos. Tendo
sido Jesus elevado ao céu, estavam eles fixando o céu, porque acompanhavam com
o olhar a Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, que era elevado ao céu.
8. Não sabemos se se aperceberam
naquele momento do fato de que precisamente diante deles se estava a abrir um
horizonte magnífico, infinito, o ponto de chegada definitivo da peregrinação
terrena da humanidade. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes,
iluminados pelo Espírito Santo.
9. Contudo, para nós aquele
acontecimento de há dois mil anos é muito claro. Somos chamados, permanecendo
na Terra, a fixar o Céu, a orientar a atenção, o pensamento e o coração para o
Mistério inefável de Deus.
10. Somos chamados a olhar na
direção da realidade divina, para a qual o ser humano está orientado desde a
criação. Ali está contido o sentido definitivo da nossa vida.
11. Olhando da Terra para o Céu,
fixemos Aquele que desde dois mil anos é seguido pelas gerações que vivem e se
sucedem nessa nossa terra, reencontrando n’Ele o sentido definitivo da nossa
existência e nos comprometendo na consolidação do seu Reino na Terra: o Reino
do Bem, da justiça, da solidariedade e da misericórdia até que Ele volte. Amém.
* Reflexão com base em texto de
Bento XVI.
Pe. João Bosco Vieira Leite