Sábado, 01 de junho de 2024

(Jd 17.20-25; Sl 62[63]; Mc 11,27-33) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” Mc 11,28.

“A autoridade de Jesus provém de sua filiação divina por natureza. Ele é o verdadeiro Filho de Deus, que recebe do Pai sua natureza divina, toda inteira, tão perfeita como a do Pai, tão infinita e tão santa. A dignidade do cristão fundamenta-se igualmente na realidade de sua filiação divina por adoção. Deus fez do cristão um filho seu; fê-lo partícipe de sua própria divina natureza. Quando perguntaram ao Senhor com que autoridade fazia e falava, ele respondeu, aludindo a seu Pai celestial. Quando nos fosse perguntado com que fundamento nós cremos, esperamos e nos alegramos com antecedência pela felicidade eterna, deveremos responder, apoiando-nos no Pai celestial, que se dignou fazer-nos seus filhos. León Bloy escreveu: ‘Chego quase a soluçar, quando penso que Deus é meu amigo’. Quer dizer, se pensamos que Deus é nosso Pai? Se a alguém ocorresse perguntar-nos por que pregamos o nome de Jesus, deveríamos lembrar-lhe a missão que o próprio Jesus nos confiou: escolheu-nos para sermos seus discípulos, seus apóstolos. Por isso, continuando, propõe-se um exemplo em João Batista” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 31 de maio de 2024

(Sf 3,14-18; Sl Is 12; Lc 1,39-56) Visitação da Bem-Aventurada Virgem Maria.

“Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente,

a uma cidade da Judeia” Lc 1,39.

“Entre os eventos principais da vida da Virgem, comemorados com uma festa, encontra-se a visita que Maria fez a sua prima Isabel, mãe ‘à espera’ de João Batista. Parece que a origem dessa festividade deva ser atribuída aos frades menores franciscanos e a seu grande santo, Boaventura de Bagnoregio. Também a ele cabe o mérito de haver dado origem ao belo costume de dirigir uma saudação à Virgem com a repetição em série da ave-maria – devota homenagem que inspirou a Carducci o terno canto: ‘Ave-maria! Quando pelas auras corre / a humilde saudação, os reles mortais / descobrem a cabeça...’ A festa litúrgica foi estendida a toda a Igreja pelo papa Urbano VI para impetrar da Virgem a unidade dos cristãos, novamente divididos por causa da contestada eleição do pontífice. Era o ano de 1389. Cinquenta e dois anos mais tarde, o Sínodo de Basileia, na sessão de 1º de julho, confirmaria a festividade da Visitação, fixando-a no dia 2 de julho. O novo calendário litúrgico não leva em conta a sequência cronológica sugerida pelo episódio evangélico e estabelece a festividade no dia 31 de maio, no encerramento do mês mariano. A visitação é proposta a nossa meditação no segundo mistério gozoso do Rosário. É o mistério da caridade efetiva: Maria se põe a caminho ‘apressadamente’, como especifica são Lucas, para prestar ajuda nos assuntos domésticos da prima distante. Uma viagem fatigante, ‘pelas montanhas’, que Maria realizou juntando-se provavelmente a uma caravana de peregrinos que iam direto para Jerusalém. Da Galileia atravessou a Samaria e alcançou Ain-Karim, na Judeia. Um encontro sem aviso prévio, inesperado, mas exultante, fixado na história da devoção mariana pela insólita saudação que Isabel dirigiu à ‘Mãe de seu Senhor’, a qual se repete ao longo dos séculos na recitação da ave-maria como um eco amoroso multiplicado ao infinito. A humildade de Maria não a impediu de reconhecer as ‘grandes coisas’ que Deus nela operara; com o Magnificat, manifesta seu canto de gratidão ao Altíssimo que trazia em seu seio. Maria sabe – diz são Francisco de Sales, que dedicou à Visitação a congregação feminina por ele fundada – que ‘caridade e humildade não são perfeitas caso não passem por meio de Deus ao próximo’” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo – Ano B

(Ex 24,3-8; Sl 115[116]; Hb 9,11-15; Mc 14,12-16.22-26)

1. Um sacerdote foi abordado por uma senhora, uma cientista com carreira política, não crente, sobre a Eucaristia. Pelo interesse demonstrado, ele lhe emprestou um livro que havia escrito sobre esse sacramento. Uma semana depois, ela vem devolver o livro e lhe disse:

2. “Você colocou em minhas mãos não um livro, mas uma bomba... Já se deu conta de tudo quanto escreveu? Você diz que bastaria abrir os olhos para descobrir todo um outro mundo ao nosso redor; que o sangue de um homem morto há dois mil anos nos salvou a todos. Lendo, tive uma experiência inaudita: me tremiam as pernas e que mesmo assim eu deveria levantar-me. Se o que você escreveu é verdade, muda tudo...”

3. Mais do que as palavras daquela mulher, o seu olhar e o tom de voz comunicavam um sentido de estupor quase sobrenatural. Escutando-a, junto com a alegria de ver que a semente não caiu na estrada, ele provava uma grande sensação de humilhação e vergonha.

4. Ele havia recebido a comunhão pouco antes e não lhe tremia as pernas. Ele entendeu o quanto nós cristãos estamos expostos ao risco de ver de maneira superficial, as grandes verdades que cremos. Que experiência não deveria ter aqueles que tomam seriamente a Eucaristia?

5. Francisco de Assis foi um desses que nunca permitiu que a Eucaristia se tornasse um hábito e sempre falava de maneira comovida sobre a Eucaristia aos seus confrades ao mesmo tempo que recomendava a devida atenção aos sacerdotes pela grandeza d’Aquele que se colocava em suas mãos.  

6. Talvez essa seja a coisa mais necessária de fazer nesta festa do Corpo do Senhor: não ilustrar este ou aquele aspecto da Eucaristia, mas despertar cada ano o espanto, a admiração, o maravilhar-se diante desse mistério.

7. Essa festa de hoje tem sua origem no início do século XIII nos mosteiros beneditinos. O papa Urbano IV a estende para toda a Igreja. Que necessidade teríamos de uma festa se a realidade da instituição da Eucaristia já era recordada na Quinta-feira Santa?

8. A festa de hoje é a primeira que não tem por objeto um evento da vida de Jesus, mas uma verdade de fé: a real presença de Cristo na Eucaristia. Ela responde a uma necessidade de proclamar solenemente essa fé; serve para espantar um perigo: habituar-nos com Sua presença e não fazer-lhe a devida reverência e atenção.

9. Isso nos ajuda a entender a extraordinária solenidade e visibilidade que essa festa ganhou na Igreja católica. Durante muito tempo essa era a única procissão conhecida e a mais solene. O que temos hoje é uma sombra em comparação com os relatos que se tem da mesma na história da Igreja.

10. Os tempos mudam e perdemos toda uma coreografia externa, mas permanece o sentido profundo que inspirou essa festa: manter desperto esse espanto, essa admiração diante do maior e mais belo mistério da fé. Toda a nossa liturgia de hoje, seus textos, cantos, orações estão perpassados por esse sentido de maravilhar-se.

11. Se a festa do Corpo do Senhor não existisse, seria necessário inventá-la. E se há um perigo que nós crentes hoje corremos em relação a Eucaristia é de banalizá-la. Houve um tempo em que a recebíamos em longos intervalos e se devia jejuar e confessar.

12. Hoje, praticamente, todos se aproximam dela... Entendamos: é um progresso, é normal que a participação na Missa comporte também a comunhão, ela existe para isso. Mas tudo isso comporta um risco, e como diz São Paulo, de não estarmos verdadeiramente preparados. Há a tentação de ‘domestiquemos’ a Deus.

13. Mas não deve ser tanto a grandeza e a majestade de Deus a causa do nosso espanto diante do mistério Eucarístico, mas sim a Sua condescendência e o Seu amor. A Eucaristia é sobretudo isto, um memorial de um amor maior: dar a vida pelos próprios amigos.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 29 de maio de 2024

(1Pd 1,18-25; Sl 147; Mc 10,32-45) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Eles responderam: ‘Podemos’. E ele lhes disse: ‘Vós bebereis o cálice que devo beber e sereis batizados com o batismo que eu devo ser batizado’” Mc 10,39.

“Seguros de si, os filhos de Zebedeu se declaram dispostos a beber o cálice. A resposta de Jesus pode ser um indício de que, à altura da redenção do Evangelho de Marcos, eles já tinham sofrido o martírio. Mas continuemos acompanhando a narrativa. Os outros discípulos ficaram indignados com a pretensão dos dois irmãos. Jesus aproveita essa indignação para discorrer sobre o exercício do poder dentro da comunidade cristã. Primeiramente, ele cita dois exemplos negativos de abuso do poder. Os soberanos oprimem seus povos. Eles os mantêm inferiorizados porque só assim conseguem acreditar em sua própria grandeza, quando os outros têm de rebaixar-se. E os poderosos aproveitam seu poder para exercê-lo contra as pessoas. Compreendem mal o sentido do poder. Eles se acham poderosos ferindo os outros. Mas isso só mostra que não estão em harmonia consigo mesmos, sentem a necessidade de passar aos outros seus próprios ferimentos. Ao abuso do poder, Jesus opõe um outro tipo de liderança. Quem quiser ser grande deverá servir. Jesus se refere ao serviço à mesa. O líder deve colocar-se a serviço da vida. E quem quiser ser o primeiro deverá transformar-se no escravo de todos. No grego, a distinção se faz entre ‘diakobos’ e ‘doulos’, no latim, entre ‘minister’ e ‘servus’. Ministro é aquele que serve à mesa. É o auxiliador que sustentava os outros quando estes se sentem fracos, que os ajuda a viver. O servo é o estafeta que leva e traz as informações trocadas entre o exército e seu general; é ele o responsável pelo funcionamento da comunicação. A palavra grega ‘doulos’ se refere ao escarvo que não é senhor nem livre. O escravo tem obrigações para com seu senhor. Nessa condição deve sentir-se o cristão em relação a Deus, cumprindo com humildade as obrigações que lhe competem. Ele deve servir à comunidade e prover tudo o que for necessário para uma convivência proveitosa. Isso significa que na comunidade cristã devem reinar outras formas de exercício do poder do que as que reinam no resto do mudo. Liderar significa servir à vida, estimular a vida, cuidar da vida. O líder sabe que depende de Jesus, o Senhor, por isso não banca o senhor sobre os demais. Ele age sob as ordens de Jesus e lhe serve com disposição” (Anselm Grüm – Jesus, Caminho para a liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 28 de maio de 2024

(1Pd 1,10-16; Sl 97[98]; Mc 10,28-31) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Começou Pedro a dizer a Jesus: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos’” Mc 10,28.

“O que, de verdade, ocupa lugar central em nossa vida? Temos sempre tantos projetos, tantos sonhos... Construímos coisa, relações, situações... E em que colocamos nossa confiança? Essa situação ‘conhecida’, em que acreditamos haver algum controle de nossa parte, acaba por nos dar conforto e uma sensação de segurança. E, aos poucos, vão se formando coisas intocáveis em nossa vida. Coisas de que não abrimos mão, consciente ou inconscientemente, por medo de atingirmos ou prejudicarmos aquilo que temos por segurança. O seguimento de Jesus não se trata de abandonar nossos sonhos, projetos e conquistas. Trata-se, primeiramente, de reconhecermos que nossa segurança não está naquilo que construímos, pois tudo pode ser passageiro... Nossa segurança verdadeira está naquele que dá sentido a qualquer projeto, que torna possível qualquer sonho, que dá força para qualquer construção. O que todo discípulo deve abandonar é a falsa referência egoísta e autocentrada de nossos sonhos, projetos e conquistas. Nossa vida não gira em torno do nosso umbigo. Não somos o centro do mundo e esse sair de si é imprescindível para o discipulado. Não deixamos nada, na verdade, porque nada tínhamos, tudo vinha de Deus. Esse reconhecimento, esse abandono dessa falsa segurança e mentirosa posse das coisas é a pobreza evangélica necessária para voltar-se para os verdadeiros valores em nossa vida. – Deixamos tudo, Senhor, e tudo levamos, pois és nosso tudo e não podemos renunciar a ti. Bendizemos-te por ti mesmo, pelo amor e doação que nos ensinas, pela caridade com que nos acolhes, pela misericórdia que nos ofereces. Seja louvado nosso Senhor, para sempre. Amém!” (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de maio de 2024

(1Pd 1,3-9; Sl 110[111]; Mc 10,17-27) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus olhou para ele com amor e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres,

e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!’” Mc 10,21.

“Este versículo está dentro do contexto do diálogo de Jesus com o jovem rico, jovem este que tem um caminho de sucesso na riqueza e isto preenche a sua vida até certo ponto, mas e o que vem depois? A riqueza abre para ele muitas portas, muitos benefícios, muitos privilégios, porém, ele tem uma grande preocupação: Como, com tudo que eu tenho, garantir um lugar no Reino? Alguma condição para cumprir e chegar ao Reino? No Evangelho a expressão alcançar a vida eterna é a mesma coisa que entrar no Reino. Seguir o Senhor já é uma garantia de ter um seguro caminho para o Reino eterno; é o prêmio eterno dos justos. Não que um possuidor de riquezas não possa entrar no Reino de Deus, mas há condições. A primeira é ser bom como Deus é bom. Que nada atrapalhe a bondade. Riqueza é um bem passageiro, a bondade que é o modo de Deus, é um bem absoluto. Deus se dá bondosamente em tudo o que é e faz. Deu-nos a suas obras, deu-nos seu amor e nos deu seu próprio Filho, e em sua misericórdia sempre esteve ao lado dos que mais precisaram e precisam. A bondade nos torna mais do que humanos. O jovem é bom e Jesus sabe disso, a ponto de dizer: ‘Só te falta uma coisa!’. Só falta aquela iniciativa corajosa e decidida de dar seu dinheiro aos pobres. O mais importante não é o que a gente tem, mas é a grande capacidade de dar o que se tem, de dividir, de partilhar. Esta recompensa virá com um tesouro impressionante. Os pobres não podem retribuir, mas o céu sim! O céu dará um tesouro! Vir com Jesus é vir com sua bondade infinita; Jesus é generoso como o Pai do Céu é generoso. Seguir Jesus é ir onde está Deus: no Reino do Céu, buscado intensamente, amado intensamente, partilhando intensamente. – Senhor, venha a nós o vosso Reino! Que a vossa vontade e a vossa bondade sejam a inspiração das minhas práticas para que transforme a terra no Reino adorável do Pai celeste! Amém!” (Patrícia de Moraes Mendes de Sousa  – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Santíssima Trindade – Ano B

(Dt 4,32-34.39-40; Sl 32[33]; Rm 8,14-17; Mt 28,16-20)*

1. Celebramos a festa da Santíssima Trindade. Ao simples pronunciar deste mistério, temos a impressão de sermos projetados a uma altura vertiginosa, longe de nossa realidade cotidiana e nos damos conta de ser algo que jamais alcançaremos compreender.

2. Para além dessa 1ª impressão, na realidade, esse mistério se faz muito próximo de nós. Nós vivemos imersos na Trindade, escondidos nela, como um peixe na água. Nela ‘vivemos, nos movemos e somos’ (At 17,28). Tomamos como ponto de partida de nossa reflexão a afirmação de Paulo na 2ª leitura:

3. “Vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá, ó Pai!”. A palavra de Deus nos oferece uma imagem familiar para descobrir esse vínculo que nos une à Trindade: adoção.

4. Essa é uma realidade que conhecemos bem no âmbito humano. Dessa não nos será difícil chegar a uma outra adoção, muito mais profunda, que diz respeito a todos. Paulo nos diz que somos todos adotados.

5. A adoção pode ser, às vezes, uma experiência de grande sofrimento. Por vezes para a criança adotada que traz consigo traumas que se podem manifestar na forma de rebeliões, de violência e de uma aparente ingratidão.

6. Assim como há uma graça de estado no matrimônio, assim deve existir uma graça de estado para os genitores adotantes, pois muitas vezes dão prova de uma compreensão e paciência sobre-humana. Se elevam numa forma de amor que nos recorda o amor de Deus: de gratuidade que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor, 13,7).

7. A nossa adoção se baseia no fato de que o Filho natural de Deus, Jesus, fazendo-se homem, nos tomou como irmãos, nos deu o seu Espírito, e nos uniu a si, como membro do seu corpo, fazendo de nós uma só família. Ao contrário da adoção humana, iniciativa dos pais, foi o irmão maior que nos adotou. Nos tornamos 1º irmãos, depois filhos, se bem que as duas coisas acontecem contemporaneamente no batismo.  

8. O filho adotivo se torna herdeiro, nos lembra a leitura. Deus nos dá não somente um nome de filhos, mas também sua vida íntima, o seu Espírito. Pelo batismo, em nós, escorre a vida mesma de Deus. E como os pais adotivos, Deus continua a amar os seus filhos mesmo que comentam coisas terríveis, não pode renegá-los.

9. Mas a adoção não é só risco e prova; é também, muitas vezes, fonte de grande e pura alegria e satisfação. Alegria que se assemelha àquela de Deus, porque se baseia no dar, e não no receber. Comumente uma criança ou adolescente adotado desenvolve um tipo de amor todo especial por quem a tirou da solidão, da pobreza e da marginalização na vida. Um amor feito de comovida gratidão e admiração que não se encontra em nenhuma outra situação humana.      

10. A Trindade que celebramos não é um mistério distante, que não nos diz respeito, havíamos dito. Ao contrário, descobrimos que essa é a nossa família. Não uma família passageira, mas aquela que somos destinados a viver e, esperamos, ser felizes eternamente.

11. Aos pais e mães que têm o instinto da adoção, saibam que estão em boa companhia: também Deus é um Pai adotivo e Maria (num sentido diferente, mas verdadeiro) uma mãe adotiva, desde o momento em que ela nos adotou como irmãos do seu Filho Jesus. Que possam ter a alegria de vossos filhos tanto quanto a ajuda da parte de Deus e da Virgem nos momentos de dificuldade.

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 25 de maio de 2024

(Tg 5,13-20; Sl 140[141]; Mc 10,13-16) 7ª Semana do Tempo Comum.

“Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança não entrará nele” Mc 10,15.

“O Senhor Jesus aproveita todas as oportunidades para insistir conosco que evitássemos a soberba dos fariseus, o aparato de sua vida, de sua autonomia vaidosa. Várias vezes emprega a imagem das crianças para contrapô-la à dos fariseus. As pessoas devem tornar-se semelhantes às crianças, para poderem entrar no Reino dos céus. Semelhantes, mas em quê? Para nós, a imagem da criança é a imagem da inocência, da singeleza. Não é essa precisamente  imagem que o Senhor nos propõe. Para os rabinos, a criança era a imagem de algo sem importância, à qual não se havia de prestar atenção alguma. Daí que o ‘tornar-se como crianças’, na boca de Jesus, é tornar-se pequeno, insignificante e admitir de boa vontade, algo assim como se fosse o mais natural, o que propriamente corresponde a ser tomado como não valendo nada: sem autoridade, sem direito, sem voz. Como é difícil para nosso orgulho tornar-nos verdadeiramente como crianças, no sentido evangélico! E no entanto, diz o Senhor, que desses, dos que não são como nós, é o Reino dos céus. E afirma que se nós quisermos entrar no Reino dos céus, teremos de ser completamente o contrário do que somos. Se o Reino dos céus é das crianças, não é porque elas sejam pessoas maiores, que mereçam o Reino por suas qualidades, seu talento, sua virtude, seu esforço; mas sim porque Deus se compraz nos humildes, nos que não são tomados em consideração pelos outros, nos marginalizados, nos desprezados, nos pobres, que não têm meios para defender-se” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de maio de 2024

(Tg 5,9-12;Sl 102[103]; Mc 10,1-12) 7ª Semana do Tempo Comum.

“Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher” Mc 10,2.

“No capítulo 10, Jesus transmite aos discípulos uma série de ensinamentos fundamentais. Um dos temas abrange o casamento, o divórcio e os filhos (10,2-16), e o outro tema se refere à riqueza, ao dominar e servir. A questão em todos esses assuntos é uma coisa só: sendo cristãos, como e com que atitude interior devemos seguir Jesus? A perícope do divórcio amedronta muitos casais, sobretudo no meio católico. Os divorciados e recasados sofrem com esse texto. A Igreja católica muitas vezes o interpretou de uma maneira que faz essas pessoas se sentirem excluídas por Deus. Para elas ressoa nas palavras de Jesus a severidade de certos representantes da Igreja. Mas qual é o verdadeiro sentido dessas palavras de Jesus? Os fariseus querem armar uma cilada contra Jesus. Por isso sua pergunta é apenas um pretexto para pô-lo à prova. Em Israel era considerado líquido e certo que um homem pode repudiar sua mulher. Discutia-se apenas a questão do motivo justo: se era preciso tratar-se de um caso de infidelidade ou se já bastava uma refeição mal preparada. Em Mateus, os fariseus perguntaram se era ‘permitido repudiar sua mulher por qualquer motivo” (Mt 19,3). Agora, em Marcos é questionada a própria possibilidade do divórcio. Jesus não responde à pergunta de seus adversários. Como ele não aceita esse nível de questionamento, prefere responder com outra pergunta: ‘Que prescreveu Moisés?’ (10,3). Assim ele remete à Sagrada Escritura e seus mandamentos. Os fariseus mencionam duas vezes a permissão. Esperam tirar o maior proveito possível para si mesmos. Eles não encaram a situação do casamento, querem apenas justificar seu comportamento. Em vez de questionar-se, procuram um motivo de autojustificação. Jesus não fala em permissão, fala em mandamento. Trata-se da vontade de Deus. E essa chega a um nível mais profundo que o mandamento” (Anselm Grüm – Jesus, Caminho para a liberdade – Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Quinta, 23 de maio de 2024

(Tg 5,1-6; Sl 48[49]; Mc 9,41-50) 7ª Semana do Tempo Comum.

“Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés do que,

tendo os dois, ser jogado no inferno” Mc 9,45.

“A linguagem de Jesus parece-nos dura, tal como aos ouvintes de há dois mil anos. Continua, todavia, a proclamar a necessidade de tomar decisões radicais e claras. Nós que acolhemos a Sua mensagem e nos dedicamos à causa do seu Reino devemos estar conscientes da opção que fizemos. A nossa condição de operários do Reino faz-nos comportar como pessoas pequenas e indefesas perante os outros, os quais são livres de nos acolherem ou de nos perseguirem. Claro, a responsabilidade dessas pessoas será avaliada por Deus, não por nós. Não podemos pretender que os outros se tornem melhores para facilitarem a nossa vida: nós temos de fazer somente um trabalho lúcido e sem ilusões  sobre nós mesmos. É melhor privar-nos de uma mão ou de um pé ou de um olho, que abrandam ou impedem o nosso testemunho evangélico, do que perdermos a liberdade de doar toda a nossa vida e o nosso tempo às exigências de Deus e à construção de relações de paz e de entendimento entre os homens. Então seremos sal, não só para nós mesmos, mas para todos. Demonstraremos que a vida tem sabor se for vivida através de opções conscientes, mesmo que exijam esforço” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de I a XVII] – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 22 de maio de 2024

(Tg 4,13-17; Sl 48[49]; Mc 9,38-40) 7ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não é contra nós é a nosso favor” Mc 9,40.

“Os discípulos eram ciosos de sua condição de participantes privilegiados da missão de Jesus. Quiçá tivessem a tentação de formar um grupinho seleto e fechado para novas adesões. Daí sua irritação quando viram alguém expulsar demônios, em nome de Jesus, sem pertencer explicitamente, ao grupo dos doze. Jesus tenta alagar-lhes os horizontes e fazê-los perceber que existem agentes do Reino, onde menos se espera. Quem realmente realiza uma ação taumatúrgica, invocando o nome de Jesus, está proclamando, abertamente, sua condição de discípulo, mesmo não fazendo parte do grupo dos doze. O discipulado, portanto, estende-se para além do grupinho inicial, num raio muito mais amplo. De certo modo, o grupo primitivo devia funcionar como semente de um movimento tendente a crescer e a se tornar incalculável. O protesto dos discípulos, em última análise, era motivado pela incapacidade de manter, sob controle, a propagação dos benefícios do Reino. Jesus não se opunha que a coisa fosse assim. Antes, é assim mesmo que deveria ser. O surgimento de novos discípulos e dispensadores do Reino não podia ser motivo de tristeza e preocupação. Quanto mais se multiplicasse o número deles, tanto melhor. Assim, o Reino poderia chegar a um número sempre maior de pessoas. – Senhor Jesus, possa eu alegrar-me com o crescimento do número de seus discípulos, pelos quais o Reino vai espalhando seus frutos na história humana (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 21 de maio de 2024

(Tg 4,1-10; Sl 54[55]; Mc 9,30-37) 7ª Semana do Tempo Comum.

“Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior” Mc 9,30-37

“A atitude dos discípulos de Cristo costuma repetir-se com não pouca frequência em nossa vida. Os discípulos queriam ser os primeiros. Porém, Jesus ensina-nos uma nova norma de valorização: a primazia da Igreja é ocupada pelo serviço. Na escala de valores do mundo encontramos invertidos estes termos. A Igreja é servidora do mundo; o mundo não existe para a Igreja, mas a Igreja é que existe para o mundo, isto é, o mundo não existe para servir à Igreja, como se ele fosse o pedestal para a vitória dela, mas a Igreja existe para servir o mundo, elevando-o a um novo sentido da vida e à construção de um mundo melhor, onde reinem a justiça, a verdade, o amor e a paz. A Igreja somos nós. Consequentemente, devemos recuperar a consciência de que cada um de nós deve ser autêntico servidor dos outros; assim como é o Mestre. Que quer dizer servir os outros? Quer dizer: ser-lhes útil, desvelar-se por eles, estar à sua disposição, imolar nossas apetências e tranquilidade em favor das apetências e tranquilidades dos outros. Isto é penoso, é difícil; mas isto é o que constitui a finalidade da vinda de Cristo: ‘O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir’ (Marcos 10,45)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de maio de 2024

(Gn 3,9-15.20; Sl 86[87]; Jo 19,25-34) Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja.

“Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena”

Jo 19,25.

“Maria não estava com Jesus no Domingo de Ramos. Não ouviu os ‘Hosanas!’, nem sentiu a excitação ardente de sua aclamação pública e da entrada triunfal em Jerusalém. O retrato final de Maria nos Evangelhos é a cena terrível do Calvário. Lá está ela, corajosamente aos pés da cruz, vendo seu filho morrer lenta e dolorosamente. E, quando o céu escurece, ela segura o corpo morto do filho em seus braços trêmulos. Michelangelo esculpiu no mármore um belo tributo a essa jovem mulher. Parece um tributo a seu ‘sim’ à vontade de Deus. Na estátua, Maria segura Jesus em seus braços, olhando seu corpo dilacerado com a ternura e a amorosa compaixão de mãe. Michelangelo chamou sua estátua de ‘Pietà’. Maria é a mulher que, com todo o seu coração, queria apenas a vontade de Deus; que disse ‘sim’, mas sem compreender tudo quanto ele envolvia. Mas confiava em Deus, confiava em seu amor por ela, confiava em sua sabedoria e suas formas de agir, mesmo quando não compreendia. O resumo feito por Michelangelo de sua incrível façanha é uma única palavra: PIETÀ. Ela disse ‘sim’ à vontade de Deus e foi leal até o fim. O cristão que realmente assumiu a ideia de Cristo que o Senhor nunca falou realmente de sucesso, mas apenas de ‘lealdade’, de pietà. Quando vemos nossa vida cristã de acordo com a perspectiva do Evangelho, a aceitação da vontade de Deus é a única verdadeira eterna coroa de louros. Que um anjo possa escrever em nosso túmulo, no seu e no meu, o epitáfio apropriado para sintetizar nossa vida nessa terra: PIETÀ” (Jonh Powell, sj – As Estações do Coração – Loyola).   

Pe. João Bosco Vieira Leite

            

Pentecostes - Missa do Dia

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3-7.12-13; Jo 20,19-23).

1. Pentecostes era uma festa agrícola, a oferta dos primeiros feixes de uma nova colheita. Celebrada sete semanas depois da Páscoa, era chamada festa das Semanas. Para os cristãos, nessa data se dá a manifestação do Espírito Santo prometido por Jesus.

2. Para ‘iluminar’ nossa compressão desse evento temos a narrativa da 1ª leitura. Num primeiro momento temos os sinais externos, perceptíveis: um barulho como de uma forte ventania e depois veem como labaredas de fogo de que se repartem e pousam sobre eles.

3. E todos ficaram cheios do Espírito Santo. Com entender essa afirmação? Raniero Cantalamessa diz que eles fizeram a experiência arrebatadora do amor de Deus, se sentiram inundados desse amor, como um oceano. Ele se baseia na afirmação de Paulo que afirma que o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito que nos foi dado’ (Rm 5,5). Também na experiência partilhada por aqueles que se sentiram amados por Deus de maneira terna e infinita.

4. Mas o fato mais popular e externo dessa novidade é esse falar em línguas. Esse fato já havia sido profetizado por Joel 3, esse milagre é interpretado como acontecimento escatológico: o tempo final chegou. Há quem interprete essa compreensão comum como manifestação da caridade, do amor, que une todas as línguas.

5. Para os fiéis de Cristo, significa o cumprimento da sua Palavra, a manifestação do Espírito. Espírito significa sopro, o sopro vivificante de Deus, do qual dispõe também o Cristo Ressuscitado.

6. O Espírito de Cristo passa como um vendaval ao ouvido, como fogo aos olhos, e permanece na transformação do ‘pequeno rebanho’ em Igreja missionária – também hoje. A Igreja de Cristo se reconhece pelo espaço que ela dá ao Espírito, que a ‘empodera’ para a proclamação da mensagem.

7. A 2ª leitura fala da percepção do Apóstolo sobre a diversidade de dons e carismas que enriquece a comunidade cristã, fruto desse mesmo Espírito que clama pela consciência da unidade: um só corpo, um só batismo, uma só fé. Pois único é o Espírito.

8. Depois de cantarmos na sequência a ação renovadora do Espírito, temos no Evangelho a realização da promessa de Jesus que sopra sobre seus apóstolos o Espírito Santo. E esse dom do Espírito, segundo o relato de João, serve, antes de mais nada, para perdoar e, assim, tirar o pecado mundo. Uma continuação da obra salvadora de Jesus.

9. O mundo é renovado conforme a obra de Cristo, que nós levamos adiante impulsionados por seu Espírito. Nesse sentido, celebramos hoje a Igreja que nasceu do lado aberto do Salvador e manifestou sua missão no dia de Pentecostes. Mais do que uma organização, ela nasce do carisma que Deus infunde no coração e nos lábios.

10. Renovação Carismática não significa uma avalanche de fenômenos chamativos, mas o Espírito do perdão e da unidade, que ganha força decisiva na Igreja para renovar o mundo, suscitando a criatividade dos fiéis para dar conta dessa missão.

11. Por duas vezes o Senhor lhes deseja a paz. Trata-se daquela paz que só Jesus pode dar e o perdão serve para estabelecer essa paz, à qual o mundo muitas vezes resiste. O mundo precisa de conversão e, por isso, de conscientização de seu pecado, da sua injustiça, de sua violência.

12. Não é uma paz ‘pacífica’, mas o resultado da conversão pessoal e social, consumada pelo perdão. Tomemos consciência dessa imensa riqueza do Pentecostes, que é a nossa missão no mundo, animada pelo Espírito Santo, o ‘sopro de Deus’.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de maio de 2024

(At 28,16-20.30-31; Sl 10[11]; Jo 21,20-25) 7ª Semana da Páscoa.

“Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: ‘Senhor, o que vai ser deste?’ Jesus respondeu:

‘Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, o que te importa isso? Tu, segue-me!’” Jo 21,21-22.

“Uma antiga tradição reconhece João Evangelista como o discípulo amado. Também o relaciona com o discípulo citada nessa passagem. Daí a ideia de que João, o discípulo amado, não morreria até a volta de Jesus em sua glória. Há até uma devoção em torno de João, que não teria morrido, mas de certo modo ‘levado’ ao céu... A crítica literária questiona se João é mesmo esse discípulo amado ao qual Jesus sempre se referia. Mesmo a autoria do Evangelho de João não corresponde ao discípulo com esse nome. E o próprio Evangelho, continuando o texto, esclarece que Jesus não disse que o discípulo não morreria, apenas disse ‘o que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha?’ Mas mais importante que isso é a distinção que Jesus faz daquele por quem Pedro pergunta e o papel que cabe a Pedro: ‘Tu, vem e me segue!’. Nosso papel é perguntar sobre o que será dos outros, sobre que papel terão, ou nosso papel consiste em assumir nossa vocação, nosso chamado, a seguir a Jesus? O caminho pessoal de realização e seguimento difere para cada um. Mesmo desafios parecidos representam graus de dificuldades diferentes para pessoas diferentes. Nosso papel é comunitário, sim, mas a adesão é pessoal. Da mesma forma, ‘até que eu venha’ não é uma referência temporal, até o dia e a hora em que eu retornar. Pois, em termos absolutos, Jesus nunca nos deixa. Sua volta ao Pai referencia que Deus é a origem e o fim de tudo. Todos nós tendemos e nos realizamos em Deus. Somente nos encontramos de verdade em Deus. O discípulo amado, como referência a cada um de nós, amados também por Jesus, permanecerá em seu amor, até que a comunhão seja plena, quando o amor será pleno. – Permanece conosco, Senhor, e ensina a todos que o Amor supera qualquer barreira, mesmo o tempo e a morte, de tal forma que tua entrega nos liberte de todo o pecado. Amém!” (Clauzemir Makximovitz – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).         

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Sexta, 17 de maio de 2024

(At 25,13-21; Sl 102[103]; Jo 21,15-19) 7ª Semana da Páscoa.

“E depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo’. Jesus disse: ‘apascenta os meus cordeiros’” Jo 21,15.

“Pouco antes de Jesus subir para o Pai, tem lugar esta comovedora cena, na qual a fé e o amor de Pedro ao Mestre são colocados à prova, da qual o apóstolo se sai bem. Pedro tinha negado o Mestre e tinha-o negado três vezes e em público; é verdade que Jesus tinha olhado para seu apóstolo com olhar de tão infinita bondade, que fez surgir em sua alma sentimentos de sincera contrição; as lágrimas derramadas por Pedro tinham-lhe alcançado o perdão absoluto de Jesus. Porém, para que o apóstolo não abrigasse nenhuma dúvida do perdão e a recordação do pecado cometido não o torturasse mais, Jesus quis que publicamente lhe confessasse seu amor também três vezes. Em suas respostas, Pedro está mudado; não presume e se entristece ao chegar à pergunta de número três, carregada de alusões dolorosas. É este um exame de amor, porque Jesus Cristo examinará os seus nesta matéria: o amor; o cristianismo é amor; amar é dar-se, mas dar-se como se deu Cristo, sem medida, pois o amor não tem limites nem compassos de espera. Pedro respondeu com generosidade e humildade; estava disposto a tudo por Cristo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 16 de maio de 2024

(At 22,30;23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 7ª Semana da Páscoa.

“Eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo reconheça que tu me enviaste e os amaste como amaste a mim” Jo 17,23.

“Em 17,23 Jesus pede que cheguemos à unidade perfeita. Reaparece aí a palavra ‘telos’, que já teve um papel importante no lava-pés e o terá também na crucificação. Na unidade dos cristãos cumpre-se o amor com que Jesus nos amou até a perfeição no lava-pés e em sua morte de cruz. Para João, a morte de Jesus não pertence ao passado, é uma imagem que os cristãos devem sempre ter presente, para que possam participar do amor perfeito de Jesus. O amor de Jesus só alcança a perfeição quando os cristãos estão transformados a ponto de estarem prontos para a unidade. Revela-se nesta visão o que João entende por salvação: não é expiação nem sacrifício, e sim o amor perfeito em que os cristãos devem continuamente aprofundar-se em suas meditações, para que nele experimentem a unidade, a paz e a glória. O evangelho de João, sendo meditação das palavras e ações, já é uma maneira de experimentar a salvação. O evangelho de João dispensa os apelos morais, pois confia na força da palavra de Jesus. Meditando as palavras de Jesus, já passamos deste mundo para de Deus. A palavra de Jesus cria uma nova realidade. Meditando experimentamos a nós próprio como novos, transformados, mergulhados no amor de Deus. A palavra de Jesus nos tira desde agora do mundo da morte. A morte já não tem poder sobre nós. Isso fica claro no pedido de Jesus: ‘Pai, quero que, lá onde eu estiver, os que me deste estejam também comigo, e que contemplem a glória que me deste desde antes da fundação do mundo’ (17,24). Contemplando as palavras de Jesus participamos desde já da glória de Deus. Mas é na nossa morte que se manifestará o que já é realidade agora. A morte perdeu a sua substância. Ela já não poderá destruir-nos. Ela só revelará é que já é a nossa realidade agora: que estão mergulhados no amor perfeito de Deus. É esse o auge da mensagem libertadora e salvadora do evangelho de João. A morte perdeu seu poder. Ela se transformou em passagem definitiva para a glória de Deus. Ao mesmo tempo, a morte de Jesus, que nos amou até a perfeição, é também um desafio para nós cristãos, pois devemos entender a nossa morte como uma entrega por amor, não nos agarrando a nós próprios, e sim entregando-nos, à maneira de Jesus, pelos nossos amigos” (Anselm Grüm – Jesus, porta para vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 15 de maio de 2024

(At 20,28-38; Sl 67[68]; Jo 17,11-19) 7ª Semana da Páscoa.

“Agora entrego-vos a Deus e à mensagem de sua graça, que tem poder para edificar e dar a herança a todos os que foram santificados” At 20,32.

“Paulo dirige aos anciãos da comunidade de Éfeso uma forte exortação para que cumpram fielmente o seu ministério. Recorda aos responsáveis da comunidade o desinteresse que deve acompanhar o exercício da sua função: trabalham como ele fez para ficarem livres de anunciar o Evangelho e ajudar os pobres (vv. 34-35). A fidelidade ao Evangelho e ajudar os pobres (vv. 34-35). A fidelidade ao Evangelho e o desinteresse escrupuloso são a melhor defesa dos pastores da Igreja contra todas as intrigas dos que perturbam (vv. 29-31). [Compreender a Palavra:] O discurso dirigido aos responsáveis da comunidade de Éfeso, chamados ora ‘anciãos’ (At 20,17), ora ‘vigilantes’ (v. 28). O primeiro termo ‘anciãos’ sublinha a dignidade dos mesmos; o segundo, ‘vigilantes’, sublinha sobretudo a função. A missão de ambos é o de ‘apascentar’ a Igreja de Deus (v. 28), verbo que indica todas as funções diretivas necessárias para vida da comunidade. É significativo o fato de Paulo sentir a necessidade de chamar a atenção, duas vezes, para a ‘vigilância’ (vv. 28.31) diante dos perigos que se perfilam no horizonte. Perigos que provêm do exterior (‘Hão de introduzir-se em ter vós’: v. 29) e do interior da própria comunidade (‘De entre vós mesmo se hão de erguer homens’: v. 30). Para definir a missão dos responsáveis, o Apóstolo recorda que a missão vem do Espírito (‘O Espírito vos constituiu’: v. 28) e consiste em apascentar a Igreja de Deus (isto é, do Pai) adquirida com o sangue de Cristo. A afirmação ‘O Espírito vos constituiu’ não supõe uma intervenção extraordinária do Espírito, nem algum acontecimento carismático; antes, deve ser entendida à luz da ação de Paulo e de Barnabé que ‘estabeleceram anciãos em cada Igreja e depois de terem orações acompanhadas de jejum, encomendaram-nos ao Senhor’ (cf. At 14,23)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 14 de maio de 2024

(At 1,15-17.20-26; Sl 112[113]; Jo 15,9-17) São Matias, apóstolo.

“Então tiraram a sorte entre os dois. A sorte caiu em Matias,

o qual foi juntado ao número dos onze apóstolos” At 1,26.

“Para concluir, queremos também lembrar aquele que depois da Páscoa foi escolhido para ocupar o lugar do traidor. Na Igreja de Jerusalém foram propostos dois à comunidade e, em seguida, eleitos por sorteio: ‘José, chamado Bársabas e apelidado o Justo, e também Matias’ (At 1,23). Este último foi eleito, de modo que ‘foi juntado ao número dos onze apóstolos’ (At 1,26). Não sabemos mais nada dele, exceto que testemunhou toda a vida terrena de Jesus (cf. At 1,21-22), permanecendo fiel a Ele até o final. À grandeza desta sua fidelidade adiciona-se o chamado divino para assumir o lugar de Judas, para compensar a sua traição. Extraímos disto uma última lição: embora na Igreja não faltem cristãos indignos e traidores, a cada um de nós nos corresponde compensar o mal realizado por eles com o testemunho isento de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 13 de maio de 2024

(At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29-33) 7ª Semana do Tempo Pascal.

“Eis que vem a hora – e já chegou – em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis só.

Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo” Jo 16,32.

“Os discípulos fizeram uma longa caminhada de fé, durante a qual foram percebendo as exigências do seguimento de Jesus. Mas, a assimilação prática destas exigências foi acontecendo paulatinamente, estando para concluir a etapa terrena de sua missão, Jesus estava convencido de que seus discípulos não seriam capazes de manter a fidelidade diante da provação que se avizinhava. Ele bem sabia que haveriam de abandoná-lo. Esta experiência dos primeiros discípulos serve de alerta para quem pretende pôr-se no seguimento do Senhor. É impossível descartar a eventualidade de ser infiel à própria fé, de modo especial em tempos de provação. Aí a certeza fica sujeita à dúvida, a fortaleza da fé pode ser abalada, e a adesão ao Senhor ser posta em xeque. Jesus alertou seus discípulos a terem uma confiança inabalável nele, uma vez que o mundo fora vencido. Confiar é entregar-se totalmente a Jesus e deixar-se guiar por ele, mesmo faltando certezas. É renunciar aos próprios juízos para pensar com Jesus e como Jesus. É ter coragem de caminhar na escuridão, com a pequena luz oferecida pelo Senhor. Este caminho indicado por Jesus poderá precaver o discípulo do risco da queda. Em todo caso, é imprevidente quem confia nas próprias forças e capacidades, prescindindo do auxílio divino. A queda, nesse caso, será inevitável. – Senhor Jesus, livra-me da pretensão de caminhar por minha própria conta. Que eu me deixe sempre guiar por ti (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Ascensão do Senhor – Ano B

(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20)*

1. A narrativa dos Atos dos Apóstolos e do Evangelho se complementam de alguma forma com seus vários elementos. Gostaria de tomar para nossa reflexão a pergunta narrada nos Atos dos Apóstolos. Desta vez ela é dirigida a todos nós: “Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?”.

2. Na resposta a esta pergunta está contida a verdade fundamental sobre a vida e sobre o destino do ser humano. A pergunta em questão refere-se a duas atitudes relacionadas com as suas realidades, nas quais está inscrita a vida humana: a terrena e a celeste. Primeiro, a realidade terrena: “Por que ficais aqui?” Por que estais na terra?

3. Respondemos: estamos na Terra porque o Criador nos colocou como coroamento da Criação. Criado a sua imagem e semelhança, concedeu-lhe a dignidade de filho de Deus e a imortalidade. Mas sabemos que o homem se perdeu, abusou do dom da liberdade e disse ‘não’ a Deus condenando-se desta forma a uma existência na qual entram o mal, o pecado, o sofrimento e a morte.

4. Mas também sabemos que o próprio Deus não se resignou a essa situação e entrou diretamente na história humana, a qual se tornou história da salvação. Estamos na Terra, estamos radicados nela, dela crescemos.

5. Aqui praticamos o bem nos vastos campos da existência cotidiana, no âmbito da esfera material, e também na espiritual: nas relações recíprocas, na edificação da comunidade humana, na cultura.

6. Aqui experimentamos a fadiga do viandante a caminho rumo à meta pelas estradas complicadas, entre hesitações, tensões, incertezas, mas também na profunda consciência que mais cedo o mais tarde este caminho chegará ao fim. E é então que nasce a reflexão: só isto? A Terra na qual ‘nos encontramos’ é o nosso destino definitivo?

7. Nesse contexto é preciso deter-se na segunda parte do interrogativo contido no Livro dos Atos. Tendo sido Jesus elevado ao céu, estavam eles fixando o céu, porque acompanhavam com o olhar a Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, que era elevado ao céu.

8. Não sabemos se se aperceberam naquele momento do fato de que precisamente diante deles se estava a abrir um horizonte magnífico, infinito, o ponto de chegada definitivo da peregrinação terrena da humanidade. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes, iluminados pelo Espírito Santo.

9. Contudo, para nós aquele acontecimento de há dois mil anos é muito claro. Somos chamados, permanecendo na Terra, a fixar o Céu, a orientar a atenção, o pensamento e o coração para o Mistério inefável de Deus.

10. Somos chamados a olhar na direção da realidade divina, para a qual o ser humano está orientado desde a criação. Ali está contido o sentido definitivo da nossa vida.

11. Olhando da Terra para o Céu, fixemos Aquele que desde dois mil anos é seguido pelas gerações que vivem e se sucedem nessa nossa terra, reencontrando n’Ele o sentido definitivo da nossa existência e nos comprometendo na consolidação do seu Reino na Terra: o Reino do Bem, da justiça, da solidariedade e da misericórdia até que Ele volte. Amém.            

* Reflexão com base em texto de Bento XVI. 

 

Pe. João Bosco Vieira Leite