26º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ez 18,25-28; Sl 24[25]; Fl 2,1-11; Mt 21,28-32)

1. Mais uma parábola nos é dirigida. Objetivamente, o filho que diz ‘sim’, mas não vai, representa aqueles que conheciam Deus e seguiam sua Lei, mas quando se tratava de acolher Jesus que era ‘a plenitude da Lei’, não o aceitaram.

2. Aquele que disse ‘não’, mas revê sua atitude representa os que viveram fora dessa Lei e da vontade de Deus, mas diante de Jesus foram capazes de rever sua atitude. Daí a conclusão de Jesus diante dos sacerdotes e anciãos do povo: os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus.

3. Como podemos entender esse evangelho de maneira direta e prática? Para Deus, palavras e belas promessas contam pouco se não vem acompanhada da ação concreta. Entre o dizer e o fazer há um oceano. Não basta dizer: Senhor, Senhor, é preciso fazer a vontade de Deus para chegar ao Reino dos céus.

4. O que Deus espera de nós é o que esperamos uns dos outros na vida. Os pais esperam dos próprios filhos uma obediência real, não só verbal; uma incoerência particularmente terrível é a do cristão entre aquilo que professa e promete na igreja, ou em sua oração pessoal, e aquilo que vive e faz fora, em casa ou no trabalho. (“não adianta ir à igreja, rezar...”)

5. O mundo nos julga mais pelos fatos do que pelas palavras. ‘É melhor ser cristão sem dizê-lo, do que dizê-lo, sem sê-lo’, dizia o mártir Santo Inácio de Antioquia. Mas mesmo aqui há quem se aproveite de tal situação para dizer que os que vão a igreja são piores que os outros, justificando de não frequentar igrejas ou mesmo rezar...

6. Tal critério é muito discutível. Bem e mau são estabelecidos só em base aos seus gostos e interesses. Sem levar em conta que quem reza e se esforça para viver o Evangelho é um ser humano que também tem seus limites e suas lutas. A incoerência não é uma desculpa para ninguém, cada um responde a Deus, em própria consciência por aquilo que faz, não por aquilo que faz os outros.

7. Voltando à conclusão apresentada por Jesus, é preciso tomar certo cuidado para não criar uma espécie de aura evangélica em torno da prostituição, idealizando-a como algo ‘bom’. A literatura é plena de prostitutas ‘boas’. Quem conhece ‘La Traviata’ de Verdi ou ‘Crime e Castigo’ de Dostoievsky sabe do que estou falando. Ou mesmo o filme “Uma linda mulher”, com Julia Robert.

8. Pode se fazer uma certa confusão com o dizer de Jesus. Ele está usando um caso limite, para dizer ‘até mesmo as prostitutas lhes precederão...’. A prostituição é vista aqui em sua seriedade e tomada como termo de comparação para estabelecer a gravidade do pecado de quem rejeita obstinadamente a verdade. 

9. Ele não está idealizando nem as prostitutas e muito menos os publicanos, os toma como referência porque ambas categorias colocam o dinheiro acima de tudo em suas vidas. Seria trágico se pensássemos que o Evangelho fosse conivente com tal comportamento. Jesus tinha muito respeito pelas mulheres e sofria pelo que elas podiam se tornar.

10. O que faz Jesus usar a prostituta como exemplo não é o seu modo de viver, mas sua capacidade de mudar e de colocar a serviço do bem sua capacidade de amar. Como Maria Madalena, que se supõe ter sido uma prostituta, que se converte e segue Jesus até a cruz e torna-se a primeira testemunha da ressurreição.

11. O Evangelho não quer promover campanha moralista contra elas, ou mesmo brincar com tal fenômeno que em nossos tempos se expandiu em outras formas para além daquelas que vivem condenadas ao relento. Ela acontece hoje de forma tranquila por trás de uma máquina fotográfica ou de uma câmara, sob a luz de refletores. Já nem chamamos mais de pornografia o excesso da publicidade que vende corpos e suscita desejos...

12. O que nos interessa aqui é recordar esse olhar, agir e falar de Cristo que suscita em mulheres e homens a esperança, de que ninguém está constrito a fatalidade de permanecer aquilo que se é. Ele provoca, como em muitos momentos do evangelho, uma revolução silenciosa, capaz de mudar o rumo de uma vida. É possível sempre repensar a resposta. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite