(Is 55,6-9; Sl 144[145]; Fl 1,20-24.27; Mt 20,1-16)
1. Acompanhamos a parábola do
patrão que contrata operários em horas diversas, mas ao fim do dia paga a todos
o mesmo valor. E aqui já começa a dificuldade do leitor de entende-la e as
perguntas brotam: é aceitável o modo de proceder do dono da vinha? Não estaria
sendo injusto? Os sindicalistas certamente não aprovariam tal atitude.
2. A dificuldade nasce de um
equívoco: não prestamos atenção a introdução: Jesus está falando do Reino dos
Céus, da possibilidade de fazer parte da salvação por Ele trazida e cujas obras
geram tal recompensa. É esse o tema que está no centro da nossa narrativa.
3. Também a parábola discute a
posição entre judeus e pagãos, ou dos justos e dos pecadores com relação a
salvação anunciada por Jesus. É como se os pecadores, que diante da pregação de
Jesus se aproximaram dessa realidade, fossem considerados cidadãos de 2ª
categoria.
4. Os pecadores mostraram uma
abertura maior ao Evangelho do que os ditos ‘justos’ (fariseus e escribas) e
assim entendemos a conclusão da parábola: ‘Os últimos serão os primeiros e os
primeiros serão os últimos’. Uma vez abraçada a fé, se percebe a diversificação
de posições.
5. É preciso que tomemos o
cuidado de não interpretarmos de maneira superficial julgando que é idêntica a
sorte de quem serviu a Deus por toda uma vida ‘suportando o cansaço e o calor
do dia’, como diz a parábola, de quem lhe oferece as migalhas de uma
existência, de qualquer modo, num último momento.
6. Se Jesus nos descrevesse o
que aconteceu no dia seguinte quando os operários já conheciam o caminho para a
vinha, certamente a conclusão seria bem diferente e a recompensa não seria a
mesma.
7. Isto posto, podemos voltar ao
ensinamento principal dessa parábola: Deus chama a todos e chama a toda hora. E
isso não diz respeito tão somente às vocações religiosas e sacerdotais, mas se
estende a todos. O mais importante é o chamado, não tanto a recompensa.
8. Um leigo, em sua vocação
pessoal também pode se colocar a serviço da Igreja e da evangelização, não só
naquilo que chamamos engajamento pastoral, mas particularmente na sua inserção
no mundo, nas realidades temporais. Ele deve santificar-se no ordinário de sua
vida profissional e social, ensinava São João Paulo II, na sua exortação sobre
a ‘vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo’ (Christifideles laici).
9. Há um elemento marginal nessa
parábola que se faz presente de um modo mais acentuado nos últimos anos que é a
questão do desemprego. Nas diversas horas que o patrão sai ele sempre encontra
‘desocupados’. Toda a parábola é inspirada, mesmo na linguagem, na vida e nos
problemas decorrentes do desemprego.
10. ‘Porque ninguém nos
contratou’ pode ser a resposta carregada de tristeza de milhões de
desempregados. Parece que essa realidade não escapava ao olhar de Jesus em seu
tempo. Suas histórias estão carregadas de vida e suas problemáticas.
11. Isso nos leva a olhar de
outra maneira o gesto do patrão que pagando o mesmo a todos, reconhece que
independente da hora que chegaram, todos têm as mesmas necessidades de
sobrevivência. A questão aqui não é o mérito, mas a necessidade. Pensemos em
quantos desempregados têm uma família para manter, ou mesmo a um jovem que
busca uma chance de entrar no mercado de trabalho.
12. Um emprego seguro se tornou
um dos bens mais preciosos. Há quem tenha vários empregos por necessidade,
outros por ganância. São Francisco de Assis, que vivia de esmolas, não aceitava
mais que o necessário, para não ‘tornar-se um ladrão de esmolas’, dizia ele.
13. Sei que essas poucas
palavras não mudam a situação dramática de milhões de desempregados. E queremos
rezar por todos eles nessa manhã, que possam ouvir também o convite a
trabalharem, a se ocuparem, com o devido ganho. E não esqueçamos que somos
todos chamados a trabalhar na vinha do Senhor, pela recompensa eterna.
Pe. João Bosco Vieira Leite