(Jr 1,1.4-10; Sl 70[71]; Mt 13,1-9)
16ª Semana do Tempo Comum.
“Outras sementes,
porém, caíram em terra boa e produziram à base de cem,
de sessenta e de
trinta frutos por semente” Mt 13,8.
“Nas parábolas
ensina-se alguma verdade de ordem sobrenatural. Em toda parábola existe uma
imagem material e um ensinamento espiritual, fundamentado em alguma semelhança
que se encontra entre uma e outra. Frequentemente, alguns detalhes meramente
descritivos, que se encontram na imagem ou relato, são elementos literários sem
maior significação para o ensinamento fundamental que se pretende expor. Como o
povo simples conhecia bem as tarefas do campo, Jesus empregava-as como
comparações, para tornar mais facilmente inteligíveis as verdades espirituais.
Nesta parábola do semeador, Jesus diz que parte da semente, lançada aos
punhados sobre o campo, foi comida pelos pássaros.... Como Jesus esclarece que
a semente é a palavra de Deus, devemos pensar que em alguns cristãos, em cujos
corações cai a semente da palavra divina, não chega a soltar raízes, porque os
pássaros das preocupações materiais não permitem ao cristão a tranquilidade
suficiente para poder meditá-la. Outras sementes foram pisadas pelos
caminhantes... Quando no coração humano existe muito ir e vir, por coisas que
distraem, a palavra de Deus não encontra o ambiente que sua fecundação exige. A
terra pedregosa impede que a semente possa deitar raízes fortes e termina por
ser queimada pelo calor do sol. Os cardos e os espinhos, que na Palestina
atingem a altura de cerca de um metro, afogam também a semente que cai próxima
deles; a palavra de Deus fica afogada pelos cardos e espinhos das paixões
humanas; é preciso ter a alma muito acima das tensões passionais, a fim de que
possa ser fecunda e eficiente. Porém, a semente, que caiu em terra fértil e
livre de empecilhos, deu fruto em maior ou menor abundância, conforme a preparação
da terra. Ou seja, com estas palavras o Senhor pretende descrever a atitude e a
disposição diferentes que se podem ter diante de sua doutrina, isto é, a
diversidade dos efeitos da palavra de Deus, segundo as disposições diferentes
com que é recebida. A sorte dos grãos de trigo que caem das mãos do semeador é
muito diversa, conforme o lugar onde caírem; e a eficácia da palavra de Deus
que cai em nossos corações dependerá de como seja aceita por nós. Por mais que
a palavra de Deus ou a palavra dos irmãos chegue até nós carregada de sentido e
de espiritualidade, se nós nos fecharmos com a couraça da suscetibilidade, do
orgulho enervante, que nos faz descobrir tudo que é mau e negativo, e fechar os
olhos a tudo que é bom e positivo, nada conseguirá em nós a própria palavra de
Deus, embora seja o próprio Jesus quem no-la diga. É preciso preparar a terra,
abrir nosso sulco, para que ele possa semear sua palavra e, portanto, é preciso
apresentar um espírito sensível a essa palavra” (Alfonso Milagro
– O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).
Pe. João Bosco Vieira Leite