(Gn 18,1-10; Sl 14[15]; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42)
1. Não é difícil reconhecer-nos em
Marta que se preocupa e se agita por muitas coisas. Quem sabe, podemos até rir
de Maria, que, segundo nós, escolheu a parte mais cômoda. Mas segundo Jesus,
aquela é a parte melhor. Ou seja, a parte da escuta, da contemplação, da
adoração, do maravilhar-se.
2. A vida cristã vive cotidianamente
esse paradoxo, duas exigências, a princípio, contraditórias: antecipar-se
naquilo que é necessário e ao mesmo tempo ser sinal de que é preciso ir
devagar. Mas ao nosso redor, o mundo segue sempre mais veloz em muitas áreas.
3. Não é difícil perceber que tudo isso
nem sempre nos faz melhores ou dá qualidade à nossa existência. É quase
impossível não lembrar a crítica de Chaplin no seu filme ‘Tempos Modernos’, de
1936. Tão antigo e tão atual.
4. Na pressa em que muitas vezes
vivemos, algumas coisas vão esquecidas. Correr, nem sempre quer dizer crescer.
O verdadeiro progresso não consiste em andar mais rápido, mas no
desenvolvimento harmonioso da pessoa, entre as pessoas e da pessoa com a natureza.
5. Às vezes a pressa é tanta que
deixamos para trás o nosso espírito, ou seja, corremos o risco de perder a nós
mesmos, a nossa identidade. Nos tornamos incapazes de silenciar, de
maravilhar-se, de apreciar, de rezar. Quando sufocamos o nosso espírito isso
gera um desequilíbrio que tentamos compensar no álcool e outras ‘drogas’.
6. O aumento do conhecimento só é útil
quando vem acompanhado de um aumento de consciência. O aumento do poder se
torna um perigo quando não vem acompanhado de sabedoria. O progresso técnico
pode se traduzir num gritante falimento se não reencontra uma autêntica
dimensão humana.
7. Muitas coisas nos empobrecem. Por
isso vivemos uma crise de significado, sem nos darmos conta de que precisamos
saber reduzir o ritmo, parar. Mesmo essas viagens organizadas terminam por
transportar as pessoas quase como bagagens, no maior número de lugares
possíveis, na maior rapidez possível e por breve tempo.
8. Tudo muito programado, roubando o
tempo de parar, admirar, contemplar. Parece que a gente só consegue se admirar
com fatos de proporções gigantescas, e mesmo assim, esse fato excepcional vem
absorvido pela indiferença ou anulado pelo próximo acontecimento.
9. Sem a capacidade de admiração, desse
maravilha-se, de apreciação, o mundo vai perdendo seu encanto, a vida vai
perdendo seu sentido.
10. O Senhor nos pede ou nos lembra, de
parar um instante. A parte melhor não é aquela que multiplica coisas,
atividades. A parte melhor é aquela que se dá conta da Sua presença. E assim o
silêncio se torna mais eloquente que todas as palavras.
Pe. João Bosco Vieira Leite