17º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,20-32Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13)

1. O nosso evangelho é muito rico na temática da oração, em seus vários aspectos. Mas gostaria de tomar como ponto de partida essa parábola do amigo inoportuno. Ela se situa no campo da temática geral da oração confiante, insistente e até mesmo teimosa.

2. Se olharmos a parábola de modo simplório poderíamos deduzir que Deus é aquele que dorme, e eu, com a oração, vos despertá-lo, torna-lo consciente das minhas necessidades. Mas talvez seja o contrário. Na realidade Deus não dorme. É Ele que vem me despertar, através da oração, da sua Palavra.

3. Se não rezo, não desperto. Frequentemente vivemos num estado de torpor, de sonolência, de sono profundo ou sonambulismo. A vida vai de forma mecânica, no automático. As coisas, situações e pessoas vão passando sem que entremos em comunhão de fato com eles.

4. Um dos temas fundamentais da Bíblia e da primitiva pregação cristã é aquele do despertar. Despertar através da luz que atravessa a janela do nosso ser. Despertar através de Alguém que bate à nossa porta e pede para entrar.

5. Diz um autor que, com a civilização, passamos do homem da caverna para a caverna do homem. Tudo que o ameaçava de fora, os grandes perigos, o escuro da noite, a fome, a sede, os fantasmas, os demônios, tudo que o mantinha em uma insegurança fundamental, tudo se transfere para dentro e o ameaça a partir de dentro.

6. A oração me ilumina a partir de dentro. Faz luz nas minhas profundezas para que eu venha ao aberto, me torne livre do medo e do sono. A oração cristã é uma tomada de consciência de todo o ser. Rezar é despertar, prestar atenção, ser presente. Responder ‘sim’ Àquele que me desperta e me convida a caminhar.

7. O outro aspecto dessa parábola é Jesus nos dizer ‘pedi e recebereis’. Nos vem um desejo de contestar. Quantas vezes rezamos, insistimos em nosso pedido, segundo o conselho evangélico, sem obter nada. Deus permaneceu mudo. É difícil continuar quando o que pedimos vem continuamente não atendido.

8. Será que Deus se diverte mandando-nos de volta de mãos vazias? Como conciliar essa certeza de sermos atendidos com essa experiência cotidiana? A certeza de sermos atendidos se coloca num outro plano.

9. Existe a certeza que a nossa oração chega à Deus. Ele se faz inteiramente disponível. Escuta pacientemente. Basta rezar para que a comunicação se estabeleça. E Deus intervém, sem dúvida. Ainda que não seja sempre ‘quando’ e ‘como’ queremos.

10. Ele pode agir de duas maneiras: pode fazer desaparecer milagrosamente os obstáculos que atrapalham o nosso caminho, as situações que nos oprimem, as coisas desagradáveis que nos perturbam, a cruz que pesa sobre nosso ombro.

11. Ou mesmo pode deixar as coisas como estão (ao menos aparentemente). Mas Ele se coloca na estrada conosco, nessa mesma aventura, partilhando os mesmos riscos, as mesmas dificuldades. Parece que Deus prefere mais esta maneira. Com o seu silêncio nos diz: vai adiante, caminha e verás.

12. A estrada é a mesma com seus obstáculos, mas você não é mais o mesmo. A oração nos transforma e nos permite enfrentar a estrada de sempre não somente com a nossa força. Não lamente o fato de não ter obtido exatamente o que queria. Agradeça e reconheça a graça d’Aquele que se tornou nosso companheiro de viagem.   

 Pe. João Bosco Vieira Leite