15º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37)

1. “E quem é o meu próximo?” Pergunta o doutor da Lei. Uma questão que nos desafia. Ele não pergunta “quem é Deus?”. Em seu mundo invisível, Deus está bem, conta com suas orações, suas práticas e observâncias da Lei. Tem com Ele um ótimo relacionamento. Deus não é o problema.

2. O problema é aquele que se vê, se sente, se toca, se encontra, que nos embrulha o estômago. Que é mais difícil de amar. Os estudiosos da Lei seguiam discutindo sobre essa ideia do próximo entre um universalismo abstrato que dizia para amar a todos e um particularismo exclusivista e discriminatório (os da mesma nação, os bons, os justos...).

3. Se intuía que ‘amar a todos’ poderia levar a não amar a ninguém. E amar uma categoria, um grupo, excluía os outros, o que não seria amar de fato. Mas vejamos as duas posições em nosso texto.

4. O escriba quer uma definição de ‘próximo’, segura, precisa definitiva, para estar bem com sua consciência. Pensa primeiramente em si. Quer garantir a vida eterna, certamente com um mínimo de esforço e o máximo de certeza. Até onde devo ir? A que sou obrigado? Onde e quando termina o meu dever?

5. Jesus evita fornecer uma definição. Porque a definição sempre deixa de fora alguma coisa ou alguém. Prefere deixar a porta aberta. Mais que deixar a consciência tranquila, Jesus quer deixa-la inquieta, insatisfeita. Faz entender que o próximo não é um objeto, mas o encontro entre duas pessoas.

6. Não é alguém que se encontra pronto, definido por um ato de piedade ou por uma esmola oferecida, mas de fazer-se próximo, avizinhar-se, porque o próximo é sempre distante. Distante da estrada dos nossos interesses, simpatias, gostos, ideias, programas.

7. O próximo é distante: antipático, maldoso, prepotente, indiscreto. Ele não vem ao nosso encontro, não favorece o contato, não se faz amável. Ao contrário, parece que faz de tudo para tornar difícil o mandamento do amor. Ele é distante. Difícil de ver, de aceitar, de suportar.

8. Ele só se torna próximo, vizinho, se nos aproximarmos. Não o escolhemos, mas ele nos escolhe, nos provoca. Está para além de nossas definições, classificações, gostos e definições. Temos uma resistência terrível a vencer para aproximar-nos do ‘próximo’. Amar, pode se dizer, que é eliminar distâncias. Algo mais interior que físico.

9. A parábola de Jesus fala de encontro entre duas pessoas. Não se trata de um samaritano e um judeu. Duas pessoas que se desfazem de seus papéis, de suas máscaras, de suas raças. Somente duas pessoas. O samaritano não pergunta sobre sua religião, seu partido. Ele tem diante de si simplesmente alguém que se encontra em necessidade.

10. A aproximação é determinada deste simples contato: um ser humano. Sem adjetivo, sem títulos. Seu único título é a necessidade. Assim Jesus faz ver ao escriba que o seu ponto de vista estava errado. Ele partia de si mesmo, quando na realidade deveria partir do outro, das suas necessidades.

11. Para Jesus, o preceito de amar não tolera limites restritivos e seguranças. A questão não é: ‘até que ponto sou obrigado?’ Mas ‘que coisa espera de mim esse pobre?’ Do meu ponto de vista, levantam-se barreiras. Do ponto de vista do outro, horizontes sem limites se abrem.

12. O objetivo da parábola é ensinar-nos a justa perspectiva e não uma questão linguística. Ela nos leva a olhar, julgar, definir, partindo daquele ‘que caiu nas mãos dos assaltantes’. O problema principal não é a ‘vida eterna’, mas o sujeito ferido. Resolvendo esse, se resolve o outro. O amor é movimento e ação: vá e faça.

13. O escriba queria saber, e por fim encontra algo que ‘fazer’. Ou seja, o Cristo exige dele, de nós, um saber ‘diferente’. Um saber para amar.    

 Pe. João Bosco Vieira Leite