Quarta, 02 de fevereiro de 2022

(Ml 3,1-4; Sl 23[24]; Lc 2,22-40) 

Apresentação do Senhor.

“Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés,

Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, afim de apresenta-lo ao Senhor” Lc 2,22.

“Maria e José, levando o menino Jesus a Jerusalém para consagrá-lo ao Senhor, cumprem a Lei de Moisés. A Lei, porém, é apenas a transição para a graça de Deus que apareceu no Cristo. No meio do rito prescrito acontece o surpreendente: o encontro com Simeão e Ana. Lucas não teoriza sobre a relação entre a Lei e a Graça, expressa-a na sua narração. É uma história que já comoveu inúmeros corações. Orígenes redigiu sobre esse texto quatro sermões, de tanto que se sentiu fascinado por ele. Lucas não apenas nos conta sobre o mistério de Jesus cantado por Simeão no seu hino. Ele nos apresenta Simeão também como exemplo. Simeão é o modelo da pessoa que, ao ver-se perto da morte, pode se lembrar de sua vida com gratidão. Sim, ao morrer como cristãos poderemos confessar: ‘Agora, Senhor, podes deixar teu servo ir em paz, segundo a tua palavra, pois meus olhos viram a salvação que preparaste em face de todos os povos’ (Lc 2,29s). Após o hino, Lucas descreve o contraste no coração de Simeão, mas também no coração de todos nós. Jesus é para nós a paz e a luz, mas também uma espada, um sofrimento. Uma espada há de traspassar Maria. Ela participará do sofrimento de Jesus. Jesus traz salvação, mas também julgamento. Por ele revelam-se os pensamentos humanos. Ficará visível como os homens tentam se fechar diante de Deus. Nessa tensão entre luz e sofrimento, Lucas deixa claro que ele não escreve simplesmente uma narração, e sim uma tragédia, no sentido da tragédia grega, que também ela, graças a contrastes emocionais, pretendia atingir e purificar os sentimentos humanos. Ao lado de Simeão aparece Ana. Enquanto Simeão é descrito como um homem piedoso e justo, Ana é chamada de profetisa. A fé, como Lucas entende, nunca é representada somente pelo homem. Ao lado do homem sempre precisa ser colocada uma mulher, para expressar um outro aspecto da aceitação de Jesus pela fé. Lucas tinha descrito o homem como justo e piedoso. O caráter da mulher, Lucas o esclarece descrevendo a história de sua vida e o que ela fazia na época. É a arte do escritor, revezando descrição com narração. Ana passará por todas as fases da vida feminina: virgindade, vida de esposa e de viúva. É uma mulher orante. Ela fica constantemente no templo. E é uma profetisa. Enxerga profundamente. Ela percebe aquilo que Deus está fazendo em Jesus. Em Jesus, a salvação por que todos os piedosos israelitas ansiavam tornou-se realidade para todo o gênero humano. Todos serão libertados do seu cativeiro, libertados da sua alienação. E hão de tornar-se seres livres, assim como Deus os tinha idealizado ao criá-los. Depois do encontro com Simeão e Ana, Maria e José voltam com Jesus para a sua terra, para o dia-a-dia de Nazaré. ‘O menino crescia, cada vez mais forte e mais cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele’ (Lc 2,40)” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

  Pe. João Bosco Vieira Leite