(Ml 3,1-4; Sl 23[24]; Lc 2,22-40)
Apresentação do Senhor.
“Quando se
completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de
Moisés,
Maria e José levaram
Jesus a Jerusalém, afim de apresenta-lo ao Senhor” Lc 2,22.
“Maria e José,
levando o menino Jesus a Jerusalém para consagrá-lo ao Senhor, cumprem a Lei de
Moisés. A Lei, porém, é apenas a transição para a graça de Deus que apareceu no
Cristo. No meio do rito prescrito acontece o surpreendente: o encontro com
Simeão e Ana. Lucas não teoriza sobre a relação entre a Lei e a Graça,
expressa-a na sua narração. É uma história que já comoveu inúmeros corações.
Orígenes redigiu sobre esse texto quatro sermões, de tanto que se sentiu
fascinado por ele. Lucas não apenas nos conta sobre o mistério de Jesus cantado
por Simeão no seu hino. Ele nos apresenta Simeão também como exemplo. Simeão é
o modelo da pessoa que, ao ver-se perto da morte, pode se lembrar de sua vida
com gratidão. Sim, ao morrer como cristãos poderemos confessar: ‘Agora, Senhor,
podes deixar teu servo ir em paz, segundo a tua palavra, pois meus olhos viram
a salvação que preparaste em face de todos os povos’ (Lc 2,29s). Após o hino,
Lucas descreve o contraste no coração de Simeão, mas também no coração de todos
nós. Jesus é para nós a paz e a luz, mas também uma espada, um sofrimento. Uma
espada há de traspassar Maria. Ela participará do sofrimento de Jesus. Jesus
traz salvação, mas também julgamento. Por ele revelam-se os pensamentos
humanos. Ficará visível como os homens tentam se fechar diante de Deus. Nessa
tensão entre luz e sofrimento, Lucas deixa claro que ele não escreve
simplesmente uma narração, e sim uma tragédia, no sentido da tragédia grega,
que também ela, graças a contrastes emocionais, pretendia atingir e purificar
os sentimentos humanos. Ao lado de Simeão aparece Ana. Enquanto Simeão é
descrito como um homem piedoso e justo, Ana é chamada de profetisa. A fé, como
Lucas entende, nunca é representada somente pelo homem. Ao lado do homem sempre
precisa ser colocada uma mulher, para expressar um outro aspecto da aceitação
de Jesus pela fé. Lucas tinha descrito o homem como justo e piedoso. O caráter
da mulher, Lucas o esclarece descrevendo a história de sua vida e o que ela
fazia na época. É a arte do escritor, revezando descrição com narração. Ana
passará por todas as fases da vida feminina: virgindade, vida de esposa e de
viúva. É uma mulher orante. Ela fica constantemente no templo. E é uma
profetisa. Enxerga profundamente. Ela percebe aquilo que Deus está fazendo em
Jesus. Em Jesus, a salvação por que todos os piedosos israelitas ansiavam
tornou-se realidade para todo o gênero humano. Todos serão libertados do seu
cativeiro, libertados da sua alienação. E hão de tornar-se seres livres, assim
como Deus os tinha idealizado ao criá-los. Depois do encontro com Simeão e Ana,
Maria e José voltam com Jesus para a sua terra, para o dia-a-dia de Nazaré. ‘O
menino crescia, cada vez mais forte e mais cheio de sabedoria, e a graça de
Deus estava com ele’ (Lc 2,40)” (Anselm Grüm – Jesus,
modelo do ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite