Terça, 01 de fevereiro de 2022

(2Sm 18,9-10.14.24-25.30—19,3; Sl 85[86]; Mc 5,21-43) 

4ª Semana do Tempo Comum.

“Ela pensava: ‘Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada’” Mc 5,28.

“A pedido de Jairo, Jesus se dirige à casa dele para ver a filha de doze anos. No caminho, ele encontra uma mulher que sofre de hemorragia há doze anos. Poderíamos observar que é com doze anos que a menina se torna moça. A mulher que sofre a doze anos de hemorragia, cuja menstruação não para, tem problema com sua condição de mulher, com sua sexualidade. Mas o número doze pode ser interpretado também simbolicamente. Além de exprimir a totalidade do ser humano, o número doze indica também sua capacidade de relacionar-se. O ser humano só fica completo quando é capaz de estabelecer relacionamentos. Essa capacidade parece faltar a ambas as doentes. Ao morrer, a menina desfaz toda e qualquer possibilidade de relacionamento. Ela se isola, entrando em estado de rigidez. A mulher com hemorragia, por sua vez, gostaria de estabelecer relacionamentos. Mas ela não o consegue, porque opta pelo caminho errado. Ela só sabe dar para receber atenção. Ela entrega seu sangue, o que quer dizer: sua força, seu vigor, sua vitalidade, para granjear simpatia. Ela se adapta, despende generosamente, para ganhar reconhecimento e atenção. Enquanto isso, ela se torna cada vez mais fraca. Ela despende muito porque tem necessidade de muito, mas nunca recebe o que necessita. Além do sangue, prodigaliza também suas posses. No mundo dos sonhos, bens e dinheiro significam sempre as próprias capacidades e possibilidades. Desenvolvemos todas as nossas capacidades, esforçamo-nos para aprender, só para ganhar o reconhecimento dos outros. E mesmo assim temos de admitir que somos logrados, que acabamos de mãos vazias. Tudo muda para a mulher quando desiste de doar, tocando em vez disso simplesmente a fímbria do manto de Jesus. Com isso, ela se apodera de uma parte de Jesus, de sua espiritualidade, de sua relação com Deus. Ela já não dá para receber, agora ela simplesmente toma o que precisa. E apoderando-se daquilo que importa ela o recebe. Fica curada. A hemorragia estanca. Ela sente a força que emana de Jesus. Antes só teve coragem de aproximar-se de Jesus por trás. Mas agora precisa manifestar seu segredo. Ela precisa falar da doença e admitir que foi curada: precisa dizer toda a verdade. Sente-se então aceita não apenas com seu corpo, mas com toda a verdade, com toda a história de sua vida, com sua condição feminina. Diante de Jesus ela pode reconhecer a verdade, porque sentiu a força que emana dele, o carisma que cura e inspira confiança. Por isso tem coragem de dizer tudo o que a preocupa. Não deve ter sido fácil para ela – no meio desses homens todos que se tinham tornado impuros por causa dela. Quem tocava numa mulher menstruada precisava submeter-se a uma série de banhos rituais para se tornar puro novamente. Mas Jesus levanta e diz: ‘Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e fica curada do teu mal’ (5,34). Jesus a chama de filha. Ele estabelece um relacionamento. Ele não a trata simplesmente como uma mulher estranha, antes cria um vínculo familiar com ela. E prova o gesto dela. Foi sua fé que a curou. Quando entregava tudo para receber dedicação, ela não tinha fé. Pretendia resolver tudo sozinha. E essa foi sua ruína. Mas agora ela confia em Jesus e toma dele o que precisava viver. Com isso, ela se cura e se reergue” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

  Pe. João Bosco Vieira Leite