Segunda, 28 de fevereiro de 2022

(1Pd 1,3-9; Sl 110[111]; Mc 10,17-27) 

8ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: ‘Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”

Mc 10,23.

“Por que será que Jesus adota uma posição tão pouco aristocrática, tão pouco executiva, tão pouco pós-moderna? O que é que ele tinha contra propriedades? A bem da verdade, nada, absolutamente nada. Pelo menos, ele nunca falou nada nem contra os campos, nem contra as plantações de trigo nem contra casas e edifícios. Jesus tinha sérias restrições não quanto às propriedades, mas quanto às pessoas que as possuíam. Por quê? Por causa do enriquecimento ilícito e até mesmo violento de muitos grandes proprietários. Isso se deu na Palestina e se deu igualmente na colonização do Brasil e do restante da América. E se pensarmos na escravidão, na exploração da mão de obra barata, no sistema financeiro que beneficia o capital e menospreza o trabalho? Será que pessoas assim estão mesmo no reino de Deus? E ainda que se admita a posse honesta, legal e ética de propriedades (isso, a meu ver, é plenamente possível), fica a pergunta: estaria tal pessoa disposta a um uso amoroso (não-comercial) de seus bens? O caso do jovem rico narrado na Bíblia mostra que ao menos esse não. Foi, aliás, o comportamento dele que levou Jesus a dizer as palavras sobre as quais meditamos. Se o Mestre generalizou, foi exatamente porque esse era e seria o tipo de comportamento padrão do ser humano em suas relação às riquezas. Nesse caso, como alguém, possuidor de bens e já de antemão disposto a não mexer neles, vai querer participar dum reino cuja consequência básica é a ética do amor e da doação? Difícil. Difícil, mas não impossível. Na morte de Jesus, por exemplo, dois homens ricos, Nicodemos e José de Arimateia, arriscaram suas vidas e, consequentemente suas riquezas também, ao dar testemunho do seu amor a Cristo. É que, havendo fé, as riquezas e propriedades deixam de ser empecilhos para serem bênçãos. Se, pois, entre nós houver quem tenha muitas propriedades, use-as com sabedoria e amor. – Ó Deus, obrigado pelos bens que tenho. Enche-me com o teu amor para eu usá-los em benefício do meu próximo. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite