(1Pd 1,3-9; Sl 110[111]; Mc 10,17-27)
8ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus então olhou ao
redor e disse aos discípulos: ‘Como é difícil para os ricos entrar no Reino de
Deus!”
Mc 10,23.
“Por que será que
Jesus adota uma posição tão pouco aristocrática, tão pouco executiva, tão pouco
pós-moderna? O que é que ele tinha contra propriedades? A bem da verdade, nada,
absolutamente nada. Pelo menos, ele nunca falou nada nem contra os campos, nem
contra as plantações de trigo nem contra casas e edifícios. Jesus tinha sérias
restrições não quanto às propriedades, mas quanto às pessoas que as possuíam.
Por quê? Por causa do enriquecimento ilícito e até mesmo violento de muitos
grandes proprietários. Isso se deu na Palestina e se deu igualmente na colonização
do Brasil e do restante da América. E se pensarmos na escravidão, na exploração
da mão de obra barata, no sistema financeiro que beneficia o capital e
menospreza o trabalho? Será que pessoas assim estão mesmo no reino de Deus? E
ainda que se admita a posse honesta, legal e ética de propriedades (isso, a meu
ver, é plenamente possível), fica a pergunta: estaria tal pessoa disposta a um
uso amoroso (não-comercial) de seus bens? O caso do jovem rico narrado na
Bíblia mostra que ao menos esse não. Foi, aliás, o comportamento dele que levou
Jesus a dizer as palavras sobre as quais meditamos. Se o Mestre generalizou,
foi exatamente porque esse era e seria o tipo de comportamento padrão do ser
humano em suas relação às riquezas. Nesse caso, como alguém, possuidor de bens
e já de antemão disposto a não mexer neles, vai querer participar dum reino
cuja consequência básica é a ética do amor e da doação? Difícil. Difícil, mas
não impossível. Na morte de Jesus, por exemplo, dois homens ricos, Nicodemos e
José de Arimateia, arriscaram suas vidas e, consequentemente suas riquezas
também, ao dar testemunho do seu amor a Cristo. É que, havendo fé, as riquezas
e propriedades deixam de ser empecilhos para serem bênçãos. Se, pois, entre nós
houver quem tenha muitas propriedades, use-as com sabedoria e amor. – Ó
Deus, obrigado pelos bens que tenho. Enche-me com o teu amor para eu usá-los em
benefício do meu próximo. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado
Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite