Sexta, 11 de fevereiro de 2022

(1Reis 11,29-32; 12,19; Sl 80[81]; Mc 7,31-37) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus afastou-se com o homem para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele”. Mc 7,33.

“Jesus põe os dedos nos ouvidos dele. Isso me faz lembrar diversas outras imagens: Jesus põe seu dedo na ferida, para que o doente se reconcilie com sua ferida. Ele tampa os ouvidos com os dedos para não ouvir aquilo que o machuca e o faz ficar doente; ele quer ouvir apenas a si mesmo, os desejos do seu coração, a própria voz no íntimo de sua lama. Os ouvidos são uma região muito sensível. Colocando neles os seus dedos, Jesus toca com carinho o ponto sensível do doente. É como se dissesse a ele: ‘Entre todas as palavras que tu escutas há também o desejo de relacionamento. Mesmo que alguém se dirija a ti aos berros, existe sempre a vontade de entrar em contato’. Jesus estabelece essa relação intensa com o doente colocando seus dedos em ambos os ouvidos. Assim se forma um circuito entre ele e o doente. É um circuito de relacionamento e de amor que deve desfazer o bloqueio do doente. Depois, Jesus molha a língua do homem com saliva. Na Antiguidade, a saliva era considerada um remédio. A saliva transmite também um toque maternal. A mãe coloca saliva no machucado da criança que está chorando e diz: ‘Está tudo bem gora’. Podemos imaginar também que Jesus dê um beijo no mudo, tocando-o com sua saliva. A saliva é uma coisa muito pessoal e íntima. Com ela passo ao outro algo do meu interior. Com esse gesto, Jesus cria um clima de confiança que ajuda a soltar a língua do doente. Emudecer pode significar não ter mais nada a dizer porque o relacionamento acabou, mas pode significar também não poder dizer mais nada justamente porque falta confiança, porque a pessoa tem medo de que suas palavras possam ser interpretadas de uma maneira errada. Colocando saliva na língua do outro, Jesus estabelece uma relação de amor, em que as palavras podem fluir livremente entre as pessoas, em que a confiança aumenta e desparece o medo de ser mal-entendido” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite