(1Reis 11,29-32; 12,19; Sl 80[81]; Mc 7,31-37)
5ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus afastou-se com
o homem para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos,
cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele”. Mc 7,33.
“Jesus põe os dedos
nos ouvidos dele. Isso me faz lembrar diversas outras imagens: Jesus põe seu
dedo na ferida, para que o doente se reconcilie com sua ferida. Ele tampa os ouvidos
com os dedos para não ouvir aquilo que o machuca e o faz ficar doente; ele quer
ouvir apenas a si mesmo, os desejos do seu coração, a própria voz no íntimo de
sua lama. Os ouvidos são uma região muito sensível. Colocando neles os seus
dedos, Jesus toca com carinho o ponto sensível do doente. É como se dissesse a
ele: ‘Entre todas as palavras que tu escutas há também o desejo de
relacionamento. Mesmo que alguém se dirija a ti aos berros, existe sempre a
vontade de entrar em contato’. Jesus estabelece essa relação intensa com o
doente colocando seus dedos em ambos os ouvidos. Assim se forma um circuito
entre ele e o doente. É um circuito de relacionamento e de amor que deve
desfazer o bloqueio do doente. Depois, Jesus molha a língua do homem com saliva.
Na Antiguidade, a saliva era considerada um remédio. A saliva transmite também
um toque maternal. A mãe coloca saliva no machucado da criança que está
chorando e diz: ‘Está tudo bem gora’. Podemos imaginar também que Jesus dê um
beijo no mudo, tocando-o com sua saliva. A saliva é uma coisa muito pessoal e
íntima. Com ela passo ao outro algo do meu interior. Com esse gesto, Jesus cria
um clima de confiança que ajuda a soltar a língua do doente. Emudecer pode
significar não ter mais nada a dizer porque o relacionamento acabou, mas pode
significar também não poder dizer mais nada justamente porque falta confiança,
porque a pessoa tem medo de que suas palavras possam ser interpretadas de uma
maneira errada. Colocando saliva na língua do outro, Jesus estabelece uma
relação de amor, em que as palavras podem fluir livremente entre as pessoas, em
que a confiança aumenta e desparece o medo de ser mal-entendido” (Anselm Grün
– Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite