(Dt 4,1-2.6-8; Sl 14[15]; Tg 1,17-18.21-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23).
1. Retomamos hoje o evangelho de Marcos
e nos reencontramos com Jesus em atividade apostólica fora da Galileia. As três
leituras que nos são oferecidas estão centralizadas no cumprimento da vontade
de Deus manifestada em sua palavra e em sua lei de santidade, justiça e
salvação.
2. Mas é por causa de certas tradições
que os fariseus e escribas questionam Jesus sobre o fato de alguns dos seus
discípulos não lavarem as mãos antes das refeições, não por uma questão de
higiene, mas por uma questão religiosa vinculada a uma tradição intocável.
3. A resposta de Jesus vem como um
ataque frontal, como algo preso na garganta aguardando o momento justo. Para
Jesus, eles faziam questão de observar as tradições e deixam de lado os
mandamentos do Senhor, manipulando a palavra de Deus.
4. Jesus aproveita a multidão presente
para falar sobre o puro e o impuro, não no sentido ritual, mas moral e pessoal,
isto é, em relação a consciência do ser humano diante de Deus. Jesus quer
afastar o formalismo exterior que tinha degenerado a religião judaica.
5. Com sua atitude e direção, Jesus não
está abolindo a Lei mosaica, mas conduzindo-a para uma atitude de abertura e
liberdade, que por sua vez pressagia o fim da mesma. Jesus quer evitar um culto
vazio, que tantas vezes já haviam denunciado os profetas, permanecendo numa
observância externa.
6. Talvez isso venha a denunciar o
nosso medo de nos comprometermos totalmente com Deus; amedrontam-nos as
possíveis exigências, às vezes bastante radicais. É provável que a comunidade
de Marcos se veja nesse impasse entre abandonar a lei e as tradições e abraçar
a novidade do cristianismo.
7. Trazendo o pensamento de Jesus para
a nossa realidade eclesial, não se pensa em condenar qualquer tradição e
manifestação de religiosidade popular. O que se pede também a nós é uma revisão
constante das práticas religiosas para verificar sua validade e autenticidade.
8. “ Porque tudo isso é bom quando sai
dum coração limpo; mas pode fracassar quando se contagia de mercantilismo e
contabilidade religiosa diante de Deus, de ritualismo sacralizante e
automatismo de salvação, colocando tais práticas tradicionais acima da própria
lei de amar a Deus e ao próximo” (Basilio Caballero – “Nas Fontes da Palavra –
Ano B”).
9. Tiago, na 2ª leitura e nos domingos
seguintes, traz luz à prática religiosa que pode cair na tentação do
formalismo. É importante saber traduzir a escuta e a aceitação da Palavra de
Deus numa prática concreta, para evitarmos a dupla personalidade cristã daquele
que diz e não faz, escuta a Palavra, mas não pratica.
10. A revelação bíblica não tem uma
resposta pré-fabricada para os problemas que nos angustiam na atualidade, mas a
fé religiosa, sim, encontra na Palavra de Deus, e no próprio Jesus, luz, guia,
critérios, visão humanista e ‘sabedoria de Deus’, para a práxis de cada
dia.
Pe. João Bosco Vieira Leite