19º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(1Rs 19,4-8; Sl 33[34]; Ef 4,30—5,2; Jo 6,41-51)

1. Vamos avançar um pouco mais no discurso de Jesus, que hoje se apresenta em duas partes: primeiramente temos a questão em torno da origem de Jesus e a fé nele; depois temos a afirmação de Jesus em ser ele o pão vivo que dá a vida a quem dele se alimenta.

2. Para os ouvintes de Jesus, soava-lhes arrogante a afirmação de Jesus de ter vindo do céu, uma vez que eles conheciam sua origem. Aqui se reflete a dificuldade de sempre em acolher o mistério da Encarnação. É quando Jesus esclarece que o mistério da sua pessoa só pode ser captado pelo dom da fé.

3. Falando sempre no presente, Jesus afirma que aquele que crê tem a vida eterna, agora, e no futuro, a ressurreição. Mas esta fé exige a responsável atitude da escuta de Deus, de aprender de Deus.

4. Percebamos que esse diálogo complexo de Jesus não se dá com o povo em si, mas com as autoridades religiosas, tanto que o termo povo ou multidão desaparece para dar lugar ao termo ‘judeus’, este, por sua vez, pode indicar também, no pensamento do nosso autor, uma oposição a Jesus.

5. No segundo momento desse diálogo, Jesus se auto define como o pão da vida eterna através da fórmula: ‘eu sou’, própria de Deus no Antigo Testamento. Diferente do maná do deserto, perecível, não podia impedir a morte. Até aqui o discurso parece oscilar entre um sentido alegórico e espiritual, não totalmente eucarístico nem sacramental.   

6. Para aliviar toda essa complexidade do evangelho, a liturgia nos traz esse texto da 1ª leitura, recordando-nos a experiência de Elias, o defensor da fé monoteísta em sua luta contra a idolatria do povo e a corrupção dos poderosos. Perseguido e cansado, pede a morte para si.

7. O Senhor o alimenta, para que ele retome sua caminhada até o monte Horeb, no Sinai, onde terá particular experiência de Deus e retomará a sua missão junto ao povo.  A liturgia vê hoje nesse relato um prenuncio do pão da Eucaristia. Salvaguardando a devida distância, esse caso de Elias se repete em nossas vidas.

8. O deserto da descrença é cada vez maior ao nosso redor, e Deus se perde no horizonte. Assim entram em colapso o amor e a ternura, as razões de crer e de se esperar, o otimismo e a ilusão de viver, a convivência e solidariedade, e tantos outros valores que pareciam inamovíveis.

9. Como tantos que nos precederam, devemos ser capazes de realizar essa travessia no deserto sem desfalecimento. Quando tudo parece que nada mais tem interesse ou que tudo está perdido, permanece a secreta energia de um alimento que pode nos revigorar: a escuta de Deus e a fé em Cristo, no pão da Palavra e da Eucaristia.

10. Isso nos ajuda a entender um pouco o Evangelho, Jesus é o Verbo, a Palavra comunicada que busca o diálogo, o interesse de um pelo outro. A fé é um diálogo com Deus, um descobrir, como o salmista que Deus é bom e que nele podemos sempre encontrar um refúgio quando o cansaço do viver nos assalta.

Pe. João Bosco Vieira Leite