(Js 24,1-2.15-18; Sl 33[34]; Ef 5,21-32; Jo 6,60-69)
1. Em nosso evangelho, chegamos ao
final do discurso de Jesus em Cafarnaum, onde Jesus tira as conclusões do
milagre realizado na véspera: aquele que multiplicou os pães para alimentar os
que o seguiam, esse mesmo é o novo maná que Deus lhes envia. É o Pão vivo que
desceu do céu para dar vida ao mundo.
2. Com o mesmo entusiasmo ante o
prodígio dos pães multiplicados, eles recuam contra as afirmações que agora faz
Jesus. Sua fala é cortada de interrupções, murmúrios e protestos. O sentido
espiritual das suas palavras escapa à maioria, eles pensam que Jesus os fará
comer pedaços da sua carne.
3. E assim, muitos resolvem se afastar
e não mais caminhar com ele. Deve ter sido um momento dramático, porque não se
tratava de algumas desistências isoladas, mas de uma deserção em massa. Sem
ódio, sem ameaças, apenas sob o peso de uma invencível desilusão. Muitos não
conseguem acreditar em suas duras palavras.
4. O texto deixa claro que os que o
abandonam, não são ouvintes ocasionais, mas discípulos que tinham acreditado
nele; que tinham feito sacrifícios para segui-lo, enfrentado críticas dos
contrários; agora passam para o lado dos detratores e dos inimigos.
5. Os olhos dos discípulos fiéis
permanecem fixos em Jesus; devem estar admirados de o Mestre não os impedir. Não
é ele o pastor que vai atrás da ovelha perdida? Jesus permanece impassível. Os
deixa partir. Estranhamente, esse condutor de massas não procura popularidade.
6. Mas sabemos que Jesus se mantem fiel
aos seus próprios princípios: ninguém o deve seguir sem plena consciência.
Nunca dissimulou as dificuldades do caminho. Ele só quer aqueles que o querem.
Os que vierem até Ele pela força ou o seguirem a contragosto não encontrarão no
cristianismo alegria e felicidade, mas unicamente um fardo e um jugo.
7. É por isso que Jesus deixa partir os
discípulos descontentes com o seu discurso. É preciso conhecer Cristo e
compreendê-lo tal como é. É preciso recebe-lo com todas as exigências. É
preciso dar-lhe na hierarquia dos afetos o primeiro lugar que reclama, ou então
afastar-se dele.
8. E nós, por que permanecemos? Por
que, ainda, a cada domingo, vimos aqui renovar a nossa fé? Talvez nem nos
perguntemos ou nos vejamos agir meio que no automático. A palavra de Jesus
dirigida àqueles que permaneceram volta-se sobre nós, cada vez que consideramos
‘duras’ suas palavras. Precisamos, vez ou outra, para não permanecer no
‘automático’, nos perguntarmos o porquê de seguirmos a Jesus.
Pe. João Bosco Vieira Leite