Sábado, 01 de fevereiro de 2020


(2Sm 12,1-7.10-17; Sl 50[51]; Mc 4,35-41) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Começou a soprar uma ventania muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro” Mc 4,37-38a.

“Marcos nos conta três travessias do lago (em 4,35-41, 6,45-52 e ainda 8,14-21). Em cada uma dessas travessias, os discípulos entram em crise. E Jesus aprece como o salvador. Mas a terceira travessia nos mostra que eles não entendem Jesus. Continuam cegos. As três travessias para a margem oposta estão repletas de simbolismos. Jesus nos acompanha em nossa viagem pelo mar revolto da vida. Ele nos dá a certeza de chegarmos com segurança à outra margem, que é a margem da glória de Deus. Mesmo assim, o caminho de nossa vida continua cheio de crises. Estas só poderão transformar-se em oportunidades se dentro delas nos dirigirmos a Jesus. A situação da tempestade no lago é típica para nossa vida humana. Os primeiros Padres da Igreja viram na viagem pelas águas agitadas do lago uma imagem da nossa vida frágil e ameaçada. É essa a situação descrita por Marcos. Depois do grande discurso feito a partir de um barco, Jesus despede a multidão e manda atravessar o lago, para chegar à outra margem onde moram os pagãos. A noite já está caindo. Quando Marcos fala em entardecer e noite (opsias), está sempre pensando na noite da tribulação demoníaca. Quando escurece, surgem na alma humana os poderes demoníacos. Mas, quando escurece, Jesus também há de vencer na cruz o poder dos demônios. Assim, Marcos remete em seu evangelho também constantemente à vitória da morte de Jesus na cruz. No episódio em questão, os demônios mostram seu poder levantando as forças da natureza contra os discípulos: ‘Sobreveio um grande vendaval. As ondas investiam contra o barco, a tal ponto que o barco já se enchia de água’ (4,37). É um fato extraordinário que Jesus, apesar da tempestade e do balanço do barco, continue dormindo calmamente sobre uma almofada. Que sonho tranquilo o de Jesus em meio ao barulho das ondas e o bramir do vento! Talvez Marcos queira sublinhar a confiança na atitude de Jesus, que não se deixa intimidar por esses perigos. O sono é sempre um símbolo da alma que descansa nas mãos de Deus. Mesmo na tempestade, Jesus repousa em Deus. É uma imagem que mostra como podemos superar as tempestades da vida. Quando o medo nos assalta, basta recolhermo-nos no íntimo de nossa alma que repousa em Deus. As ondas podem até passar por cima de nós, mas elas não poderão devora-nos. Mas o sono de Jesus no barco dos discípulos quer dizer mais uma coisa: apesar de Jesus estar com os discípulos, estes continuam dependendo de si mesmos. Dormindo, Jesus se retira deles. Com isso Marcos descreve uma situação que é conhecida de todos nós. Quando estamos em perigo, quando os vendavais da vida nos agitam, quando em nossa alma sobem as águas do inconsciente ameaçando afundá-la, temos muitas vezes a impressão de que estamos sós e abandonados. Rompeu-se o laço que nos ligava a Jesus. Jesus está dormindo em nosso barco. Não sentimos sua presença. Não há contato com ele. Conhecemos suas palavras, mas elas não repercutem em nós. Recebemo-lo na comunhão, mas ele não move o nosso coração. Ele não aplaca a nossa tempestade que sacode nossa alma” (Anselmo Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite