7º Domingo do Tempo Comum – Ano A


(Lv 19,1-2.17-18; Sl 102[103]; 1Cor 3,16-23; Mt 5,38-48).

1. Interrompendo o Sermão da Montanha, por causa da quaresma, e concluindo o texto iniciado no domingo anterior, temos as duas últimas antíteses, das seis apresentadas por Jesus: o perdão em vez da vingança e o amor ao inimigo em vez do ódio.

2. Jesus está apresentando uma alternativa à lei do talião presente no Antigo Testamento que permite vingar-se na mesma medida da ofensa recebida. Algo bem humano. Mas Jesus convida seus ouvintes a enveredar por outro caminho, renunciando a toda forma de violência ativa, mesmo como autodefesa.

3. A 1ª leitura ilumina a 2ª antítese com relação ao amor aos inimigos, mas na limitada compreensão de que se trata do parente ou compatriota. Jesus está pensando em todo ser humano, sem distinção de raça, língua ou credo.

4. Nesse agir diferenciado o cristão revelaria a sua identidade: Filho de Deus. Assim compreendemos esse convite de Jesus: “Sede perfeitos porque o vosso Pai celeste é perfeito”. Não basta saudar e amar os amigos; isso qualquer pessoa faz. Ao cristão pede-se mais.

5. É inevitável que nos perguntemos: este programa de Jesus é viável ou seria uma simples utopia para sonhadores? Com a maioria, talvez digamos: isso é impossível, demasiado sublime. Quando muito, um ofendido poderá perdoar, mas esquecer e amar o agressor... parece algo impossível.

6. Não esquecer não quer dizer necessariamente que se alimente sentimento de ódio, rancor ou agressividade, ou mesmo o estranho prazer da vingança.

7. Apesar de todas as razões que temos para apresentar, esse ideal impossível esteve presente na vida de muitos cristãos ao longo da história, não eram homens e mulheres inconscientes ou covardes, mas de grande coração e de maturidade humana e cristã inigualável.

8. Jesus nos convida a não-violência ativa do amor. A nossa estrutura psíquica não pode suportar um amor afetivo e o carinho emocional ao inimigo por simples decreto, isso teria consequências patológicas e inumanas. Jesus não faz isso, não o exige.

9. O que Ele nos propõe é o seu próprio modo de agir, que sejamos capazes de fazer o bem ao inimigo, rezar por ele, respeitá-lo como pessoa, filho de Deus, excluindo de nosso agir toda violência e ódio, que não é uma resistência pacífica, ainda que ativa, pelo amor.

10. Ele a praticou no processo de sua paixão, que estará no centro de nossa meditação durante a quaresma. Se agem com violência para com Ele, ele pede uma explicação. Não se aprova qualquer silêncio perante a irracionalidade e a injustiça. Sabemos quantos valentes defensores dos direitos humanos deram suas vidas.

11. Gandhi sabia que perdoar e amar é a grande força ativa do não-violento, a única opção capaz de travar e destruir o espiral do mal e da violência. Tudo isso requer caráter, valentia e maturidade humana e cristã, ao estilo de Jesus que morreu perdoando e amando.

Pe. João Bosco Vieira Leite