Sexta, 28 de fevereiro de 2020


(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) 
Depois das Cinzas. 

“’Por que não te regozijaste quando jejuávamos e o ignoraste quando nos humilhávamos?’
É porque, no dia do vosso jejum, tratais de negócios e oprimis os vossos empregados” Is 58,3.

“De sã consciência, ninguém poderia dizer que o povo da Palestina, ali pelo século VII ou VI a.C., não tinha religião. Tinha e muito. Templo cheio, sacrifícios de animais e até jejuns justificavam que a religião tinha entre o povo a mais alta consideração. E que a religião é um negócio relacionado em última análise com Deus, ele deveria estar superfeliz. Mas não estava. O seu desconforto era tamanho que o próprio povo, através do profeta, acabou sabendo. Daí a sua queixa de quem se sente não só abandonado, mas acima de tudo desprezado e traído. Por que Deus agiu de forma tão contrária ao esperado em relação a um povo que não economizava devoção e devoção das boas como jejum e mortificação? Teria Deus perdido a sensibilidade? Acontece que Deus não é um narcisista que precise o tempo todo de bajulação. Deus não precisa sequer da nossa boa obra, seja ela de que tipo for, menos ainda de cunho puramente ritual. Se ele, porém, não precisa das nossas boas obras, o nosso próximo precisa e muito. Aí é que está a questão. Jejum e sacrifícios eram feitos naquele tempo como desculpas antecipadas para enganar e oprimir o pobre. Desse modo, o próprio Deus era convocado como cúmplice da injustiça e opressão. E isso ele não fez em hipótese alguma. – Deus, tu nos ama e redimes, queres de nós um culto perfeito que leve em conta as necessidades do próximo. Quando, pois, eu olhar para o alto faze-me também olhar para o lado. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite