(2Sm 18,9-10.14.24-25.30—19,3; Sl 85[86]; Mc 5,21-43)
4ª
Semana do Tempo Comum.
“Aproximou-se, então,
um dos chefes da sinagoga chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés e
pediu com insistência: ‘Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos
sobre ela, para que ela sare e viva!’”
Mc 5,22-23.
“As duas histórias
primorosamente entrelaçadas contando a cura da filha de Jairo e da mulher que
sofria a hemorragia são histórias de relacionamento. Elas mostram como é o
desenvolvimento de uma menina que é ignorada pelo pai. No primeiro caso, o pai
é o chefe da sinagoga local. Arcando com tanta responsabilidade, ele não dá
atenção à filha, e esta fica doente e morre. Tudo indica que ela não consegue
viver nessas condições. E o pai se dá conta de que não é capaz de salvá-la, a
despeito de toda a sua religiosidade e de sua posição de destaque. O primeiro
passo da terapia é a decisão de procurar a ajuda de um outro: lançando-se aos
pés de Jesus, suplica que este lhe ajude. Ele reconhece sua impotência. É um
passo importante em direção à cura da filha. Pelo fato de o pai despojar-se do
seu poder, com o qual pensava dominar tudo, a filha também consegue libertar-se
da mão que a asfixia. Antes de curar a filha, Jesus se volta para o pai. Ele
cuida primeiro do pedinte. Jesus percebe que a relação entre pai e filha está
marcada pelo medo. A vontade dos pais é ter o domínio sobre tudo. É difícil
para eles soltar a filha, confiando-a ao poder curador de Deus. Por isso, Jesus
diz ao chefe da sinagoga: ‘Não tenhas medo, somente fé’ (5,36). Para que a
filha possa ficar boa, é necessário que o pai admita sua impotência,
mostrando-se disposto a soltar sua filha para entrega-la a Deus. O medo leva o
pai a querer controlar a filha ou a fazer tudo para que ela corresponda a suas
perspectivas. Nesse caso, o pai a apoia, mas não porque confia nela e sim porque
ele mesmo quer formá-la, em vez de deixa-la crescer segundo a forma que Deus
colocou nela. Jesus se aproxima da cama da menina e toma a mão dela dizendo:
‘Talitá qum!’, o que traduzido significa: ‘Menina, eu te digo, acorda!’ (5,41).
Jesus lhe dá a mão, transmitindo-lhe assim algo de sua força. Ele espera dela
que se levante sobre as próprias pernas, seguindo então seu caminho pessoal.
Ele não a segura, antes permite que ela ande livremente. Recomenda apenas que
deem de comer à menina. Não convém que a tratem com paparicos, que lhe
facilitem as coisas e afastem dela todos os perigos. Importa, sim, reforçar sua
vitalidade. Dar de comer significa: ela deve entrar em contato consigo mesma e
com seu corpo, com sua própria força e seu vigor. Assim será capaz de viver” (Anselm Grun
– Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite