Terça, 04 de fevereiro de 2020


(2Sm 18,9-10.14.24-25.30—19,3; Sl 85[86]; Mc 5,21-43) 
4ª Semana do Tempo Comum.

“Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés e pediu com insistência: ‘Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!’”
Mc 5,22-23.

“As duas histórias primorosamente entrelaçadas contando a cura da filha de Jairo e da mulher que sofria a hemorragia são histórias de relacionamento. Elas mostram como é o desenvolvimento de uma menina que é ignorada pelo pai. No primeiro caso, o pai é o chefe da sinagoga local. Arcando com tanta responsabilidade, ele não dá atenção à filha, e esta fica doente e morre. Tudo indica que ela não consegue viver nessas condições. E o pai se dá conta de que não é capaz de salvá-la, a despeito de toda a sua religiosidade e de sua posição de destaque. O primeiro passo da terapia é a decisão de procurar a ajuda de um outro: lançando-se aos pés de Jesus, suplica que este lhe ajude. Ele reconhece sua impotência. É um passo importante em direção à cura da filha. Pelo fato de o pai despojar-se do seu poder, com o qual pensava dominar tudo, a filha também consegue libertar-se da mão que a asfixia. Antes de curar a filha, Jesus se volta para o pai. Ele cuida primeiro do pedinte. Jesus percebe que a relação entre pai e filha está marcada pelo medo. A vontade dos pais é ter o domínio sobre tudo. É difícil para eles soltar a filha, confiando-a ao poder curador de Deus. Por isso, Jesus diz ao chefe da sinagoga: ‘Não tenhas medo, somente fé’ (5,36). Para que a filha possa ficar boa, é necessário que o pai admita sua impotência, mostrando-se disposto a soltar sua filha para entrega-la a Deus. O medo leva o pai a querer controlar a filha ou a fazer tudo para que ela corresponda a suas perspectivas. Nesse caso, o pai a apoia, mas não porque confia nela e sim porque ele mesmo quer formá-la, em vez de deixa-la crescer segundo a forma que Deus colocou nela. Jesus se aproxima da cama da menina e toma a mão dela dizendo: ‘Talitá qum!’, o que traduzido significa: ‘Menina, eu te digo, acorda!’ (5,41). Jesus lhe dá a mão, transmitindo-lhe assim algo de sua força. Ele espera dela que se levante sobre as próprias pernas, seguindo então seu caminho pessoal. Ele não a segura, antes permite que ela ande livremente. Recomenda apenas que deem de comer à menina. Não convém que a tratem com paparicos, que lhe facilitem as coisas e afastem dela todos os perigos. Importa, sim, reforçar sua vitalidade. Dar de comer significa: ela deve entrar em contato consigo mesma e com seu corpo, com sua própria força e seu vigor. Assim será capaz de viver” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite