(Tg 2,1-9; Sl 33[34]; Mc 8,27-33)
6ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus proibiu-lhes
severamente de falar a alguém a seu respeito” Mc 8,30.
“Estranha-nos a ordem
de Cristo, pois sempre ouvimos dizer que devemos testemunhar dele, falar do
evangelho, etc. como, então, calar? Como calar diante do fato de que aquele
Jesus, com o qual Pedro e seus companheiros conviviam, era o Messias, o Cristo,
esperado há tantos e tantos séculos? Há momentos em que é melhor calar. Há
momentos em que falar confunde. Era esse o caso da declaração de Pedro – ‘Tu és
o Cristo’ – pois, nesse momento, o que significa o conceito Cristo? Aos olhos
nacionalistas do povo, Cristo era o líder revolucionário que traria libertação
meramente política e, ainda assim, apenas para os judeus. Nesse contexto, de
que adiantaria dizer que Jesus era Cristo? Nada. Para que tal declaração
pudesse ter algum efeito positivo, primeiro teria ele de criar um conteúdo para
o tipo de cristo que ele encarnava para, só então, anunciar ao mundo que ele era
de fato o ‘Cristo’. Enquanto isso não acontece, o título deveria ficar trancado
em absoluto silêncio. Hoje, porém, esse silêncio não deve ser em hipótese
alguma a característica principal da Igreja cristã. Mas como teria sido bom se
a Igreja tivesse permanecido calada especialmente quando apresentou ao mundo
não o verdadeiro Cristo, amoroso, gracioso, perdoador e libertador, mas o falso
cristo, rancoroso, intransigente, cobrador e opressor. Em ocasiões como essa, o
silêncio teria sido o propalado ouro do ditado popular. Pelo menos não teria
sido impedimento para o santo evangelho. Falar, porém, sobre o verdadeiro
Cristo, sobre o conteúdo que ele emprestou a esse conceito – eis a nossa
tarefa, tarefa sobre a qual não deve pesar nenhum silêncio. – Ó Jesus
Cristo, nem sempre compreendemos o alcance do título que ostenta praticamente
como um sobrenome. Faze-nos ver que ele implica sofrimento e cruz – da tua
parte como o Senhor Nosso: da nossa, como seguidores teus. Amém” (Martinho
Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] –
Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite