Sagrada Família – Ano A


(Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23).

1. Dos preciosos conselhos do Livro do Eclesiástico, mesmo com as mudanças culturais que vamos assistindo, a liturgia recolhe esse texto que poderíamos tomar como um comentário ao mandamento de “honrar pai e mãe”.

2. Para aqueles que se dedicam pacientemente aos seus pais há promessas de bênçãos e até de perdão dos pecados, pois por mais amoroso que isso possa parecer, há todo um exercício de renúncias e preocupações que podem ocupar a vida dos filhos.

3. Por outro lado, honrar é também reconhecer, e sabemos que nem sempre os pais são tão exemplares; mas na ótica cristã o amor não comporta condições, mas se desafia a conduzir o outro para o bem. Há em tudo isso um exercício de paciência mútua que sempre desafiou pais e filhos em sua convivência.

4. Para essa saudável convivência e sobrevivência, acolhemos o texto de Paulo aos Colossenses. Ele usa a metáfora da roupa como expressão das nossas preferências e sentimentos.  Então o cristão deve fazer o esforço de estar sempre bem apresentável.

5. No mundo estilístico de Paulo, a túnica e seus adornos eram presos por um cinto que ele chama de caridade, ou amor, que tudo amarra ou prende. E aí Paulo se volta mais especificamente para as relações familiares; cada nova geração traz novos desafios; seu conselho é a oração em comum, o diálogo e o aconselhamento recíproco.

6. A sociedade igualitária e respeitosa dos direitos individuais que sonhamos, deve passar pelo devido respeito também pelo direito do outro, da compreensão de que leva-se uma vida para mudar certas visões, e que aprendermos que as diferenças deveriam somar, não dividir.

7. Sem compreendermos isso continuaremos assistindo esse espetáculo de intolerância que mancha de vermelho nossos telejornais. Tudo carece de revisão contínua de nosso agir. Na família não é diferente.

8. Já comentamos de como Mateus faz reviver a história do seu povo nos eventos acontecidos na infância e na vida adulta de Jesus, ao tempo que faz da infância do Salvador uma antecipação do que lhe acontecerá na vida adulta. Seus leitores são, em sua maioria, judeus convertidos que se encontram de alguma forma nessas narrativas.

9. Mais que uma simples crônica, estamos ouvindo alguma coisa que tem a ver com a vida de Moisés, libertador do povo escravo no Egito, do seu resgate, fuga e retorno, ao mesmo tempo uma identificação de Jesus como profeta e libertador. Mateus está lhes dizendo indiretamente, que Jesus vai repetir a experiência de Israel.

10. Mas o que interessa observar nesse dia da Sagrada Família é a experiência de Maria, José e Jesus, dos aperreios que viveram e como se protegeram nesse caminhar para fazer a vontade de Deus, deixando-se guiar pela Sua Palavra. Um exemplo para nossas famílias em seus ‘desertos’, fugas e travessias.

 Pe. João Bosco Vieira Leite