Imaculada Conceição de Nossa Senhora - 2019


(Gn 3,9-15.20; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)

1. A solenidade da Imaculada tem precedência sobre o domingo do Advento e, de certo modo, não prejudica o contexto da preparação ao Natal, pois tem a ver com o mistério que celebramos.

2. Para a reflexão desse ano me servirei de alguns pontos abordados pelo Papa Francisco no seu livro “Ave Maria” (coedição Paulus/Planeta).  E tudo começa com essa saudação do anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. A história da humanidade tem o seu recomeço com uma mulher.

3. A expressão “cheia de graça” não é fácil de traduzir, pois traz algo de muito profundo em si. Passa a ser o novo nome com que nos dirigiremos a Maria em nossa oração e em nosso coração marcado pelo pecado.

4. Ao chama-la cheia de graça, afirmamos que é cheia de Deus, inteiramente habitada por Deus, e por isso, nela não há lugar para o pecado. Ela é o único “oásis sempre verde” da humanidade, a única não contaminada, criada Imaculada para acolher plenamente, com seu “sim”, Deus vindo ao mundo e deste modo começar uma nova história.

5. Assim, em cada ave-Maria fazemos-lhe o maior elogio, o mesmo que Deus lhe fez. Reconhecemo-la sempre jovem, porque jamais envelhecida pelo pecado. O pecado envelhece-nos, porque esclerosa o coração. Assim como a sua juventude independe da idade, do mesmo modo a sua beleza não consiste na exterioridade.

6. Ela passa pelas páginas do evangelho como uma pessoa comum, participante dos sobressaltos da vida e com uma grande e difícil missão pela frente. A sua beleza está nesse permanente diálogo com Deus. A Palavra de Deus é o seu segredo, por isso alguns a retratam, na anunciação, tendo um pequeno livro em suas mãos.

7. O que faz bela a vida, nos diz o papa, não é a aparência, não é aquilo que é passageiro, mas o coração orientado para Deus. Contemplamos hoje com alegria a ‘cheia de graça’. Que ela nos ajude a permanecer jovens, dizendo ‘não’ ao pecado, e a levar uma vida bonita, dizendo ‘sim’ a Deus.

8. O anjo lhe afirma que o Senhor é com ela, quase de modo redundante, mas na realidade está lembrando-nos que Deus não é uma ação intelectual ou algo que se retém, mas uma busca e, como toda busca, é inquieta e até perigosa.

9. É Deus que bate à sua porta e lhe chama para uma aventura. Como muitos homens e mulheres, em momentos difíceis da vida, Maria deve fazer uma escolha. Mesmo que ouçamos conselhos e consultemos pessoas, no momento decisivo estamos sozinhos diante de Deus.

10. Maria se assusta com o que lhe é proposto, pois não entende bem e manifesta as suas próprias dificuldades. O anjo lhe explica a proposta e deixa claro que ela não estará sozinha, mas com o Senhor.

11. Maria teve que descobrir o Mistério pouco a pouco: exercitando a memória, declarando sua pertença aos pobres de Deus, admitindo que o impossível aos homens é possível para Deus. Ela confiou. Nós que não temos anjo algum para nos explicar, somente a Palavra para nos guiar, peçamos-lhe a coragem de também confiar. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite