(Gn 3,9-15.20; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)
1. A solenidade da Imaculada tem
precedência sobre o domingo do Advento e, de certo modo, não prejudica o
contexto da preparação ao Natal, pois tem a ver com o mistério que celebramos.
2. Para a reflexão desse ano me
servirei de alguns pontos abordados pelo Papa Francisco no seu livro “Ave
Maria” (coedição Paulus/Planeta). E tudo começa com essa saudação do
anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. A história da humanidade
tem o seu recomeço com uma mulher.
3. A expressão “cheia de graça” não é fácil
de traduzir, pois traz algo de muito profundo em si. Passa a ser o novo nome
com que nos dirigiremos a Maria em nossa oração e em nosso coração marcado pelo
pecado.
4. Ao chama-la cheia de graça,
afirmamos que é cheia de Deus, inteiramente habitada por Deus, e por isso, nela
não há lugar para o pecado. Ela é o único “oásis sempre verde” da humanidade, a
única não contaminada, criada Imaculada para acolher plenamente, com seu “sim”,
Deus vindo ao mundo e deste modo começar uma nova história.
5. Assim, em cada ave-Maria fazemos-lhe
o maior elogio, o mesmo que Deus lhe fez. Reconhecemo-la sempre jovem, porque
jamais envelhecida pelo pecado. O pecado envelhece-nos, porque esclerosa o
coração. Assim como a sua juventude independe da idade, do mesmo modo a sua
beleza não consiste na exterioridade.
6. Ela passa pelas páginas do evangelho
como uma pessoa comum, participante dos sobressaltos da vida e com uma grande e
difícil missão pela frente. A sua beleza está nesse permanente diálogo com
Deus. A Palavra de Deus é o seu segredo, por isso alguns a retratam, na
anunciação, tendo um pequeno livro em suas mãos.
7. O que faz bela a vida, nos diz o
papa, não é a aparência, não é aquilo que é passageiro, mas o coração orientado
para Deus. Contemplamos hoje com alegria a ‘cheia de graça’. Que ela nos ajude
a permanecer jovens, dizendo ‘não’ ao pecado, e a levar uma vida bonita,
dizendo ‘sim’ a Deus.
8. O anjo lhe afirma que o Senhor é com
ela, quase de modo redundante, mas na realidade está lembrando-nos que Deus não
é uma ação intelectual ou algo que se retém, mas uma busca e, como toda busca,
é inquieta e até perigosa.
9. É Deus que bate à sua porta e lhe
chama para uma aventura. Como muitos homens e mulheres, em momentos difíceis da
vida, Maria deve fazer uma escolha. Mesmo que ouçamos conselhos e consultemos
pessoas, no momento decisivo estamos sozinhos diante de Deus.
10. Maria se assusta com o que lhe é
proposto, pois não entende bem e manifesta as suas próprias dificuldades. O
anjo lhe explica a proposta e deixa claro que ela não estará sozinha, mas com o
Senhor.
11. Maria teve que descobrir o Mistério
pouco a pouco: exercitando a memória, declarando sua pertença aos pobres de
Deus, admitindo que o impossível aos homens é possível para Deus. Ela confiou.
Nós que não temos anjo algum para nos explicar, somente a Palavra para nos
guiar, peçamos-lhe a coragem de também confiar. Amém.
Pe. João
Bosco Vieira Leite