Quinta, 12 de dezembro de 2019


(Gl 4,4-7; Sl 95[96]; Lc 1,39-47) 
Nossa Senhora de Guadalupe.

“Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente,
a uma cidade da Judeia” Lc 1,39.

“A segunda recordação que Maria confiou a Lucas foi a visita a Isabel, sua prima. Maria parte sozinha, com pressa, por um caminho de montanha; é conduzida sob o impulso daquilo que se passa nela, sente-se que está sob uma dependência. Nada indica a data desta viagem, mas tudo leva a crer que foi na Primavera, a primavera síria, repentina, definitiva. A liturgia apropriou-se das palavras do Cântico e Maria foi comparada ao Bem-Amado que abala pelas montanhas, atravessa as colinas, na época em que cessou a chuva, no tempo de podar as vinhas, quando se esparge o perfume das vinhas em flor. A força da Nova Aliança leva-a irresistivelmente ao encontro do representante Antigo. Ela não sabe ainda que tudo é antigo, ultrapassado, dissolvido; adivinha-o, porque nela se inseriu o novo, e tudo o que foi dito se cumprirá. A Primavera da humanidade repousa oculta nela e torna todas as coisas envelhecidas para si. Vai, pois, levada por esse sopro de novidade que a faz ligeira. Na sua solidão, tem necessidade de uma companhia, e não pode ser a de José, diante de quem julga que deve calar-se e esperar. Por que? Não o podemos saber, nem talvez ela o saiba também. É um desses procedimentos desconcertantes entre os que amam, e não tem explicação a não ser esta, que é necessário sofrer. De resto, as sensibilidades da época não são as nossas... Maria conservara a nítida lembrança do encontro com Isabel, cuja saudação, na Ave Maria, continua a do Anjo. Foi assim talvez que ficou na memória de Maria. Mas Isabel penetrava mais no mistério que o Anjo: Maria é daqui em diante a mãe do Senhor, a ‘mãe do meu Senhor’. Isabel saúda Maria numa visão antecipada, num transporte de louvores e de palavras. Nesta cena da Visitação as personagens são erguidas acima da Terra e como levadas para fora de si mesmas. Um entusiasmo se espalha, como se um pouco de loucura tivesse penetrado as almas. Parece que, por um momento, como na Transfiguração, o laço que prende a alma ao corpo se desfaz e uma realidade nova surge por debaixo da antiga, sem êxtase, no entanto, sem milagre. É obra do Espírito Santo dar este arrebatamento, estas comoções, esta alegria superior à alegria. Passa depressa, mas fica a recordação. Isabel saúda Maria: é a mãe daquele que é já o seu Senhor. E o Senhor, presente em Maria, atua desde esse momento: o menino, que Isabel traz em si, estreme com essa presença. Jesus intervém já para dar o Espírito e terá Maria como instrumento: primeira figura do Pentecostes. Isabel salientou em Maria sobretudo a fé. Maria tinha acreditado nas promessas de Deus, não tinha posto limites ao poder divino. Como Zacarias fizera. Isabel sublinhava a imperfeição do marido, realçando a perfeição da prima. Os papeis invertiam-se e ela, avançada em anos, dobrava-se perante a juventude e mostrava-se respeitosa para além do devido. Maria continuava envolvida num estranho culto, e os Anjos no Céu, os parentes mais idosos, a quem devia deferência, todos se inclinavam para a saudar. Mal começava a viver, e era rodeada dessa admiração que só as obras heroicas realizadas justificam” (J. Guitton – A Virgem Maria – Livraria Tavares Martins).

Pe. João Bosco Vieira Leite