(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10, 17-22)
Santo Estevão.
Diácono e Protomártir.
“E disse: ‘Estou
vendo o céu aberto e o Filho do homem, de pé, à direita de Deus’” At 7,56.
“Só aquele que viu dá
testemunho, porque só o Mártir pode ver. No momento em que dá testemunho de
Jesus, quando os judeus se preparam para apedrejá-lo, Estevão, o primeiro
Mártir, ‘viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus’. Ah! Exclamou
ele, ‘eu vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé à direita de Deus’ (At
7,55-56). A promessa de Jesus ao sumo Sacerdote tem aqui a sua realização: o
primeiro a seguir o Cristo no martírio é o primeiro a ver os céus abertos e o
Filho Homem ao lado do Pai. Esta mesma visão é descrita muitas vezes pelas
narrativas de martírio do 2º século. Assim, aquele mártir de Pérgamo que
respondia aos espectadores, surpresos de o verem sorrindo: ‘Eu via glória de
Deus e estou na alegria’. Nenhuma técnica do olhar espiritual, nenhuma
meditação transcendental pode ver os céus abertos e o Filho do Homem. O céu é o
mistério do Desígnio do Pai: não se pode entrar nele senão pelo abandono de si
na obediência. Este abandono é o contrário mesmo da vontade, mesmo espiritual,
de contemplar e de perscrutar o divino: ‘Reino de Deus não vem pela observação.
Não se pode dizer: Ei-lo aqui! Ei-lo ali! Porque, ficai sabendo, o Reino de
Deus está em vós’ (Lc 17,20-21). O Reino de Deus é o segredo do Pai. Só aquele
que se abandona, como o mártir, ao mistério da sua vontade, é visto por ele só,
e recebe dele a visão. No momento em que Estevão confessa o seu Senhor e o
invoca em seu martírio, ‘todos os que assentavam no Sinédrio tinham os olhos
fixos nele: seu rosto lhes apareceu semelhante à face de um anjo’ (At 6,15). A
visão cristã é assim ligada à obediência pascal do Filho: no momento em que
Jesus roga a seu Pai e evoca ‘o Êxodo que ele vai realizar em Jerusalém’, sua
face se transfigura. Como escreve S. Máximo Confessor, ‘o Filho do Homem se tornou
símbolo de si mesmo, a partir do que ele manifestou de si mesmo. Ele conduziu
pela mão os seus mártires, a criação toda inteira através dele mesmo
manifestado, para ele mesmo totalmente escondido’” (J. M.
Garrigues – Voir les cieux ouvers – Editora Beneditina Ltda.).
Pe. João Bosco Vieira Leite