Quinta, 26 de dezembro de 2019


(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10, 17-22) 
Santo Estevão. Diácono e Protomártir.

“E disse: ‘Estou vendo o céu aberto e o Filho do homem, de pé, à direita de Deus’” At 7,56.

“Só aquele que viu dá testemunho, porque só o Mártir pode ver. No momento em que dá testemunho de Jesus, quando os judeus se preparam para apedrejá-lo, Estevão, o primeiro Mártir, ‘viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus’. Ah! Exclamou ele, ‘eu vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé à direita de Deus’ (At 7,55-56). A promessa de Jesus ao sumo Sacerdote tem aqui a sua realização: o primeiro a seguir o Cristo no martírio é o primeiro a ver os céus abertos e o Filho Homem ao lado do Pai. Esta mesma visão é descrita muitas vezes pelas narrativas de martírio do 2º século. Assim, aquele mártir de Pérgamo que respondia aos espectadores, surpresos de o verem sorrindo: ‘Eu via glória de Deus e estou na alegria’. Nenhuma técnica do olhar espiritual, nenhuma meditação transcendental pode ver os céus abertos e o Filho do Homem. O céu é o mistério do Desígnio do Pai: não se pode entrar nele senão pelo abandono de si na obediência. Este abandono é o contrário mesmo da vontade, mesmo espiritual, de contemplar e de perscrutar o divino: ‘Reino de Deus não vem pela observação. Não se pode dizer: Ei-lo aqui! Ei-lo ali! Porque, ficai sabendo, o Reino de Deus está em vós’ (Lc 17,20-21). O Reino de Deus é o segredo do Pai. Só aquele que se abandona, como o mártir, ao mistério da sua vontade, é visto por ele só, e recebe dele a visão. No momento em que Estevão confessa o seu Senhor e o invoca em seu martírio, ‘todos os que assentavam no Sinédrio tinham os olhos fixos nele: seu rosto lhes apareceu semelhante à face de um anjo’ (At 6,15). A visão cristã é assim ligada à obediência pascal do Filho: no momento em que Jesus roga a seu Pai e evoca ‘o Êxodo que ele vai realizar em Jerusalém’, sua face se transfigura. Como escreve S. Máximo Confessor, ‘o Filho do Homem se tornou símbolo de si mesmo, a partir do que ele manifestou de si mesmo. Ele conduziu pela mão os seus mártires, a criação toda inteira através dele mesmo manifestado, para ele mesmo totalmente escondido’” (J. M. Garrigues – Voir les cieux ouvers – Editora Beneditina Ltda.).

 Pe. João Bosco Vieira Leite