Sábado, 28 de dezembro de 2019


(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) 
Santos Inocentes, mártires.

“Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos
e não quer ser consolada, porque eles não existem mais” Mt 2,18.

“É por Jesus que Estevão é santo, é por ele que João é santo, é por ele também que são santos os Inocentes. Para nós é bom que estas três festas acompanhem a de Natal: não só porque a sequência das festividades mantém vivo o nosso fervor, mas também porque a própria ordem da sua sucessão manifesta com maior esplendor os frutos do nascimento do Senhor. Estas três festas, com efeito, nos apresentam três tipos de santidade, e eu creio que seria difícil encontrar um quarto tipo entre os homens. Em S. Estevão, temos ao mesmo tempo a realidade e o desejo do martírio; em S. João, o desejo somente; nos Inocentes, só a realidade. Todos bebem do cálice da salvação: o primeiro, em corpo e alma; o segundo, unicamente em espírito; os últimos, só no corpo. ‘Bebereis do meu cálice’, dissera o Senhor a Tiago e João: ele falava sem nenhuma dúvida, do cálice da sua paixão. ‘Pedro então se volta e percebe, andando atrás deles, o discípulo que Jesus amava’ Este ‘seguia’ Jesus, não tanto corporalmente, como pelo ardor do seu amor. E João bebeu o cálice da salvação; como Pedro, embora de um modo diferente, ele seguiu o Senhor. Se ele ‘ficou assim’, se não chegou à paixão corporal, é que tal foi o desígnio de Deus: ‘Quero, disse ele, que este fique assim até que eu venha’ (Jo 21,19-22). Em outros termos: ele também deseja me seguir, mas eu quero que ele fique assim. Quem duvidaria do triunfo dos Inocentes? Procurar os méritos aos olhos de Deus valeram a coroa? Procura também os crimes que aos olhos de Herodes lhes mereceram a chacina. A ternura de Cristo seria menor que a crueldade de Herodes? E se foi possível a Herodes lançar à morte os Inocentes, não pode o Cristo, por quem eles morreram, coroá-los?  Assim, Estevão é um mártir aos olhos dos homens, porque assumiu claramente a sua paixão: ele o provou sobretudo na hora de sua morte, mostrando-se mais preocupado com os seus perseguidores do que consigo mesmo. João também é mártir aos olhos dos anjos, criaturas espirituais que podiam discernir os sinais espirituais do seu amor e devotamento. Quanto os Inocentes, são teus mártires diante de ti, meu Deus. Neles, em quem nem os homens nem os anjos descobrem méritos, manifestastes com tanto maior brilho o privilégio único da tua graça. ‘Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor perfeito’ (Sl 8). ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, dizem os anjos, a paz sobre a terra aos homens de boa vontade’. Grande louvor, sem dúvida, mais ainda imperfeito, até que Jesus venha dizer: ‘Deixai vir a mim os pequeninos, não os afasteis, porque o Reino dos céus é daqueles que se assemelham a eles’ (Mt 19,14). E então, paz aos homens, mesmo sem o concurso de sua vontade, naquilo que Paulo chama ‘o Mistério da Bondade’ (1Tm 3,16)” (S. Bernardo de Clairvaux -  Sermão para a Festa dos Santos Inocentes – Editora Beneditina Ltda.).

  Pe. João Bosco Vieira Leite