(Esd 1,1-6; Sl 125[126]; Lc 8,16-8)
25ª Semana do Tempo Comum.
“Portanto, prestai
atenção à maneira como vós ouvis! Pois a quem tem alguma coisa será dado ainda
mais;
e àquele que não tem
será tirado até mesmo o que ele pensa ter” Lc 8,18.
À primeira vista,
este trecho do evangelho parece-nos paradoxal, injusto e, até mesmo, louco.
Como se pode dar mais a quem já tem e tirar de quem não tem? Seria o cúmulo da
injustiça! A muitos foi dada a grande inteligência, rapidez de raciocínio, memória
privilegiada, saúde perfeita, compreensão larga, dons carismáticos, e até
ótimas oportunidades de desenvolvimento. A estes, que receberam tanto, graças
que não dependem deles, que não são fruto de seu trabalho e de sua luta, mas
única e exclusivamente da misericórdia divina, muito lhes será dado em
responsabilidade, em sacrifício, em renúncia, em altruísmo. Este ‘será dado’
implica ‘será pedido’ e, como Deus nos deu o livre-arbítrio, aceitaremos ou não
a ‘dádiva’ extra. Jesus nos chama a atenção para usarmos bem todas as graças
que o Criador nos concedeu e, mais do que tudo, a graça da própria vida. Como,
também, nos lembra que os ímpios, aqueles que colocaram nos bens materiais todo
o seu coração, todo o seu vigor intelectual e toda a sua capacidade de luta, já
receberam, aqui, a sua recompensa. E tantos, cheios de riqueza interior e
pobres de bens terrenos, pensando-se, tantas vezes, injustiçados, terão, nas
moradas eternas, a recompensa que lhes faltou em vida. Às vezes, é muito duro
para estes esperar por esta recompensa. Às vezes, a noite do sofrimento lhes
parece eterna e a justiça divina tão longínqua! (...) entretanto, mesmo
titubeando em algumas ocasiões, o que é natural, por causa de nossa natureza
humana, segurando firme na mão de Deus, acreditando, sinceramente, nas
promessas do Cristo, rapidamente esta caminhada os levará ao reino eterno, onde
lhes espera a glória e a bem-aventurança. – Pai, eu que tanto recebi de
vossa misericórdia, possa distribuir, de coração e de graça, todas as bênçãos
com que me cumulastes! E tende piedade, ó Pai, dos pobres que se consideram
ricos! Abri-lhes os olhos e o coração para verdade. Amém” (Maria Luiza
Silveira Teles – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite