(Nm 21,4-9 (ou Fl 2,6-11); Sl 77[78]; Jo 3,13-17)
Exaltação da
Santa Cruz.
“Do mesmo modo como
Moisés levantou a serpente, assim é necessário que o Filho do homem seja
levantado, para que todos que nele crerem tenham a vida eterna” Jo 3,14-15.
“No capítulo 2, João
nos demonstrou em duas imagens a transformação operada no ser humano pela
encarnação e pela morte e Ressurreição de Jesus. Na passagem 3,14-21, João
desenvolve uma teologia acerca da nossa salvação e redenção por Jesus Cristo.
No versículo 14s está com os olhos fixos na morte de Jesus. Ele explica o
levantamento de Jesus na cruz pela referência à história da serpente de bronze
do Antigo Testamento, que é narrada no Livro dos Números 21,1-9. Quando o povo
se pôs novamente a murmurar contra Deus, este enviou serpentes venenosas, de
cuja picada muitos israelitas morreram. Moisés se dirigiu então a Deus,
intercedendo pelo povo. E Javé respondeu: ‘Manda fazer uma serpente abrasadora
e fixa-a numa haste: todo aquele que for mordido e olhar para ela, terá sua
vida salva’ (Nm 21,8). A serpente é um símbolo importante em todos os povos. Por
um lado, simboliza uma ameaça ao ser humano, por causa da picada venenosa. Ela
representa todos aqueles sentimentos peçonhentos e amargos que fazem mal à
alma. Muitas vezes a serpente é também um símbolo sexual. Por causa da troca de
pele, é também uma imagem da renovação do homem. No judaísmo era vista como
símbolo do pecado, porque foi a serpente que seduziu Eva. Mas, ao mesmo tempo,
era também um símbolo da inteligência. Em muitos povos, é símbolo do poder
curador de Deus. Como aquela serpente de bronze, Jesus é levantado e pregado na
haste da cruz. Quem olhar para esse Jesus na cruz será curado de suas feridas.
Para João, Jesus é médico divino que está ferido e pendurado na cruz. Entre os
gregos acreditava-se no princípio de que só o médico ferido era capaz de curar.
Asclépio, o deus grego da cura, é sempre representado com uma cobra enroscada
num bastão. Na cruz, Jesus satisfaz o desejo dos gregos pela cura. Na cruz se
manifesta a ferida mais profunda que nos ameaça, a ferida da morte. Se olharmos
para Jesus, seremos curados dela e de todas as demais feridas que a vida nos
causa, da amargura e dos sentimentos peçonhentos que surgem dentro de nós
quando somos rejeitados e magoados. A serpente que muda a pele remete à
renovação do homem. Jesus na cruz é para João a verdadeira renovação da existência
humana. Aí morre o velho eu. E aparece o homem novo nascido de Deus” (Anselm Grun
– Jesus: Porta para a Vida – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite