1. Riqueza e pobreza são temas
importantes no Evangelho de Lucas. Se a pobreza é uma das condições
fundamentais para a colher a salvação de Deus, a riqueza não partilhada
constitui um grande obstáculo a esta.
2. Nesse espírito acolhemos a voz de
Amós que se levanta contra aqueles que exploram os pobres e que não temem a
Deus, pouco se importando com os preceitos religiosos. Ele vê uma relação entre
essas duas realidades. Há também uma crítica à religião formal e exterior,
capaz de conviver com violências e injustiças.
3. Deus não é indiferente a tudo isso e
pode tornar-se um juiz extremamente severo. Mas seu objetivo não é punir ou
vingar-se, mas restabelecer a justiça, conforme reza em louvor o nosso
salmista.
4. A carta a Timóteo que estamos
acompanhando traz um outro tema que é a oração, aqui caracterizada pelo seu tom
universalista, que inspirou as preces que fazemos em nossas celebrações, sem
esquecer a ação de graças que caracteriza nosso encontro dominical.
5. A leitura do nosso evangelho requer
um certo cuidado em sua aparente contradição com a proposta de Jesus. A
narrativa não tem por fim aprovar o comportamento do administrador, aqui
claramente chamado de ‘desonesto’ e visto com ‘filho deste mundo’, mas chamar a
atenção dos ‘filhos da luz’.
6. O evangelho nos diz que temos algo a
aprender com eles: estar atentos, sermos ‘espertos’ e criativos, colocar nossos
talentos a serviço dos pobres, que serão nossos ‘amigos’ junto de Deus, pois
servir a um desses pequeninos, diz Jesus, é servir a Ele mesmo; assim
percebemos um pouco o jogo de intenções.
7. Assim nós podemos entender a crítica
do profeta entre o servir a Deus, dispondo com sabedoria os seus bens, ou
deixando de lado Deus e a vida eterna. Aqui retorna a temática da ilusão das
riquezas e do necessário desapego que Jesus insiste na formação dirigida aos
discípulos ao longo do caminho.
8. “Administrador” é palavra chave para
entendermos que nada nos pertence de maneira absoluta. Deus é o rico Senhor que
tudo colocou à nossa disposição, cabe a nós dispô-las conforme os projetos
divinos. O risco é desperdiçarmos os bens que nos foram confiados.
9. A proposta de Evangelho para
corrermos atrás do prejuízo, caso não tenhamos sabido administrar os bens
incluindo os pobres desse mundo, é nos tornando misericordiosos, sabermos
perdoar as dívidas, aliviar a carga do próximo. Eis o caminho que nos salva.
Quem tem ouvido para ouvir, ouça.
Pe. João Bosco Vieira Leite