23º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Sb 9,13-18; Sl 89[90]; Fm 9b-10.12-17; Lc 14,25-33).

1. O texto da 1ª leitura faz parte da conclusão da oração de Salomão para obter a Sabedoria. Ela é extremamente necessária, pois se é tão difícil entender as coisas do mundo, muito mais é compreender os desígnios de Deus e os Seus projetos sobre a nossa vida. Só a luz do alto pode nos revelar os caminhos do Senhor e permite caminhar por eles.

2. Se Salomão, que era considerado sábio deve pedi-la, com ele rezamos: “Enviai-a dos santos céus... do Vosso trono glorioso, para que ela me assista nos meus trabalhos e me ensine o que Vos é agradável’ (Sb 9,10).

3. Nessa mesma linha de pensamento o salmista constata a fragilidade e a inconsistência humanas, por isso pede aquilo que é mais importante: conhecer os caminhos do Senhor e saber dar sentido a uma vida breve, constantemente ameaçada, que só na bondade misericordiosa de Deus encontra alegria e paz.

4. Já conhecemos bem esse texto da carta de Paulo a Filemon que lhe chega sob os cuidados de Onésimo, um escravo fugitivo do próprio endereçado e que o apóstolo convertera na prisão. Ele volta livremente ao seu patrão, mas como cristão, assim Paulo põe em cheque a nova relação a ser estabelecida por causa da fé, como a lembrar-nos que a fé cristã interfere na modalidade de nossas relações com o outro.

5. Desde o capítulo 9 Jesus toma a decisão de subir para Jerusalém. Há um grupo que o segue. Esse seguimento comporta um aprendizado, por isso, vez ou outra, fala especificamente aos que o seguem. Quanto maior se torna o grupo de seguidores, Jesus impõe uma seleção mais radical, num apelo qualitativo.

6. É preciso colocá-lo no primeiro lugar, sem meias medidas, dando-lhe a precedência sobre tudo que deriva da carne e do sangue, inclusive sobre a própria vida. Sabedores que somos de Seu caminhar para cruz, Ele exige uma morte e uma ressurreição, uma nova vida que nasce da cruz que o discípulo leva em comunhão com Jesus.

7. É uma decisão que deve ser sempre reexaminada, na comparação que faz com a torre ou com a guerra a ser enfrentada. Investimentos de longa duração. Requer-se a constância, a perseverança, para garantir o sucesso da empreitada.

8. Se Lucas nos fala da misericórdia de Deus, também não esconde as suas exigências, e as acentua mais que os outros evangelistas. A nossa tradução substitui o ‘amar menos’ (odiar), por desapegar. Isso significa eliminar para sempre tudo que impede o seguimento. E isso se dá nas situações do dia a dia.

9. Filemon é levado por Paulo a compreender essa dinâmica do seguimento, no modo como acolherá o seu escravo batizado. E assim também compreendemos porque o tema da sabedoria nos vem proposto ao início de nossa reflexão. Precisamos dessa luz divina para entendermos e praticarmos o discipulado.   

10. “Ó Deus, vós sabeis como é difícil para nós lidar com as coisas da terra, e muito mais ainda com as celestes: dai-nos a sabedoria do vosso Espírito, para que, como verdadeiros discípulos, carreguemos a nossa cruz todos os dias atrás de Cristo vosso Filho” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado – Paulus).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite