15º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-27).

1. A nossa liturgia da Palavra se abre com um trecho do último discurso de Moisés, apelando ao povo que Deus lhe confiou, que não tratem a Lei do Senhor, os seus mandamentos, como algo estranho ou inacessível.

2. Assim o texto nos lança ao coração do evangelho. Jesus, a Palavra encarnada, responde ao mestre da Lei, com a parábola do samaritano, como se expressa, na prática, o amor a Deus e a observância dos mandamentos. Todos podem aprender e conservar dentro de si e por a Palavra em prática, pois essa se traduz em opções coerentes na vida.

3. O que está por traz da Palavra é a pergunta: nossa dificuldade, por um acaso, não seria uma carência de amor, denunciando que tal fonte já secou dentro de nós?

4. A liturgia também nos conduz a esse encontro com a carta aos Colossenses que ouviremos nos próximos domingos; ela parte desse hino complexo e original que anuncia em Cristo o sentido original da Criação, sua evolução e o seu fim.

5. Ao mesmo tempo apresenta a Cristo como cabeça dessa nova criação que é a Igreja; nela se prolonga a sua Encarnação e dela fez objeto de sua obra histórica de redenção e salvação. Outras verdades nos aguardam...

6. Em nosso evangelho, somos conduzidos com maestria ao seu coração pelo próprio autor, que nos mostra que o amor a Deus e ao próximo, que sempre fizeram parte da Lei, depende de opções práticas da vida, lançando a limitada compreensão de quem é o meu próximo a uma visão universal do ser humano, extrapolando critérios religiosos.

7. O problema não está em saber ‘quem é o meu próximo’, mas sim em como ‘tornar-me próximo’, tanto quanto Jesus se fez próximo pela sua Encarnação. O samaritano da parábola não está preocupado com o ‘saber’ da Lei, mas como o seu significado mais profundo.

8. “A pergunta de Jesus quer provocar em nós esta averiguação: consigo identificar, aqui e agora, quem é o meu próximo? Como é que posso inverter a lógica que me leva a classificar as pessoas só para favorecer alguma opção vantajosa? É porventura a de eu praticar uma religião que se preocupa em me resguardar de alguma pretensa contaminação, em vez de me impelir para a fragilidade ferida do irmão? Estou disposto a assumir uma misericórdia que não tem outros fins senão o de estar próximo, de socorrer? Só fazendo da pergunta de Jesus uma questão séria é que posso dar uma orientação certa ao desejo que me levou a perguntar: ‘Que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?’ (v.25)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

9. Jesus é a Palavra que se tornou próxima, acessível, que ilumina a nossa prática. Se nele, Deus cuida de mim, não deveria eu, por amor reconhecido, amar ao outro como a mim mesmo?

Pe. João Bosco Vieira Leite