(Ex 24,3-8; Sl 49[50]; Mt 13,24-30)
16ª Semana do Tempo Comum.
“O reino dos céus é
como um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio
seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora” Mt 13,24-25.
“Só Mateus conta a
parábola do joio no meio do trigo (13,24-30). As interpretações podem ser
várias. A primeira diz respeito à comunidade. Mateus conta essa parábola de
Jesus propositalmente contra os rigoristas dentro da comunidade. Certamente,
havia na comunidade em que Mateus atuava cristãos que aspiravam uma igreja
oura. Todos os pecadores deviam ser expulsos. Jesus combate esse rigorismo. A
comunidade será sempre composta de trigo e de joio. Jesus fala em lólio, uma
gramínea muito parecida com o trigo. Quem mondar o lólio muito cedo, corre o
risco de arrancar também o trigo, sobretudo porque as raízes das duas plantas
crescem entrelaçadas. Quando chega a época da colheita fica mais fácil
distinguir as duas. ‘Por causa disso, na Palestina, costumava-se deixar boa
parte do lólio até a colheita. Cabia ao ceifador que cortava os cereais com a
foice deixar cair o lólio para que esse fosse amarrado em feixes’ (Limbeck,
190). Assim como um bom ceifador, a comunidade também deve deixar crescerem
juntos os bons e os maus. Não lhe cabe exterminar os maus. Deus mesmo fará isso
na hora da colheita, pois só Deus tem o direito de julgar, os homens não. Mas a
parábola também pode ser vista como imagem da lama humana. Nesse caso, a alma é
o campo. De noite, quando estamos dormindo, isto é, quando vivemos a vida de
maneira inconsciente, o inimigo espalha a semente da erva daninha. Quando é dia
e quando olhamos conscientemente o campo de nossa alma, reparamos na erva
daninha que está crescendo junto com o trigo. Se teimássemos em arrancar o
joio, acabaríamos extraindo também o trigo. Então, não cresceria mais nada. Não
devemos ser perfeccionistas que não aceitam defeitos, porque o preço a ser pago
pelo perfeccionismo é a infertilidade. Como nem trigo mais há que possa
crescer, não sobrará nada que se possa colher. O trigo só se desenvolverá se
crescer junto com o joio, o que não significa que devemos permitir que o joio
prolifere. É necessário observá-lo para desbastá-lo, se for o caso. Só não
podemos extirpá-lo. É verdade que lá no fundo de nossa alma existe a tendência
a erradicar tudo o que é defeituoso. Mas se fizermos isso, a nossa alma ficará
infértil, de modo que o bem também deixará de crescer. Precisamos de muita
paciência e serenidade para deixar amadurecer os dois. Para tanto, precisamos
libertar-nos dessa compulsão de querer avaliar tudo. Recuso-me a avaliar o
trigo e o joio. Deixo crescer tudo, confiando em Deus, senhor da colheita, a
tarefa de julgar trigo e joio” (Anselm Grun – Jesus:
mestre da salvação – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite