(Is 55,10-11; Sl 33[34]; Mt 6,7-15)
1ª Semana da Quaresma.
“De fato, se vós perdoardes
aos homens, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará” Mt 6,14
“Quando o perdão se
faz real em nossa vida, quando perdoamos, sentimo-nos perdoados. Perdoar aqui e
agora, toca ao Pai Celeste. Jesus parece sempre insistir nisto: céu e terra estão
juntos; Deus e ser humano também. Mas, como o perdão é difícil para tantos,
talvez também para nós. Dificuldade em perdoar revela como estamos sempre
centrados em nós próprios, como nos relacionamos com a vida, com as pessoas,
com arrogância e achando-nos melhores. Qualquer ofensa que se apresenta a mim
fere-me em minhas pretensões de dominação e poder. A questão é: o que podemos
aprender com as ofensas, sofridas e cometidas? Como podemos amadurecer na vida,
na direção de Deus, com as ofensas dos outros e com minhas próprias? Jesus vai
direto ao ponto: as ofensas possibilitam em mim a experiência do perdão! Só
experimentamos o perdão se houver algo a perdoar, se houver algo a ser perdoado
em mim. E sempre há! Por isso, na oração do Pai nosso a ordem do perdão é:
primeiro nós, depois Deus! As palavras podem ser entendidas no seu primeiro
sentido: ‘perdoar as ofensas’, literalmente ‘perdoar o que nos devem’,
significa tornar-nos mais pobres. Se significa anular dívidas, então o perdão é
uma perda. A palavra que Jesus normalmente usa para perdão é pobre e banal.
Significa ‘deixar’, como em ‘deixa estar’ ou ‘deixar lá’. Ao dizer: ‘Perdoai as
nossas ofensas’ (ou ‘dívidas’), pedimos a Deus que ‘deixemos de lado’ as
dívidas que carregamos e que, assim, nos ‘deixe partir’ livres. É como pobre
que pedimos a Deus que não exija nada de nós, porque não possuímos nada para
lhe dar. Não está em nosso poder libertar o nosso passado do mal a que fomos
sujeitos. Também aí somos pobres: não podemos, de forma rápida, parar de sentir
a por vezes violenta dor do mal que nos foi feito. Perdoar nunca será algo
automático, como num estalar mágico dos dedos. Perdoar será sempre tarefa de
pessoas generosas e livres de si mesmas. – Ajuda-nos a perdoar a partir
do seu perdão anos, Senhor. Amém” (Adriano Freixo Pinto – Meditações
para o dia a dia [2015] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite