(Eclo 17,20-28; Sl 31[32]; Mc 10,17-27)
8ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus olhou para ele
com amor e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo que tens e dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me’” Mc 10,21.
“O episódio do jovem
rico acabou provocando apreensão entre os discípulos. Ele continua
escandalizando também muitos leitores atuais, porque parece exigir que vendamos
tudo que possuímos para poder seguir Jesus. Mas a intenção de Marcos não é
estabelecer uma norma que nos diga quanto podemos ter ou que deveríamos vender.
O que ele pretende mostrar com a narração desse encontro pessoal de um jovem
com Jesus é que, no caminho do seguimento, os discípulos precisam livrar-se em
seu íntimo de todo apego. O jovem está vivendo corretamente. Está cumprindo
todos os mandamentos. Jesus olha para ele e se afeiçoa dele, pois percebe que
tem vocação para coisas maiores, que vão além da observância dos mandamentos de
Deus. ‘Só te falta uma coisa; vai; o que tens, vende-o, dá aos pobres e terás
um tesouro no céu; depois, vem e segue-me’ (10,21). Jesus percebe as
potencialidades desse jovem. Por isso gostaria de estimular as forças que estão
dentro dele. Seu desafio é também um incentivo. Vender as posses não é uma
norma que se aplica a todos os que querem seguir Jesus. Certamente, Jesus
pretende chamar esse homem para o caminho que poderá realizar suas verdadeiras
possibilidades e capacidades. O rico ficaria realmente livre se vendesse seus
bens. Para outros seguidores de Jesus, não é dos bens que eles devem
desfazer-se; o que os atrapalha pode ser igualmente o próprio sucesso, sua própria
imagem de Deus, a imagem de si mesmo, suas concepções de vida, seus hábitos,
seus relacionamentos. Quem ler essa história do encontro de Jesus e o jovem
deverá expor-se também ao olhar perscrutador de Jesus. Quando me aproximo de
Jesus com tudo que possuo, oferecendo-lhe o meu coração, hei de descobrir o que
me impede de viver. A que estou me agarrando? Às vezes é um padrão de vida que
me compromete, mas que mesmo assim não quero largar, porque sei o que ele
significa para mim. Se o abandonasse não saberia o que vem depois. O
desconhecido dá medo. E esse medo me cerceia, impede minha liberdade. No jovem
do evangelho, o medo foi maior que o desejo da vida eterna, da verdadeira vida.
Por isso, ele se afastou com tristeza. O episódio está aí para me advertir: não
devo ficar triste e ir embora, devo separar-me daquilo que me amarra. Assim
experimentarei a liberdade e a amplidão no seguimento de Jesus” (Anselm Grun
– Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite