Quinta, 14 de março de 2019


(Est 4,17; Sl 137[138]; Mt 7,7-12) 
1ª Semana da Quaresma.

“Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta!” Mt 7,7.

“A característica da oração cristã é que ela é a oração de Cristo levada até seu Pai, de geração em geração, em situações constantemente renovadas, por aqueles que, pela graça e participação, são a presença de Cristo neste mundo; é uma oração a Deus incessante e contínua, para que a vontade de Deus seja feita, para que tudo aconteça de acordo com o seu plano cheio de sabedoria e amor. Quer isto dizer que a nossa vida de oração é, ao mesmo tempo, uma luta contra tudo que não seja de Cristo... Em vez de orarmos para que a vontade de Deus se cumpra, tentamos muitas vezes convencê-lo a fazer as coisas como nós queremos. Como não hão de falhar tais orações? Por melhor que rezemos, devemos capacitar-nos sempre que a nossa melhor ideia pode estar errada. Embora sincera, embora verdadeira as nossas intenções, embora perfeita, de acordo com as nossas luzes, toda a oração pode estar errada num dado momento, e é por isso que, depois de termos dito tudo o que tínhamos a dizer a Deus, devemos acrescentar como Cristo fez no jardim do Getsémani: ‘Todavia não seja como eu quero, mas como Tu queres’ (Mt 26,39). Com o mesmo espírito podemos servir-nos da intercessão dos Santos: entregamos-lhes as nossas intenções, que são boas, mas deixemo-los compô-las de acordo com a vontade de Deus, que eles conhecem. ‘Pedi e vos será dado’ (Mt 7,7). Estas palavras são um espinho na consciência cristã: nem podem ser aceitas nem podem ser rejeitadas. Rejeita-las, significaria uma negação da bondade infinita de Deus, mas ainda não somos suficientemente cristãos para as aceitarmos. Sabemos que o Pai nunca nos daria uma pedra em vez de pão (Mt 7,9), mas não nos consideramos crianças inconscientes das suas necessidades reais, do que é bom ou mal para elas. E, no entanto, encontra-se aqui a explicação de tantas orações sem respostas. ‘Não vos entristeçais se não receberdes imediatamente aquilo que pedis: Deus pretende conceder-vos um bem maior através da vossa perseverança na oração’. ‘Não será o silêncio de Deus o aspecto trágico da nossa surdez? ’ (A. de Chateaubriant). Quando Deus vê que se tem fé suficiente para aguentar o seu silêncio ou aceitar ser entregue aos tormentos, morais ou físicos, para um maior alargamento do seu Reino, pode conservar-se silencioso e no fim a oração será atendida, mas de uma maneira completamente diferente do que se esperava. S. Paulo diz, falando da oração de Cristo, no jardim do Getsémani, que esta oração foi ouvida (Hb 5,7), e Deus ergue-O de entre os mortos. S. Paulo não fala aqui de uma reposta imediata de Deus, que podia ter afastado o cálice como Cristo lhe pedia; mas, de fato, Deus deu a Cristo a força para o aceitar, para sofrer, para realizar sua obra e foi a sua fé absoluta que tornou possível a Deus dizer NÃO. Mas foi também esta fé absoluta de Cristo que tornou possível o mundo ser salvo. Muitas das nossas orações são orações de súplica e muita gente considera a petição como o nível mais baixo da oração, depois vem a gratidão e depois o louvor. Mas, de fato, a gratidão e o louvor é que são expressões de uma relação mais baixa. Ao nosso nível de meia-crença é mais fácil cantar hinos de louvor e ação de graças a Deus, do que confiar nele o bastante para lhe pedir algo com fé. Mesmo pessoas que creem com uma certa indiferença se podem voltar para Deus e agradecer-lhe quando lhe acontece qualquer coisa boa; e há momentos de elevação quando todos podem cantar a Deus. Mas é muito mais difícil possuir uma fé intensa e indivisa que se consiga suplicar de todo o coração o entendimento com inteira confiança” (A. Bloom – Oração Viva – Editorial Franciscana. Braga).

 Pe. João Bosco Vieira Leite