(Est 4,17; Sl 137[138]; Mt 7,7-12)
1ª Semana da Quaresma.
“Pedi e vos será
dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta!” Mt 7,7.
“A característica da
oração cristã é que ela é a oração de Cristo levada até seu Pai, de geração em
geração, em situações constantemente renovadas, por aqueles que, pela graça e
participação, são a presença de Cristo neste mundo; é uma oração a Deus incessante
e contínua, para que a vontade de Deus seja feita, para que tudo aconteça de
acordo com o seu plano cheio de sabedoria e amor. Quer isto dizer que a nossa
vida de oração é, ao mesmo tempo, uma luta contra tudo que não seja de
Cristo... Em vez de orarmos para que a vontade de Deus se cumpra, tentamos
muitas vezes convencê-lo a fazer as coisas como nós queremos. Como não hão de
falhar tais orações? Por melhor que rezemos, devemos capacitar-nos sempre que a
nossa melhor ideia pode estar errada. Embora sincera, embora verdadeira as
nossas intenções, embora perfeita, de acordo com as nossas luzes, toda a oração
pode estar errada num dado momento, e é por isso que, depois de termos dito
tudo o que tínhamos a dizer a Deus, devemos acrescentar como Cristo fez no jardim
do Getsémani: ‘Todavia não seja como eu quero, mas como Tu queres’ (Mt 26,39).
Com o mesmo espírito podemos servir-nos da intercessão dos Santos:
entregamos-lhes as nossas intenções, que são boas, mas deixemo-los compô-las de
acordo com a vontade de Deus, que eles conhecem. ‘Pedi e vos será dado’ (Mt
7,7). Estas palavras são um espinho na consciência cristã: nem podem ser
aceitas nem podem ser rejeitadas. Rejeita-las, significaria uma negação da
bondade infinita de Deus, mas ainda não somos suficientemente cristãos para as
aceitarmos. Sabemos que o Pai nunca nos daria uma pedra em vez de pão (Mt 7,9),
mas não nos consideramos crianças inconscientes das suas necessidades reais, do
que é bom ou mal para elas. E, no entanto, encontra-se aqui a explicação de
tantas orações sem respostas. ‘Não vos entristeçais se não receberdes
imediatamente aquilo que pedis: Deus pretende conceder-vos um bem maior através
da vossa perseverança na oração’. ‘Não será o silêncio de Deus o aspecto
trágico da nossa surdez? ’ (A. de Chateaubriant). Quando Deus vê que se tem fé
suficiente para aguentar o seu silêncio ou aceitar ser entregue aos tormentos,
morais ou físicos, para um maior alargamento do seu Reino, pode conservar-se
silencioso e no fim a oração será atendida, mas de uma maneira completamente
diferente do que se esperava. S. Paulo diz, falando da oração de Cristo, no
jardim do Getsémani, que esta oração foi ouvida (Hb 5,7), e Deus ergue-O de
entre os mortos. S. Paulo não fala aqui de uma reposta imediata de Deus, que podia
ter afastado o cálice como Cristo lhe pedia; mas, de fato, Deus deu a Cristo a
força para o aceitar, para sofrer, para realizar sua obra e foi a sua fé
absoluta que tornou possível a Deus dizer NÃO. Mas foi também esta fé absoluta
de Cristo que tornou possível o mundo ser salvo. Muitas das nossas orações são
orações de súplica e muita gente considera a petição como o nível mais baixo da
oração, depois vem a gratidão e depois o louvor. Mas, de fato, a gratidão e o
louvor é que são expressões de uma relação mais baixa. Ao nosso nível de
meia-crença é mais fácil cantar hinos de louvor e ação de graças a Deus, do que
confiar nele o bastante para lhe pedir algo com fé. Mesmo pessoas que creem com
uma certa indiferença se podem voltar para Deus e agradecer-lhe quando lhe
acontece qualquer coisa boa; e há momentos de elevação quando todos podem
cantar a Deus. Mas é muito mais difícil possuir uma fé intensa e indivisa que
se consiga suplicar de todo o coração o entendimento com inteira confiança” (A. Bloom – Oração Viva –
Editorial Franciscana. Braga).
Pe. João Bosco Vieira Leite