Sábado, 23 de março de 2019


(Mq 7,14-15.18-20; Sl 102[103]; Lc 15,1-3.11-32) 
2ª Semana da Quaresma.

“Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou 
e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu de beijos” Lc 15,20.

“Os sentimentos que eu gostaria de ter na hora da minha morte são os que tenho atualmente: pensar que eu vou descobrir a Ternura. É impossível que Deus me decepcione, a simples hipótese é monstruosa! Eu irei a ele e dir-lhe-ei: não me prevaleço de nada a não ser de ter acreditado em tua bondade. Aqui está, de fato, a minha força, toda a minha força. Se esta força me abandonasse, se esta confiança no amor me deixasse, tudo estaria acabado, porque não tenho a consciência de valer sobrenaturalmente coisa alguma; e se é preciso ser digno da felicidade para possuí-la, seria melhor renunciar a ela. Mas, quanto mais eu avanço em idade, tanto mais vejo que tenho razão meu Pai como a ‘Indulgência infinita’. E que os mestres da vida espiritual digam o que quiserem, falem de justiça, de exigências, de temores; para mim, o meu juiz é aquele que todos os dias subia à torre e olhava ao longe para ver se o filho pródigo voltava para ele. Quem não gostaria de ser julgado por ele? São João escreveu: aquele que teme ainda não é perfeito no amor (1Jo 4,18). Eu não tenho medo de Deus, não tanto porque O amo, mas porque sei que sou amado por Ele. E não sinto necessidade de perguntar por que meu Pai me ama ou o que é que ele ama em mim. Eu ficaria, aliás, muito embaraçado para responder; seria mesmo até incapaz de responder. Ele me ama porque é amor, e basta que eu aceite ser amado por ele para sê-lo efetivamente. Mas é preciso que eu faça esse gesto pessoal de aceitar. Isso é exigido pela dignidade, pela própria beleza do amor. . amor não se impõe, mas se oferece. Ó meu Pai, obrigado por me amar! E não sou eu que vos gritaria que sou indigno! Em todo caso, amar-me tal como eu sou, o que é digno de vós, digno do amor essencial, digno do amor essencialmente gratuito! Como este pensamento me encanta! Eis-me ao abrigo dos escrúpulos, da falsa humildade desanimadora, da tristeza espiritual. As pessoas pensam habitualmente demais em si mesmas e não bastante nele. Há infelizes teólogos que parecem ter medo (sem confessá-lo) de mostrar um Deus muito bom – isto é, muito belo. ‘Ele é bom, mas não é fraco’, dizem eles. Mas uma bondade que não vai até uma certa fraqueza (aquilo que a dureza do nosso coração chama de fraqueza) é a bondade daquele que tem medo de encorajar os mendigos à preguiça e calcula sua esmola. Como meu Pai é maior e mais belo quando ele é fraco por amor! A cruz me dá razão” (A. Valesin - La Joie dans la Foi – Aubier, Paris 1955).  

Pe. João Bosco Vieira Leite