(Mq 7,14-15.18-20; Sl 102[103]; Lc 15,1-3.11-32)
2ª Semana da Quaresma.
“Então ele partiu e
voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou
e sentiu
compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu de beijos” Lc 15,20.
“Os sentimentos que
eu gostaria de ter na hora da minha morte são os que tenho atualmente: pensar
que eu vou descobrir a Ternura. É impossível que Deus me decepcione, a simples
hipótese é monstruosa! Eu irei a ele e dir-lhe-ei: não me prevaleço de nada a
não ser de ter acreditado em tua bondade. Aqui está, de fato, a minha força,
toda a minha força. Se esta força me abandonasse, se esta confiança no amor me
deixasse, tudo estaria acabado, porque não tenho a consciência de valer
sobrenaturalmente coisa alguma; e se é preciso ser digno da felicidade para
possuí-la, seria melhor renunciar a ela. Mas, quanto mais eu avanço em idade,
tanto mais vejo que tenho razão meu Pai como a ‘Indulgência infinita’. E que os
mestres da vida espiritual digam o que quiserem, falem de justiça, de
exigências, de temores; para mim, o meu juiz é aquele que todos os dias subia à
torre e olhava ao longe para ver se o filho pródigo voltava para ele. Quem não
gostaria de ser julgado por ele? São João escreveu: aquele que teme ainda não é
perfeito no amor (1Jo 4,18). Eu não tenho medo de Deus, não tanto porque O amo,
mas porque sei que sou amado por Ele. E não sinto necessidade de perguntar por
que meu Pai me ama ou o que é que ele ama em mim. Eu ficaria, aliás, muito
embaraçado para responder; seria mesmo até incapaz de responder. Ele me ama porque
é amor, e basta que eu aceite ser amado por ele para sê-lo efetivamente. Mas é
preciso que eu faça esse gesto pessoal de aceitar. Isso é exigido pela
dignidade, pela própria beleza do amor. . amor não se impõe, mas se oferece. Ó
meu Pai, obrigado por me amar! E não sou eu que vos gritaria que sou indigno!
Em todo caso, amar-me tal como eu sou, o que é digno de vós, digno do amor
essencial, digno do amor essencialmente gratuito! Como este pensamento me
encanta! Eis-me ao abrigo dos escrúpulos, da falsa humildade desanimadora, da
tristeza espiritual. As pessoas pensam habitualmente demais em si mesmas e não
bastante nele. Há infelizes teólogos que parecem ter medo (sem confessá-lo) de
mostrar um Deus muito bom – isto é, muito belo. ‘Ele é bom, mas não é fraco’,
dizem eles. Mas uma bondade que não vai até uma certa fraqueza (aquilo que a
dureza do nosso coração chama de fraqueza) é a bondade daquele que tem medo de
encorajar os mendigos à preguiça e calcula sua esmola. Como meu Pai é maior e mais
belo quando ele é fraco por amor! A cruz me dá razão” (A. Valesin
- La Joie dans la Foi – Aubier, Paris 1955).
Pe. João Bosco Vieira Leite