Dedicação da Basílica do
Latrão.
“No templo, encontrou
os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam ali
sentados” Jo 2,13-22.
“Estamos solenemente
reunidos para a consagração de uma casa de oração. Este templo é a casa de
nossas orações; a casa de Deus, porém, somos nós. Nós que, edificados durante
esta vida, seremos consagrados no fim do mundo. A construção do edifício exige
trabalho, mas a sua consagração só traz alegria. A reunião dos fiéis traz-nos
agora à lembrança o que aqui se passou quando se levantaram estas paredes. Ao
abraçarem a fé, são os cristãos, de alguma forma, como que as árvores cortadas na
floresta ou as pedras extraídas da montanha. Depois de instruídos, batizados,
formados na vida cristã, podemos considera-los como que talhados, modelados,
polidos pelas mãos do operário e do artista. Para constituírem, porém, a casa
do Senhor, devem ser ainda solidamente cimentados pelo amor. Ninguém entraria
neste templo se essas madeiras e pedras não fossem cuidadosamente encaixadas e
aderidas pacificamente umas às outras, ligadas entre si como em amor mútuo.
Pois, só se penetra com segurança num edifício e sem receio de catástrofe,
quando a construção apresenta firmeza. O Cristo, querendo entrar e habitar em
nós, começa a construir: ‘Eu vos dou um mandamento novo: que vos ameis uns aos
outros’ (Jo 13,34). ‘Um mandamento novo’, porque estais antiquados. Ficais
alojados em escombros, em vez de construir uma casa. Se quiserdes sair dessa
ruína, amai-vos uns aos outros. Meus irmãos, no universo inteiro, conforme o
que foi predito e prometido, trabalha-se na construção dessa casa. Ao
reconstituírem o templo de Deus, após o cativeiro, os judeus exclamaram,
repetindo o salmo: ‘Cantai ao Senhor um canto novo, toda terra louve ao Senhor’
(Sl 95,1). Esse canto novo é o mandamento do Cristo. Como poderia o canto ser
novo, senão por um amor renovado? O canto é a linguagem do amor; a voz que
canta é o fervor do amor. Amemos, amemos sem medida, porque Aquele que amamos é
o Senhor, acima de todos os bens! Amemo-lo por Ele, nele e para Ele.
Verdadeiramente ama o amigo, aquele que ama a Deus em seu amigo, ou porque Deus
vive no amigo, ou para que venha nele a viver. Eis aí o verdadeiro amor. Amar
por outro motivo já não é mais amor, é ódio” [S. Agostinho (sermão 336)
– O amor fraterno – Leituras do Povo de Deus – Editora
Beneditina].
Pe. João Bosco Vieira Leite