(3Jo 5-8; Sl 11[112]; Lc 18,1-8)
32ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus contou aos
discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca
desistir...” Lc 18,1.
“Um dos motivos da
oração é a necessidade de pedir, interceder, de gritar a Deus nossos
sofrimentos e nossas misérias. Os salmos são talvez o apanhado mais admirável
de todos os gritos da humanidade, - diria mesmo os gritos mais primitivos, mais
espontâneos do homem. Há mesmo apelos à vingança. Mas esses gritos são
autênticos, e o homem a exprimir-se tal qual é, o homem que sofre, o homem
esmagado, escandalizado pela injustiça. A mais alta intercessão é a de Jesus. A
única eficaz e é a razão por que toda oração de intercessão consiste em entrar
na oração de Cristo. Mas temos que ir adiante, no que diz respeito à oração de
petição, a fim de responder às objeções... É preciso primeiramente dizer que a
oração de petição nos foi ensinada pelo próprio Jesus, pois quando ele nos fala
da oração, trata-se quase sempre da oração de petição: ‘Pedi e recebereis’; as
parábolas do amigo importuno e da viúva que molesta o juiz são significativas.
Há, em nossos dias, como sabem, uma corrente ideológica que repousa numa concepção
corrente determinista da história. Ora, o que é curioso é que os homens e as
sociedades impregnadas dessa ideologia, em lugar de se comportarem como
deterministas, isto é, de sofrerem passivamente o curso das coisas, mostram-se,
pelo contrário, entre os mais ativos e os mais dinâmicos para tentar romper
esse determinismo, como se ele se exprimisse através deles na dinâmica da ação
humana. Por outro lado, nós, cristãos, que recusamos esse determinismo, que
cremos na liberdade do homem, no livre arbítrio, parecemos menos dinâmicos.
Pode-se, realmente, dizer que nos refugiamos na oração? É uma expressão por
vezes empregada e precisamos precaver-nos porque ela pode ser mal interpretada.
Refugiamo-nos na oração com se fugíssemos de nossa própria responsabilidade na
ação, ou como se duvidássemos de seu efeito. Parece-me que a oração
impetratória deve continuar tão intensa, tão profunda como nunca no coração dos
cristãos, mas que a natureza da petição talvez deva modificar-se. Rezemos pela
paz. Mas poderemos realmente rezar pela paz, se ao mesmo tempo não fazemos tudo
que está ao nosso alcance e mesmo mais – e com maior dinamismo possível para
encontra-la? Eis o problema. Precisamos cuidar de não dar a impressão, por
nosso modo de falar da oração, de nos eximir-nos diante das responsabilidades
humanas, como se Deus sozinho pudesse resolver as coisas. Parece-me que a
imensa oração que deveria surgir do coração dos homens seria, não de rogar a
Deus que nos dê a paz, e sim para que os homens tenham lucidez, a coragem e a
capacidade de trabalhar para estabelece-la. Porque existe no mundo um mistério
que nenhuma ciência, nenhuma sociologia, nenhuma lei econômica poderá penetrar,
que nenhuma estatística poderá prever: é a liberdade do coração do homem. É
nesta profundidade que se decide o mistério da ação divina e da graça, que se
decide finalmente a sorte dos homens” (R. Voillaume – Com Cristo
Jesus – Paulinas).
Pe. João Bosco Vieira Leite