(1Cor 3,18-23; Lc 23[24]; Lc 5,1-11)
22ª Semana do Tempo Comum.
“Simão respondeu:
‘Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas em atenção à tua palavra,
vou lançar as redes’” Lc 5,5.
“Mar adentro!,
diz-nos Jesus. Não fiques nesse fracasso. Regressa ao ponto de partida!
Recomeça! O segredo de todos os progressos e de todas as vitórias está, na
verdade em saber recomeçar, em tirar ensinamentos de um fracasso e depois
tentar de novo. Recomeçar, mas não para reproduzir quedas passadas e inúteis.
Recomeçar, evitando os erros e corrigindo as imperfeições anteriores, para
fazer melhor, para avançar mais profundamente, para ir mais longe. Mar
adentro! O gênio é uma longa paciência, o que não significa uma espera
inútil, mas um esforço que se retoma sempre e se melhora sem cessar. O
cientista refaz os seus cálculos e renova as suas experiências, modificando-as
até acertar com o objeto de sua pesquisa. O escritor retoca vinte vezes a sua
obra. O escultor quebra um após outro os seus moldes enquanto não consegue
exprimir a sua criação interior. Para obter o esmalte que pretende, Bernard
Palissy recomeça indefinidamente os seus cozimentos. É pobre e não tem madeira
para alimentar o forno, mas lança nele os móveis e até o assoalho da sua
casa... é lógico que deparamos com esta lei quando se trata de criações
espirituais. Se o artista somente chega a ser senhor do seu instrumento depois
de anos de exercício pacientemente recomeçado, podermos nós adquirir o domínio
de nós mesmos a não ser pela repetição de esforços, num grau de dificuldade
cada vez maior? O autor da Imitação de Cristo indica a verdadeira causa da
mediocridade moral a que frequentemente nos condenamos: o medo das dificuldades
ou o cansaço da luta. Um defeito só se corrige quando se luta sem tréguas e o
combate nos cansa. Só progredimos numa virtude quando a todo o momento
superamos novas dificuldades, muito embora a nossa natureza ame o fácil. E, no
entanto, quereríamos ser perfeitos... Quereríamos...! Eis o funesto condicional
dos inconstantes. Os que triunfam são os que só conjugam o verbo ‘querer’ no
presente. Eu quero os meios porque quero o fim. Eu quero sempre, ainda que o
resultado tarde em ser obtido. Eu quero sempre, ainda que os resultados sejam
insignificantes, nulos ou mesmo adversos. ‘É preciso menos tempo que coragem
para fazer um santo’ (Olivaint)” (Georges Chevrot - Simão
Pedro – Quadrante).
Pe. João Bosco Vieira Leite