Quarta, 5 de setembro de 2018


(1Cor 3,1-9; Sl 32[33]; Lc 4,38-44) 
22ª Semana do Tempo Comum.

“Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males os levaram a Jesus. Jesus colocava as mãos em cada um deles e os curava” Lc 4,40.

“A Tradição viu em Lucas também o médico, já que ele domina a linguagem médica. Em nenhum outro evangelho as palavras iomai, ‘curar’, e therapeuein, ‘restabelecer a saúde’ são tão frequentes como em Lucas. Cristo é aquele que traz saúde para o ser humano e cura as suas feridas. Lucas desenvolve assim o seu entendimento de doença e cura, com base na antropologia grega. Para os gregos, o ideal do ser humano era o Kalos K’agathos, ‘belo e bom’. O ser ‘belo e bom’ expressava-se na saúde. Uma alma sadia mora num corpo sadio (mens sana in corpore sano). O homem sadio, segundo Platão, é aquele no qual todas as partes da alma vivem em harmonia recíproca. À saúde pertence também a moral. E a medida certa. Quem só se preocupa com a saúde, como certos atletas, não é realmente sadio. Decisivo é que no homem saudável tudo obedece à justa medida. Quando alguém está doente, sua dignidade é prejudicada, e a harmonia da sua alma fica perturbada. Curar alguém é restituir-lhe a dignidade e a harmonia humanas. [...] O sábado é o dia em que Deus descasou de sua obra, e viu que a criação estava boa. A cura é para Lucas o restabelecimento da boa criação. Quando Jesus cura uma pessoa, ele completa a obra do Pai, e torna visível como o ser humano havia sido planejado, como obra siando das mãos de Deus. Nessa combinação da imagem grega do homem com a ideia bíblica de beleza e da perfeição originais da criação mostra-se a maestria do escritor teólogo Lucas. Ele anuncia a sua mensagem de tal maneira que tanto judeu como gregos a possam entender e amar, da mesma maneira. E ele nos oferece, também a nós, uma visão de doença e cura que entendemos. A psicologia moderna descobriu novamente a união entre o corpo e alma. Muitas doenças são psicossomáticas. Afetam corpo e alma. A cura nunca atinge somente o corpo; restitui também a alma. Trata-se sempre da pessoa inteira, de fazê-la voltar àquela forma que lhe compete da parte de Deus. Pela doença, sua forma, originalmente intata, foi deformada. A cura é uma reorganização, uma reforma, segundo aquilo que é original e próprio no ser humano” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite