(Ez 2,2-5; Sl 122[123]; 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6)
1. Para nos introduzir na compreensão
do evangelho, onde Jesus aparece como um profeta em meio aos seus conterrâneos
e sua rejeição por parte dos mesmos, a 1ª leitura nos coloca alguns aspectos da
missão profética a partir do chamado de Ezequiel.
2. Chamado por Deus, característica
fundamental, mesmo sendo um ser humano como os outros em sua condição e
fragilidade, ele é enviado a levar a mensagem a gente de cabeça dura e coração
de pedra, como os contemporâneos de Jesus. Certas coisas não mudam.
3. Dele se espera que leve a Palavra
adiante. Para isso, deve ter um espírito de atenta escuta. Não é alguém que
opera coisas extraordinárias, nem está preocupado com resultados. Ele só
precisa ser fiel ao que lhe é pedido. Nesse breve quadro a liturgia quer
recordar o nosso batismo e que somos também profetas.
4. O profeta não é ninguém isento das
dificuldades comuns da vida, não se sente um privilegiado. Assim lembra Paulo,
que carrega consigo uma limitação, ‘um espinho na carne’, que até hoje os
estudiosos não chegaram a um consenso do que se trata. Mas Paulo vê nessa
situação uma graça: não se corre o risco de confundir o mensageiro com a
mensagem. Jesus também parece frágil, diante das expectativas do seu povo.
5. Tanto Ezequiel, como Paulo, passam
por esse critério das escolhas de Deus que muitas vezes não correspondem às
nossas expectativas; onde a fragilidade humana permite à graça divina uma maior
atuação. Esse mesmo critério entra no mistério da encarnação.
6. Entramos com Jesus em Nazaré, onde
os sentimentos de admiração e escândalo dominam os habitantes locais ao verem
em quem se tornou o jovem carpinteiro, Sua fama o precede. Ele chega com sua
nova família, os discípulos que o seguem e tentam compreender o Seu mistério.
7. Do outro lado, o texto nos apresenta
seus conterrâneos que, presos às suas tradições religiosas sobre o Messias
esperado, concluem que Jesus não se encaixa em tal perfil. E aqui está o cerne
do escândalo, da contradição e, consequentemente, da separação.
8. Assim também nos encontramos diante
de um atuar de uma Igreja que não se faz mais tão incisiva, que não demonstra
poder, que não impõe, apenas, como Jesus, propõe um caminho de salvação. E quem
abraçar tal caminho tenha consciência que pode se tornar um sinal de
contradição para os demais.
Pe. João Bosco Vieira Leite