(Est 5,1-2; 7,2-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13.15-16; Jo 2,1-11) *
1.
Cada vez que Nossa Senhora se manifesta, através dos séculos, comunica uma
mensagem universal, e, ao mesmo tempo uma mensagem nacional. Assim foi em
Guadalupe, em Fátima, em Lurdes, na Polônia. E não só isso, há também uma certa
identificação com a cultura local em suas aparições.
2.
Nossa Senhora da Conceição Aparecida é mãe do Brasil. Se há um “Brasil
brasileiro”, há também uma Maria brasileira. Ela é a terra brasileira feita
pessoa, a realidade brasileira assumida e aperfeiçoada pela graça de Deus. E o
que nos ensina nossa mãe – porque mãe é sempre mestra – a respeito de nós e da
nossa missão?
3.
Primeiro ela mostra a ligação íntima do Brasil com as coisas básicas, simples,
elementares da criação. Nossa Senhora Aparecida não é nenhuma estátua de
marfim, nem de mármore, nem sequer de gesso. Ela é feita de barro, e encontrada
num rio.
4.
Terra e água: os elementos mais densos, mais primitivos! Matéria prima cheia de
energia e possibilidades. De barro o 1º homem foi feito; todos os seus filhos e
filhas igualmente: um corpo de barro em cujas narinas Deus soprou o vento da
vida. Seremos felizes se não perdermos de vista a verdade de nossa humanidade.
5.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida, com feições tão características da arte
portuguesa, começou sendo de uma cor e acabou sendo de outra. Através do tempo,
parece, o óleo dos lampiões a tornou mais escura, mais negra.
6.
Certamente, aqui Maria é mãe do Brasil, mãe cuja pele reflete a mistura das
variadas etnias e raças: indígena, portuguesa, africana, italiana, alemã,
polonesa, japonesa, libanesa, e por aí vai. Agora, nossa Senhora é cor de
cacau, cor de café.
7.
Mesmo assim, cada brasileiro nela reconhece suas próprias feições. Nesses
tempos em que vemos ressurgir determinadas lendas e aspirações à pureza de
sangue e a eugenia (saneamento ético) ou mesmo a certos posicionamentos
discriminatórios – não poderia o rosto pacífico de nossa mãe brasileira
oferecer um testemunho acreditável da nossa unidade em Deus, da possibilidade
de uma sintonia universal das tribos humanas?
8.
Finalmente, como sabemos, a estátua foi encontrada por pescadores em dois
pedaços – 1º o corpo e depois a cabeça. Faz parte do milagre da ‘aparição’ que
a cabeça, encontrada num novo lance de rede, correspondesse, exatamente, ao
corpo que acabava de ser retirado do fundo rio.
9.
Contemplamos, então, uma mãe quebrada, e depois sanada, uma mãe ‘reconstruída’
pelos filhos. Talvez haja aqui a mais forte das alegorias da nossa mãe
brasileira. Sim, a história da Colônia era uma história muito sofrida –
escravidão, exploração, solidão dos bandeirantes nos grandes espaços do país,
aniquilação quase total dos indígenas sob o peso do trabalho forçado, distinção
enorme entre latifundiários e camponeses.
10.
Ficou – e fica – aos filhos a tarefa de ‘consertar’ a mãe, de guia-la pela mão
dos mistérios dolorosos do passado para os mistérios gloriosos do futuro. Na
imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o brasileiro vê simbolizado o
cumprimento de seus esforços de construir uma sociedade sã, um apelo a
continuar firme no seu compromisso. Não só no campo social, mas também na sua
fé.
11.
Claro, Maria é mais do que o Brasil, e nem toda a realidade atual do Brasil é
mariana. Entretanto, a graça de Maria paira sobre o Brasil, anima o Brasil. Um
poeta alemão do século XVIII (o século da aparição de Nossa Senhora no rio
Paraíba), escreveu: “A mulher eterna nos leva para a frente”.
* Com base em texto de Dom
Bernardo Bonowitz, ocso
Pe.
João Bosco Vieira Leite