(Gn 2,18-24; Sl 127[128]; Hb 2,9-11; Mc 10,2-16)
1.
As leituras bíblicas desse domingo falam sobre o matrimônio. Mas, de modo mais
radical, falam sobre o desígnio da criação, da origem e, portanto, de Deus.
Esse senhorio de Deus que as crianças sabem acolher melhor que os adultos, e é
por isso que Jesus as indica como modelo para entrar no Reino dos Céus.
2.
A indissolubilidade do casamento já não é coisa evidente, no mundo de hoje, nem
mesmo para os católicos. E no tempo de Jesus era? A resposta exige cuidado. O
matrimônio não era exatamente igual ao matrimônio católico sacramental de hoje.
3.
Entre os pagãos greco-romanos, o divórcio era moeda corrente. Entre os judeus,
era bastante comum o homem repudiar ou dispensar a mulher. O que se discutia
era as circunstâncias, não tanto o princípio. É no rol dessas discussões que
querem inserir Jesus.
4.
Jesus segue seu caminho para Jerusalém onde deverá morrer, e tudo o que nos diz
nessa metade do evangelho de Marcos, deve ser entendido em meio a essa nova
dimensão.
5.
Para testar Jesus, notório defensor da mulher naquela sociedade machista,
perguntam se o homem pode despachar a mulher, coisa que nenhum rabino punha em
dúvida. Como de costume, Jesus devolve a pergunta: ‘Que vos ensinou Moisés?’.
6.
Eles apresentam o que está na Lei. Jesus, então, desmascara a crueldade dessa
prática que Moisés tentou amenizar. Mas antes de Moisés existe o desígnio de
Deus que se revela na criação, conforme a 1ª leitura. Portanto, o homem não
separe o que Deus uniu.
7.
Jesus defende a mulher contra o abuso do repúdio. Mas sua argumentação repousa
no plano inicial de Deus e respeito do amor matrimonial: que os dois constituam
uma só vida, da qual não se pode amputar uma parte sem danos tremendos.
8.
Conhecemos os danos produzidos por uma separação. Por isso, na sua conclusão
final, Jesus não adverte apenas os homens, mas também as mulheres.
9.
Achamos duro? Jesus não é legalista. Jesus não trata da questão se um parceiro
honesto, abandonado, mas necessitado de companhia para a vida, pode participar
da comunidade eclesial, e de que modo. Esta é uma questão para os pastores
hoje.
10.
Jesus defende o amor de Deus, e defende-o até a morte, que irá acontecer em
breve. Por isso iguala a prática ‘aceita’ de repudiar a parceira ao adultério,
que era considerado gravíssimo e punido de morte. Só compreende tal
radicalidade no amor (não na rigidez!) quem está seguindo Jesus pelo mesmo
caminho. Ser discípulo dele traz consigo essa compreensão.
Pe.
João Bosco Vieira Leite