Sexta, 01 de novembro de 2024

(Fl 1,1-11; Sl 110[111]; Lc 14,1-6) 30ª Semana do Tempo Comum.

“Diante de Jesus, havia um hidrópico” Lc 14,2.

“Também a segunda das duas curas só encontradas em Lucas é feita num sábado: a cura de um hidrópico (Lc 14,1-6). Aqui a cura é apenas rapidamente encenada. Decisiva é a ideia de que a cura não é um trabalho humano, e sim uma obra de Deus. Os médicos gregos sempre voltam a falar a hidropisia. Só célebre médico Galeno menciona quarenta e oito vezes a hidropisia, e indica várias receitas para curá-la (cf. Bovon, p. 471). A hidropisia manifesta-se por inchações, sobretudo da barriga. Ela enfraquece o coração e pode levar a uma morte súbita. Na tradição judaica a hidropisia é vista sobretudo como consequência de excessos sexuais ou de calúnias ou da idolatria (o bezerro de ouro). Segundo os rabinos, o ser humano é composto de água e sangue. Quem perde seu equilíbrio, vivendo sem virtudes, torna-se ou hidrópico ou leproso. No último caso, é porque o sangue prevaleceu (Bovon, p. 472). Hoje diríamos: quando alguém perde as medidas, quando exige demais de si mesmo, também seu corpo reage caoticamente. A harmonia entre os diversos humores e perturbada. Aí, portanto, o que importa é a medida certa. O ser humano é sadio quando vive de acordo com a sua natureza. Tornando-se desgarrado, fica doente. Cura significa: redescobrir a justa medida, e viver” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).       

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 31 de outubro de 2024

(Ef 6,10-20; Sl 143[144]; Lc 13,31-35) 30ª Semana do Tempo Comum.

“Eis que vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo, não me vereis mais, até que chegue o tempo em que vós mesmos direis: ‘Bendito aquele que vem em nome do Senhor’” Lc 13,35

“Este é o versículo de um salmo relacionado com as grandes festas de peregrinação, especialmente a dos Tabernáculos, que tinha expressivo sentido messiânico. Este será o louvor messiânico que, na parusia, o mundo dos discípulos fiéis de Jesus Cristo ofertará na segunda vinda do Salvador, e esse louvor será como que a síntese e o resumo de toda a obra redentora do Salvador: terá passado o tempo da provação e da tentação, da dor e dos sofrimentos, das dificuldades e das perseguições, e, então, restará somente o hino de louvor e de gratidão que a criação inteira haverá de entoar a seu Senhor e Redentor: ‘Bendito aquele que vem em nome do Senhor’ (v. 35). No entanto, você pode adiantar esse momento de glória para o Senhor, fazendo com que, em sua vida, em seus atos bons se glorifique Jesus; você deve se esforçar para que cada um de seus atos, de seus sentimentos, de seus pensamentos, de seus projetos e realizações, estejam em conformidade com a vontade de Deus e formem como que um hino de louvor à Providência de Deus que, em você, com em Maria Santíssima, fez maravilhas. Dia após dia, você vai recebendo de Deus inumeráveis favores que, devido à quantidade e sucessão ininterrupta, sequer contá-los se consegue; você não pode imaginar um só momento em sua vida em que não esteja sendo objeto da predileção amorosa de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de outubro de 2024

(Ef 6,1-9; Sl 144[145]; Lc 13,22-30) 30ª Semana do Tempo Comum.

“Servi de boa vontade, como se estivésseis servindo ao Senhor, e não a homens” Ef 6,7.

“A exortação familiar prossegue considerando o relacionamento entre pais e filhos (vv. 1-4) e entre escravos e senhores (vv. 5-8). Note-se como o autor da Carta continua a avançar por um duplo trilho: por um lado, assume a hierarquia ditadas pela cultura do tempo; por outro, interpreta-as mediante considerações geradas pela sua fé. [Compreender a Palavra:] A atitude que se requer nos filhos para com os pais é a da obediência, segundo o mandamento bíblico (cf. Ex 20,12; Dt 5,16), ao passo que aos pais é pedida atenção na intervenção educativa. Os castigos corporais dos filhos eram, ao mesmo tempo, costume habitual, e o texto presente convida à moderação. A referência, perturbadora para nossa mentalidade, à realidade dos escravos compreende-se enquanto eles eram considerados parte integrante da família. Embora sem contestar explicitamente a instituição da escravidão, o autor recorda o axioma bíblico pelo qual todos estão sujeitos ao senhorio divino, o qual não faz acepção de pessoas, isto é, não tem em conta os poderes humanos, mas intervém preferencialmente a favor do pobre oprimido (cf. Dt 10,17; Eclo 35,11-23). Deste modo, a autoridade dos senhores sobre os escravos é fortemente relativizada, porque também os senhores, no fundo, são associados aos seus escravos em relação a Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de outubro de 2024

(Ef 5,21-33; Sl 127[128]; Lc 13,18-21) 30ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus dizia: ‘A que é semelhante o Reino de Deus e com o que poderei compará-lo?” Lc 13,18.

“A caminho de Jerusalém, Jesus alertou os discípulos a respeito do que estavam para enfrentar, servindo-se de duas pequenas parábolas. Assim, oferecia a seus seguidores elementos para interpretarem a paixão e a morte de cruz, e, também, os convidava a não nutrir falsas expectativas a respeito do Mestre. O grão de mostarda que, de insignificante, se torna uma árvore frondosa serve como símbolo das dimensões iniciais modestas do Reino anunciado e vivido por Jesus e o destino glorioso que lhe está reservado. Não é possível, portanto, atingir a glória, sem experimentar a derrota, a cruz e a morte. Seria ilusório esperar que Jesus implantasse o Reino de Deus, fazendo-o entrar na história humana de maneira esplendorosa, sem passar pelo crivo do sofrimento. Mas, também, a cruz não deveria levar os discípulos a perderem suas esperanças. Ela era uma etapa necessária de um processo muito maior. A pitada de fermento usada por uma mulher para fermentar uma grande quantidade de farinha apontava para o modo como o Reino atuava na História. Sua dimensão pequenina e seu escondimento seriam compensados pela intensidade de seu efeito. O pré-requisito para atuar consistia em perder-se. Aí o Reino revelaria sua verdadeira grandeza. Não a que vem da imposição de si mesmo sobre as pessoas, mas as que as transforma por dentro. – Senhor Jesus, faze-me crescer na compreensão da dinâmica do Reino, cuja grandeza consiste em transformar a história humana, a partir do seu interior (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de outubro de 2024

(Ef 2,19-22; Sl 18[19ª]; Lc 6,12-19) Santos Simão e Judas Tadeu, apóstolos.

“A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele e curava a todos” Lc 6,19

“A todos que sentiam em si algum mal, o simples aproximar-se físico de Jesus era-lhes alívio para as doenças físicas ou espirituais; Jesus não fazia acepção de pessoa: ‘curava a todos’; antes de curá-los, não lhes perguntava mais que uma única coisa: se tinham fé e, ocasionalmente, a falta de fé de algum retardou o milagre de Jesus. São Paulo fala-nos do ‘perfume de Cristo’ (2Coríntios 2,15); é o bom perfume da graça e das virtudes que se assemelham a Cristo; todos somos obrigados a exalar esse bom perfume de Jesus, de maneira que todos quanto nos rodeiem, todos quantos se relacionem conosco, por um motivo ou por outro, contagiem-se de Cristo. Não deixa de ser verdadeira responsabilidade nossa o fato de, depois de atuar em determinado ambiente, ou com determinadas pessoas, nem o ambiente, nem as pessoas se terem aproximado um pouco mais de Cristo, do evangelho, da Igreja. Não tem você agora senão de ir examinando sua própria vida, sua própria atividade, porque sua obrigação é ir encarnando Jesus Cristo em sua vida, em suas atividades, inclusive temporais e, como cristão leigo, deve tender à santificação do mundo, do mundo temporal, das estruturas temporais. Olhe se em seu ambiente você é fermento que aumenta a massa, lhe dá nova orientação, novo dinamismo, nova vida; você não pode guardar o bem para você num sentido egoísta; deve comunicar tudo quanto de bom o Senhor dignou-se pôr em você” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

30º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jr 31,7-9; Sl 125[126]; Hb 5,1-6; Mc 10,46-52)*

1. O milagre da cura do cego Bartimeu ocupa uma posição significativa na estrutura do Evangelho Marcos. Estamos no fim dessa última peregrinação de Jesus para Jerusalém, onde o aguardam a Paixão, Morte e Ressurreição.

2. Para subir a Jerusalém a partir do vale do Jordão, Jesus passa por Jericó, e o encontro com Bartimeu tem lugar à saída da cidade. Com Jesus caminha seus discípulos e uma grande multidão, a mesma que, dali a pouco, aclamará Jesus como Messias na sua entrada em Jerusalém.

3. Precisamente na estrada estava sentado a mendigar Bartimeu, cujo nome significa ‘filho de Timeu’, como diz o próprio evangelista. Santo Agostinho, refletindo sobre o fato de Marcos referir, neste caso, não só o nome da pessoa que é curada, mas também de seu pai, chega à conclusão de este não só era conhecido pelo milagre, mas também por sua desventura.

4. Esta interpretação dada por Agostinho é sugestiva, convidando-nos a refletir sobre o fato que há riquezas preciosas na nossa vida que podemos perder e que não são materiais. Quantos não perdem a orientação segura e firme da vida e tornam-se, muitas vezes inconscientemente, mendigos do sentido da existência?

5. São as inúmeras pessoas que precisam de um novo encontro com Jesus, o Filho de Deus, que pode voltar a abrir os seus olhos e ensinar-lhes a estrada.

6. Lembremos que todo o evangelho de Marcos é um itinerário de fé, que se desenvolve gradualmente na escola de Jesus. Os discípulos são os primeiros atores deste percurso de descoberta, mas há ainda outros personagens que desempenham papel importante, e Bartimeu é um deles.

7. A sua cura prodigiosa é a última que Jesus realiza antes da sua Paixão, e não é por acaso que se trata da cura de um cego, isto é, duma pessoa cujos olhos perderam a luz. A partir de outros textos, sabemos também que a condição de cegueira tem um significado denso nos Evangelhos.

8. Representa o homem que tem necessidade da luz de Deus – a luz da fé – para conhecer verdadeiramente a realidade e caminhar pela estrada da vida. Condição essencial é reconhecer-se cego, necessitado desta luz, caso contrário permanece-se cego para sempre (cf. Jo 9,39-41).

9. Situado neste ponto estratégico da narração de Marcos, Bartimeu é apresentado como modelo. Ele não é cego de nascença, mas perdeu a vista: é o homem que perdeu a luz e está ciente disso, mas não perdeu a esperança, sabe agarrar a possibilidade deste encontro com Jesus e confia-se a Ele para ser curado.

10. Assim, ouvindo dizer que o Mestre passa pela estrada, ele grita insistentemente. E quando Jesus o chama e lhe pergunta o que quer d’Ele, responde: ‘Mestre, que eu veja!’. Bartimeu representa o ser humano que reconhece o seu mal, e grita ao Senhor com a confiança de ser curado.

11. A sua imploração, simples e sincera, é exemplar, tendo entrado na tradição da oração cristã da mesma forma que a súplica do publicano no Templo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim que sou pecador’ (Lc 18,13).

12. No encontro com Cristo, vivido com fé, Bartimeu readquire a luz que havia perdido e, com ela, a plenitude da sua própria dignidade: põe-se de pé e retoma o caminho, que desde então tem um guia, Jesus, e uma estrada, a mesma que Jesus percorre.

13. O evangelista não nos diz mais nada de Bartimeu, mas nele mostra-nos quem é o discípulo: aquele que com a luz da fé, segue Jesus ‘pelo caminho’. A partir desse personagem nos fica um convite e um lembrete sobre o nosso discipulado.

* Com base em texto de Bento XVI     

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 26 de outubro de 2024

(Ef 4,7-16; Sl 121[122]; Lc 13,1-9) 29ª Semana do Tempo Comum.

“.... Mas, se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo” Lc 13,3.

“No mundo de hoje, a palavra penitência soa como um tanto anacrônica, como fora do nosso tempo, não adaptada para nossa forma de ser e de nossas exigências. E soa também como algo impróprio para as exigências e apetências do mundo de hoje, que aplica melhor todos os esforços em estudar e investigar como poderá evitar toda a dor, escapar definitivamente do sofrimento; hoje tudo que se estuda e se inventa é dirigido para produzir maior comodidade e luxo, para satisfazer novas necessidades criadas precisamente pela ânsia de novos e renovados gostos e satisfações. A conversão centraliza a própria vida na de Jesus Cristo, para participar de seu espírito. Se não nos convertermos, seremos tão condenáveis como os exemplos que o Evangelho. Este tempo da Igreja, que vai desde a Ascensão do Senhor aos céus até sua segunda vinda na parusia, é tempo de conversão, tempo de penitência e isto para todos, uma vez que todos temos pecados; mas é também tempo de misericórdia, já que nós podemos obtê-la com a conversão de nossa vida e com a prática das boas obras. A obrigação de fazer penitência e de converter-se é não somente individual, mas também social, porque existem também pecados sociais, cometidos pela sociedade como um todo, ou por uma grande parte dela. A ameaça de Jesus: ‘Se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo’ (vv. 3.5), parece referir-se à destruição de Jerusalém, que se deu poucos anos depois; mas podemos muito bem entender e aplicar ao castigo do inferno, que merecerão os pecadores por sua má vida. Se todos pecamos, todos devemos fazer penitência, uma vez que para o céu existem somente dois caminhos: o da inocência e, se perdeu esta, o da penitência” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de outubro de 2024

(Ef 4,1-6; Sl 23[24]; Lc 12,54-59) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Há um só corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados.

Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” Ef 4,4-5.

“Com o capítulo 4 tem início a segunda parte da Carta aos Efésios, de tipo mais marcante exortativo. No entanto, depois dos versículos 1-2, o versículo 3 introduz uma secção definida, apoiada num tema fundamental, o da unidade da Igreja. O adjetivo numeral ‘um’ aparece sete vezes nos versículos 3-6, enfatizando a unidade do corpo eclesial. A exortação sucessiva aparece assim orientada para manter e incrementar a unidade da Igreja, expressão da unidade de Deus e da coerência da Sua atuação salvífica. [Compreender a Palavra] A humildade e a aceitação benevolente do próximo são as primeiras dimensões com as quais o autor exorta os seus leitores. Mas porque é que estas atitudes têm um valor prioritário? Porque, por meio delas, se ‘conserva’ a unidade da Igreja. A unidade é um fato prévio, um dom constitutivo da própria Igreja. Enquanto expressão privilegiada da atuação salvífica de Deus e do senhorio de Cristo sobre o cosmos (cf. Ef 1,22-23), a Igreja tem de ser uma comunidade pensada como uma unidade. Essa unidade é a sua dimensão constitutiva. A Igreja é um conjunto de pessoas que não podem contar com a sua posição independente, mas que se sentem interpeladas para se encontrarem reciprocamente por causa de Cristo, razão que ultrapassa as diversidades do modo de viver a fé. E então, a tarefa de manter ou de remendar a unidade da Igreja está confiada também ao esforço responsável de cada batizado” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de outubro de 2024

(Ef 3,14-21; Sl 32[33]; Lc 12,49-53) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer a divisão” Lc 12,51.

“O Reino anunciado por Jesus criou rupturas no seio da humanidade. Pode parecer estranho, considerando que pretendia ser um Reino de paz. Entretanto, Jesus afirmou não ter vindo trazer paz à Terra, e sim a divisão. Como se explica a ruptura causada pelo Reino? Ele consiste numa proposta de Jesus à humanidade. Sendo proposta, pode ser acolhido ou rejeitado. Rejeitar o Reino significa optar pelos valores que lhe são contrários. Assim se estabelece uma dupla polaridade de ação. De um lado, coloca-se quem acredita no amor, na justiça e no perdão. De outro, posiciona-se quem se entrega ao egoísmo, à injustiça e à violência. Não existe conciliação possível entre estes dois projetos de vida. É ingênuo e inútil pretender juntá-los a qualquer custo, pois são inconciliáveis. Pode acontecer que, numa mesma família, o pai faça sua opção pelo Reino e o filho não, a mãe sim e a filha não, a sogra sim e a nora não, ou vice-versa. Assim, se estabelece uma divisão irremediável dentro da família, por causa do Reino. Este não une, ao contrário, desune. Não pode acontecer, porém, que o pai pactue com a maldade do filho, ou a mãe ceda ao egoísmo da filha e, ainda, a sogra concorde com a injustiça da nora, ou vice-versa, só para não desagradar. As exigências do Reino colocam-se acima dos laços familiares. – Senhor Jesus, que saiba colocar o Reino e suas exigências acima do afeto familiar, de modo a não pactuar com nada que se lhe oponha (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de outubro de 2024

(Ef 3,2-12; Sl Is 12; Lc 12,39-48) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Esse mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do Evangelho” Ef 3,5-6.

“Cristo realiza o projeto reconciliador do Pai, e nisto é que consiste o ‘mistério’ de que fala a Carta. Aquele que escreve está ao serviço desse acontecimento e sente-se enviado a anunciá-lo. Esta página, em que o autor fala repetidamente na primeira pessoa, está apoiada precisamente sobre o estatuto do Apóstolo em relação ao ‘mistério’ (cf. vv. 3,4,5,9). [Compreender a Palavra:] O agir de Deus é gratuito (cf. Ef 2,8) e, como tal, revela-se em Cristo, que oferece à Humanidade a possibilidade de uma relação reconciliada com o Senhor. Agora, a mesma gratuidade divina (vv.2,8) chamou o autor da Carta aos Efésios a ser o seu proclamador: Deus confiou-lhe uma missão que abrange toda a sua existência, um ‘ministério’ (v. 2; cf. v. 7). Ele realiza-o mediante o anúncio verbal (vv. 6-9), mediante a escrita da Carta (v. 4), por meio da qual o seu testemunho poderá chegar a indivíduos e épocas históricas já não ligadas à sua pessoa física. A Igreja é destinatária deste anúncio, mas é-o para fazer ressoar na Humanidade inteira. A missão da Igreja é ser sinal e instrumento da realidade de Deus e da Sua salvação, a favor da Humanidade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de outubro de 2024

(Ef 2,12-22; Sl 84[85]; Lc 12,35-38) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas” Lc 12,34.

“O discípulo de Jesus vive numa contínua espera do Senhor que vem. Essa, porém, é uma espera ativa e responsável, porque a chama do amor está sempre acesa em seu coração. Quem escolhe a inação ou se envereda pelo caminho do mal corre o risco de ser excluído do Reino. Não é fácil perseverar, quando se desconhece a hora em que o Senhor virá. Sabendo disso, Jesus exortou seus discípulos a não esmorecerem diante da incerteza da hora. A vigilância cristã foi comparada à dos servos à espera do senhor que chega para sua festa de núpcias. Quanto mais tarde for, maior a necessidade de manter-se atentos. O senhor poderá chegar a qualquer momento. E não ficaria satisfeito se os servos estivessem dormindo e não lhe abrissem a porta. Mas, se ao chegar, os encontra acordados, convidá-los-á para participar do banquete e ter a honra de serem servidos pelo próprio patrão. O mesmo se passa com o discípulo de Jesus. A incerteza da hora em que virá o Senhor não abala suas convicções. Antes, vai adiante seguro de que vale a pena fazer o bem, embora viva rodeado pelo mal. Não abre mão de lutar pela justiça, mesmo que ela resista a ser eliminada. Está sempre disposto a perdoar e a buscar a reconciliação, ainda que o ódio e a violência tenham contaminado a humanidade. A vigilância perseverante levá-lo-á a ser considerado bem-aventurado pelo Senhor, quando ele vier. – Senhor Jesus, reforça minha disposição a estar sempre vigilante, à tua espera, para que eu possa ser acolhido por ti, no teu Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de outubro de 2024

(Ef 2,1-10; Sl 99[100]; Lc 12,13-21) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus” Lc 12,21.

“Fica claramente reprovada a avareza, neste evangelho. A avareza, isto é, a ânsia desmedida e descontrolada por bens materiais ou riquezas. Sabemos muito bem que as coisas materiais são-nos necessárias para a nossa vida e para a vida dos nossos; contudo, encontramos sempre latente o perigo de confundir o necessário e prudente com o excessivo e desmedido, com apego do coração, que assim se torna dependente e escravo do dinheiro e da posse dele. Os que se deixam levar pelo espírito de avareza vivem como escravos de si mesmos e de suas coisas, buscam ansiosamente mais e mais comodidades e luxos, e procuram satisfazer até mesmo os mínimos caprichos e veleidades. O avarento reduz tudo a algarismos e tudo sacrifica, mesmo a própria consciência e os ideias, por uma vantagem econômica ou comodidade. No entanto, o rico diante de Deus não é aquele que tem muito dinheiro, mas aquele que tem muitas virtudes. Pense, antes, que as riquezas não o acompanharão além do sepulcro. Com dinheiro você pode construir um panteão de mármore e bronze, mas esse grandioso panteão não passará de simples sepulcro e você não poderá gozar dele; no entanto, suas boas obras segui-lo-ão além do sepulcro e conduzi-lo-ão à vida eterna” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

29º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Is 53,10-11; Sl 32[33]; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45)

1. A cada domingo buscamos recolher da Palavra de Deus algo concreto para a vida cotidiana e seus problemas, sobre o que fazer e como se comportar neste ou noutro caso da vida. É o que chamamos de leitura moral da Escritura, é quando a Palavra ‘revela a verdade do seu humano’.

2. Mas esse não é o aspecto mais importante da Palavra de Deus. O mais importante é ‘a verdade sobre Deus e sobre Jesus Cristo’ que ela quer nos transmitir. Foi justamente essa verdade sobre Cristo que determinou a busca de Paulo, para ter em si ‘os mesmos sentimentos de Cristo’ (cf. Fl 2,5). E assim suas escolhas estariam em harmonia com o Evangelho, na certeza de que Cristo age por nós e conosco.

3. É nesse segundo olhar que se apresenta a liturgia da Palavra nesse domingo. O que exige sempre uma atenção e esforço maior da nossa parte; veremos que sempre vale a pena e que isso se reflete de modo imediato também em nossa vida de todos os dias.

4. Em nosso evangelho temos duas partes. Num 1º momento temos esse episódio sobre a busca dos primeiros lugares que persiste entre os apóstolos. Mas o sentido desse episódio está na 2ª parte onde Jesus anuncia pela 3ª vez sua paixão e algo sobre: ‘O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos’.  

5. Essa consciência que Jesus tinha de si e da sua vida tem um 1º reflexo na 1ª leitura nesse misterioso personagem que acolhe o apelo divino, dedicando sua vida, suportando sofrimentos até o sacrifício. Nele o sofrimento adquire sentido, para que não entre em desespero como Jó. Um sofrimento que ele sabe transforma-se em luz, libertação, resgate e salvação ‘para muitos’.

6. Para os judeus do tempo de Jesus, e também seus discípulos, que viviam particular sofrimento sob vários aspectos, algo ou alguém, viria em seu socorro. Mas não passava em seu pensamento a ideia de que esse alguém fosse o Messias, que esperavam de forma gloriosa e cheio de beleza. Não aquilo ou aquele pregado numa cruz.

7. Notamos que Jesus acaba adotando para si o título que davam ao Messias: ‘Filho do Homem’, com o objetivo de esvaziá-lo e preenche-lo com novo sentido. Não mais um general divino que abre caminho vencendo o inimigo político e instaurando um Reino de Deus político, não um dominador, mas um servo, não um vencedor, mas um vencido.

8. É nessa estrutura de profecia e realização, 1ª leitura e Evangelho, que se revela a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré e onde temos o anúncio fundamental cristão: Jesus de Nazaré é o Messias sofredor que, em seu mistério pascal de obediência, nos redimiu.

9. Esse é o anúncio do Evangelho de hoje. Como reagimos diante de tudo isso? Podemos reagir com ‘indiferença’: ouve-se sem compromisso; esquece-se logo e se volta a rotina e à trivialidade de todos os dias.

10. Podemos também ‘rebelar-nos’, escandalizar-nos com tudo isso. O mundo já tem tanto sofrimento. Talvez o Deus de Jesus seja impotente diante do mal. Esse tipo de escândalo só se vence com a atitude da ‘fé’. A mesma fé que levou Paulo a fazer toda uma releitura de seu conhecimento judaico a ver nesse ‘escândalo da cruz’ a força de Deus e a sabedoria de Deus.

11. Um dia, quando esse mundo acabar, compreenderemos que não havia outro meio mais poderoso e mais sábio do que este para vencer o mal no mundo: isto é, que Deus mesmo o carregasse sobre si. E este servo sofredor é Aquele que ressuscitou, no lembra a 2ª leitura: “temos um sumo sacerdote eminente que entrou nos céus, Jesus, o Filho de Deus...” (cf. Hb 4,14-16).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de outubro de 2024

(Ef 1,15-23; Sl 8; Lc 12,8-12) 28ª Semana do Tempo Comum.

“Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja,

que é seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal” Ef 1,22-23.

“O texto é composto por uma oração de ação de graças e de intercessão (vv. 15-19), na qual está presente o estilo próprio do começo das Cartas paulinas, e é seguido por uma celebração cristológica (vv. 20-23), que amplifica a conclusão da oração. O autor retoma assim muitos temas do texto precedente, de modo a formar com ele um díptico que preludia o corpo epistolar verdadeiro e próprio. [Compreender a Palavra:] A ressurreição de Cristo não é um ‘regresso a viver o modo que antecedeu a sua morte’, mas ‘viver na plenitude de Deus’, participando plenamente da glória do Senhor e da Sua vitória sobre a morte. A pregação apostólica é concordante nisto, e testemunha-o com várias linguagens. Lucas, por exemplo, diz que Jesus ressuscitado foi ‘exaltado à direita de Deus’ (At 2,33), entendendo com esta metáfora que Ele assumiu a tarefa de plenipotenciário de Deus. O autor da Carta aos Efésios junta a essa imagem a da ‘dominação’ que Jesus ressuscitado exerce sobre todas as realidades (cf. vv. 20-21), as quais, respectivamente, estão sujeitas aos Seus pés (cf. v. 22), isto é, submetidas à Sua autoridade. O autor, todavia, não tem uma visão idealista da História, mas reconhece que nela atuam forças contrárias ao projeto salvífico de Deus. Em todo o caso, estas não atentam contra o senhorio de Cristo sobre a História, que é já efetiva, embora na expectativa do seu cumprimento escatológico. Devido a esta fé, o Apóstolo pode rezar para que os crentes possam haurir força do poder salvífico do Ressuscitado (cf. v. 19)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite    

 

Sexta, 18 de outubro de 2024

(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) São Lucas, evangelista e missionário.

“E dizia-lhes: ‘A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso pedi ao dono da messe

que mande trabalhadores para a colheita’” Lc 10,2.

“Anteriormente, Jesus tinha enviado os doze apóstolos e agora envia outro grupo de setenta e dois discípulos com a mesma finalidade evangélica que a dos doze; assim Jesus quer ensinar-nos que a missão de evangelizar não é exclusiva da hierarquia, mas de todo aquele que se diz discípulo de Jesus Cristo. Por um lado, ‘a messe é grande’ e, por outro, todos os discípulos são chamados a recolher a messe; de onde se conclui que a missão da Igreja de Jesus Cristo é evangelizar o mundo. ‘Grande é a messe, mas os operários são poucos’ (v. 2); são muitos os que necessitam de evangelização, são muitos os que não conhecem Deus nem os desígnios de Deus, que são desígnios de salvação; são muitos os filhos de Deus que vivem afastados da casa paterna; essa é a messe do campo do Pai celestial, messe que já amarelece em uma disposição de fruto maduro. E, por sua vez, os operários são poucos; o missionário no mundo anuncia a aproximação do Reino de Deus. O homem de hoje, desenganado da ciência, da técnica, da política, da sociologia, convenceu-se de que nada nem ninguém poderá resolver seus problemas, nem diminuir suas angústias; inclusive os inventos modernos, os progressos e conquistas do último século não fazem se não despertar e aguçar cada dia mais as inquietudes humanas. Hoje, mais que nunca, necessita-se de apóstolos e de profetas que nos falem de Deus e nos falem em nome de Deus; o mundo necessita de quem lhe mostre o caminho da verdade. Necessita-se de mais operários, que façam a colheita da messe; necessita-se de homens que se entreguem à implantação do Reino neste mundo; homens que não pensem em si mesmos e, por sua vez, vivam para os outros; homens que ponham seu ideal de transmissão da mensagem do evangelho; homens que não busquem suas conveniências pessoais, mas o bem espiritual de seu próximo; homens que estejam dispostos a sacrificar-se, a imolar-se, a morrer por Cristo, como Cristo morreu por nós” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite    

Quinta, 17 de outubro de 2024

(Ef 1,1-10; Sl 97[98]; Lc 11,47-54) 28ª Semana do Tempo Comum.

“É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: Eu lhes enviarei profetas e apóstolos,

eles matarão e perseguirão alguns deles” Lc 11,49

“Prossegue este evangelho com a série de impropérios e censuras que Jesus profere contra os escribas e fariseus. Jesus desmascara-os e os denuncia; não se deixa enganar por suas aparências; porém, antes torna manifesta a maldade real e corrupção deles. Você já pode deter aqui sua reflexão, para aplica-la a você mesmo. Talvez sua vida exterior seja uma vida correta e mesmo exemplar; a imagem que você oferece aos outros é a de um autêntico cristão e até, provavelmente, a de um apóstolo zeloso, de um religioso observante e exemplar, de um abnegado sacerdote; isso é o que aparece no exterior, isso é o que os outros veem, pensam e julgam a seu respeito. E não lhe digo que isso seja ruim; pelo contrário, é obrigação sua edificar a todos quantos estão à sua volta, levando-os ao bem e à virtude com o exemplo de sua vida como testemunho. Porém você deve estar muito mais atento não aos que os outros pensam, mas sim ao que Deus pensa de você. A esse Deus você não pode enganar; ponha-se, pois, diante de sua divina presença e pergunte-lhe se ele está contente com você ou se espera mais de você. Jesus para gravar mais a conduta dos escribas e fariseus, diz-lhes: ‘Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos’ (v. 49); entretanto, mataram os profetas e não escutaram os apóstolos. Não somente no Antigo Testamento, ou para os israelitas do tempo de Nosso Senhor, foram enviados os profetas e os apóstolos. Deus está constantemente enviando verdadeiros profetas e apóstolos para a sua Igreja: - profetas que falem em nome de Deus, transmitam sua vontade, mostrem o caminho que se deve seguir, para chegar à santidade, para ingressar no Reino; - apóstolos que, com seu exemplo, movam os outros a reunir seus esforços aos de Jesus e de sua Igreja, para estabelecer no mundo as condições necessárias de justiça, de verdade, de amor e de paz, a fim de poder instaurar o Reino de Deus. Ao longo da história da Igreja sempre houve profetas e apóstolos do Reino; qual foi e qual é, neste momento de sua vida, sua conduta e suas relações com esses profetas e apóstolos de Jesus Cristo? Você os persegue como o fizeram os escribas e fariseus, dificulta as ações deles ou os isola em sua atuação profética e evangelizadora? Neste caso, você se fará credor das censuras de Jesus aos fariseus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite    

Quarta, 16 de outubro de 2024

(Gl 5,18-25; Sl 01; Lc 11,42-46) 28ª Semana do Tempo Comum.   

“Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e seus maus desejos” Gl 5,24

“Paulo explica um prolongado paralelismo antitético entre as ‘obras da carne’ (vv. 19-21) e os ‘frutos do Espírito’ (v. 22), destinado a recordar as dimensões sobre as quais a vida dos crentes é interpelada a conformar-se. Esclarece assim que a liberdade cristã (cf. Gl 5,1; cf. terça-feira desta semana) não é anarquia, mas está orientada para um projeto de amor (‘liberdade para’). [Compreender a Palavra:] A fé torna-se operativa num amor de doação (cf. Gl 5,6), porque precisamos o amor pode ser definido como primeiro fruto do Espírito que age em nós (v. 22). A isto contrapõem-se as ‘obras de carne’ (v. 19), nas quais por ‘carne’ não se entendem a corporeidade ou a sexualidade humana, mas sim uma existência autocentrada, egocêntrica, que procura pôr ao seu serviço tanto Deus, com presumíveis artes mágicas, como os outros, com várias formas de egoísmo e de contenda, quer ainda a própria corporeidade, com um uso da sexualidade dirigido exclusivamente para a autogratificação. Pelo contrário, o Espírito gera amor, cujas manifestações são a atitude mansa e benévola para com os outros, e cujo frutos são a alegria e a paz. Paulo interpreta assim algumas listas de vícios e virtudes reinantes no seu ambiente (helenista e judaico), afirmando que as ‘virtudes’ são, realmente, atitudes que o mesmo Espírito anima nos crentes. Todavia, isto não acontece de forma mágica: requer o empenho responsável dos indivíduos em colocar-se em sintonia com essa obra” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite    

 

Terça, 15 de outubro de 2024

(Gl 5,1-6; Sl 118[119]; Lc 11,37-41) 28ª Semana do Tempo Comum.

“Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós” Lc 11,41

“A admiração do fariseu surpreso porque Jesus sentou-se à mesa para comer sem ter lavado as mãos não passou despercebido pelo Mestre. Ele conhecia muito bem a mentalidade de seu anfitrião e seu apego escrupuloso à tradição da pureza ritual. Igualmente tinha consciência da reação que sua atitude causaria. No entanto, apesar de ser hóspede, não perdeu a ocasião de denunciar a hipocrisia de quem o convidara a almoçar. A pureza exterior do fariseu não correspondia à do seu interior. Limpo por fora, estava cheio de sujeira por dentro. A contaminação provinda de roubos e de sua malícia era muito pior do que a eventual impureza de um copo ou prato. Grande insensatez perder tempo com coisas secundárias, olvidando o essencial! Jesus apresentou a caridade como a melhor forma de garantir e conservar a verdadeira pureza. Quando a pessoa abre seu coração e se torna sensível para com o irmão carente, partilhando com ele seus bens, tudo se torna puro para ela. Esta é a melhor forma de eliminar o egoísmo, único fator de contaminação do coração humano. Quando o coração é puro, tudo o mais se torna puro. A pureza, fruto da caridade, é agradável a Deus e garante a salvação. Ele julga as pessoas a partir do interior. Aí ele verifica se elas, de fato, estão puras. – Senhor Jesus, não me deixes cair na insensatez de buscar a pureza exterior, porque a pureza verdadeira provém do amor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite    

Segunda, 14 de outubro de 2024

(Gl 4,22-24.26-27.31—5,1; Sl 112[113]; Lc 11,29-32) 28ª Semana do Tempo Comum.

“... Jesus começou a dizer: ‘Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal,

mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas’” Lc 11,29

“Não é difícil encontrar aqueles que exigem prodígios ou sinais milagrosos, que os certifiquem de que a fé que professam é verdadeira. Jesus não quer que o aceitemos pelos sinais, milagres e provas de qualquer tipo, mas se oferece como sinal único suficiente e definitivo de vida de Deus entre nós. Sempre é e será o Filho a melhor prova do Pai; não podemos pedir nem esperar nada melhor, nem mais claro, nem mais convincente, nem mais autêntico. Ele e sua palavra, ele e sua vida. Ele e sua obra. Da decisão tomada diante de Jesus, diante de sua pessoa e de sua mensagem, depende a salvação dos homens. Jesus fala de si mesmo como de um sinal, que é caminho de salvação, que pode levar até mesmo, como no caso da cruz, a uma transformação externa e maravilhosa. A significação pós-pascal do sinal de Jesus é sua ‘ressurreição’: este sim é o sinal apodítico e decisivo da presença de Deus entre os homens. E essa será também, para o mundo de hoje, a prova de que Deus está no meio de nós; se você vive esse Jesus e o vive com amor, o mundo crerá em Deus, aceitará Deus, aceitará Jesus ressuscitado, vivo e vivificador. Você tem de ser o sinal de Jesus Cristo, assim como Jesus é o sinal do Pai; vendo Jesus vemos o Pai; assim o diz o próprio Jesus ao apóstolo Filipe: ‘Aquele que me viu, viu também o Pai’ (João 14,9). E todos que o/a rodeiam, vendo você, veem Jesus Cristo; Jesus é a imagem do Pai, e você deve ser a imagem de Jesus Cristo. ‘Os que ele distinguiu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho’ (Romanos 8,29)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite    

28º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30)

1. Podemos dizer que o tema da sabedoria atravessa a nossa liturgia da Palavra. Ela está na 1ª leitura, na surpreendente escolha de Salomão. O texto nos lembra que deparamos continuamente com a necessidade de escolher entre a sabedoria de Deus e a dos homens.

2. Quem analisa as coisas superficialmente chega à conclusão que, seguindo a sabedoria de Deus, perde-se tudo, renuncia-se a tudo o que traz prazer. Mas não é verdade. Quem cultiva a sabedoria, quem aprende a dar o justo valor às coisas, quem faz as escolhas conforme o projeto de Deus, nada perde, aproveita tudo: encontra a verdadeira felicidade.

3. A 2ª leitura nos aponta a Palavra de Deus não só como fonte de sabedoria, mas aquela que nos revela a nós mesmos. Deus nos conhece mais do que conhecemos a nós mesmos. Sua Palavra nos expõe e desafia. É dentro desse desafio de ‘entender-nos’ que nos encontramos com o Evangelho.

4. Seguimos com Jesus por esse longo caminho que faz com seus discípulos e cada evento traz consigo um ensinamento para o discipulado. Um jovem rico e observador dos mandamentos o aborda a respeito de como ganhar a vida eterna.

5. Jesus olha com amor para aquele jovem, que vive corretamente e quer estimular as forças que estão dentro dele e lhe propõe vender tudo e segui-lo. Não se trata de uma norma: quanto ter ou o que vender, mas livrar-se intimamente de todo apego. Assim Jesus vai ao cerne da questão.

6. Para aquele jovem são seus bens, para outros o sucesso, a própria imagem de Deus a que nos apegamos, a imagem de si mesmo, suas concepções da vida, seus hábitos, relacionamentos... O olhar penetrante de Jesus vem nessa direção: a que estou me agarrando?

7. O medo é uma realidade sempre presente. Se eu deixar, me desfazer, o que virá depois? A liberdade e a amplidão do seguimento de Jesus só se experimentam correndo riscos. Os discípulos se assustam, afinal de contas, para o judeu a riqueza é um dom de Deus.

8. Jesus quer conduzi-los para a reflexão de que o risco da riqueza é identificar-nos com ela, esconder-nos atrás dela. As posses podem nos deixar possessos... Dominados pela ganância, pelo desejo de possuir mais. Para este o Reino é impossível, pois serve a um outro Senhor.

9. Mas Jesus mostra que Deus é capaz de tocar o coração do ser humano; até mesmo com uma palavra provocadora; uma experiência aflitiva que o leva a dar conta de outros valores.

10. Ao final do texto temos a palavra de Pedro, que soa um tanto presunçosa e mesmo assim Jesus lhe promete muito mais. Talvez aqui um pensamento para os vocacionados e vocacionadas em seu seguimento. Deixar é sempre uma experiência que vai para além do que materialmente nos distanciamos.

11. Para apreciarmos bem algo, precisamos tomar certa distância... quem abandona pode encontrar... os discípulos sabem que tudo será resgatado em Deus. Lá estaremos em casa para sempre, por isso é preciso deixar o que nos atrapalha no seguimento.

12. Carregamos também nós esse desejo do Eterno. Ele ama a cada um de nós que vamos a Ele com nossas perguntas no coração. Mas temos de nos perguntar: O que amamos de fato? Nada do que possuímos nos arrancará da mão da morte.

13. A plenitude de vida que desejamos vem de Deus. Para ser, a quantas coisas renunciamos...? Em que eu hoje coloco a minha esperança?  

Pe. João Bosco Vieira Leite    

 

Bem-aventurada Virgem Maria da Conceição Aparecida

(Est 5,1-2; 7,2-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13.15-16; Jo 2,1-11) *

1. Cada vez que Nossa Senhora se manifesta, através dos séculos, comunica uma mensagem universal, e, ao mesmo tempo uma mensagem nacional. Assim foi em Guadalupe, em Fátima, em Lurdes, na Polônia. E não só isso, há também uma certa identificação com a cultura local em suas aparições.

2. Nossa Senhora da Conceição Aparecida é mãe do Brasil. Se há um “Brasil brasileiro”, há também uma Maria brasileira. Ela é a terra brasileira feita pessoa, a realidade brasileira assumida e aperfeiçoada pela graça de Deus. E o que nos ensina nossa mãe – porque mãe é sempre mestra – a respeito de nós e da nossa missão?

3. Primeiro ela mostra a ligação íntima do Brasil com as coisas básicas, simples, elementares da criação. Nossa Senhora Aparecida não é nenhuma estátua de marfim, nem de mármore, nem sequer de gesso. Ela é feita de barro, e encontrada num rio.

4. Terra e água: os elementos mais densos, mais primitivos! Matéria prima cheia de energia e possibilidades. De barro o 1º homem foi feito; todos os seus filhos e filhas igualmente: um corpo de barro em cujas narinas Deus soprou o vento da vida. Seremos felizes se não perdermos de vista a verdade de nossa humanidade.

5. A imagem de Nossa Senhora Aparecida, com feições tão características da arte portuguesa, começou sendo de uma cor e acabou sendo de outra. Através do tempo, parece, o óleo dos lampiões a tornou mais escura, mais negra.

6. Certamente, aqui Maria é mãe do Brasil, mãe cuja pele reflete a mistura das variadas etnias e raças: indígena, portuguesa, africana, italiana, alemã, polonesa, japonesa, libanesa, e por aí vai. Agora, nossa Senhora é cor de cacau, cor de café.

7. Mesmo assim, cada brasileiro nela reconhece suas próprias feições. Nesses tempos em que vemos ressurgir determinadas lendas e aspirações à pureza de sangue e a eugenia (saneamento ético) ou mesmo a certos posicionamentos discriminatórios – não poderia o rosto pacífico de nossa mãe brasileira oferecer um testemunho acreditável da nossa unidade em Deus, da possibilidade de uma sintonia universal das tribos humanas?

8. Finalmente, como sabemos, a estátua foi encontrada por pescadores em dois pedaços – 1º o corpo e depois a cabeça. Faz parte do milagre da ‘aparição’ que a cabeça, encontrada num novo lance de rede, correspondesse, exatamente, ao corpo que acabava de ser retirado do fundo rio.

9. Contemplamos, então, uma mãe quebrada, e depois sanada, uma mãe ‘reconstruída’ pelos filhos. Talvez haja aqui a mais forte das alegorias da nossa mãe brasileira. Sim, a história da Colônia era uma história muito sofrida – escravidão, exploração, solidão dos bandeirantes nos grandes espaços do país, aniquilação quase total dos indígenas sob o peso do trabalho forçado, distinção enorme entre latifundiários e camponeses.

10. Ficou – e fica – aos filhos a tarefa de ‘consertar’ a mãe, de guia-la pela mão dos mistérios dolorosos do passado para os mistérios gloriosos do futuro. Na imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o brasileiro vê simbolizado o cumprimento de seus esforços de construir uma sociedade sã, um apelo a continuar firme no seu compromisso. Não só no campo social, mas também na sua fé.

11. Claro, Maria é mais do que o Brasil, e nem toda a realidade atual do Brasil é mariana. Entretanto, a graça de Maria paira sobre o Brasil, anima o Brasil. Um poeta alemão do século XVIII (o século da aparição de Nossa Senhora no rio Paraíba), escreveu: “A mulher eterna nos leva para a frente”.

* Com base em texto de Dom Bernardo Bonowitz, ocso     

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de outubro de 2024

(Gl 3,7-14; Sl 110[111]; Lc 11,15-26) 27ª Semana do Tempo Comum.

“Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então chegou para vós o Reino de Deus” Lc 11,20.

“Não faltou quem interpretasse, de maneira maldosa, os milagres de Jesus. Havia quem os atribuísse a um poder de origem demoníaca. Jesus estaria pactuando com Satanás, seus milagres seria uma macabra prova deste conluio. Tal interpretação foi veementemente refutada pelo Mestre. Seu argumento era muito simples. A cura de um possesso significa que Satanás deixou de ter poder sobre um ser humano. Para expulsar Satanás, é preciso que o exorcista seja seu inimigo e se oponha a ele, de forma radical. Se não fosse assim, algo de errado estaria acontecendo no mundo dos demônios. Ao curar os possessos, Jesus impunha uma derrota fatal a Satanás, uma vez que a ação do Mestre tinha sua origem em Deus, portanto, indicava, claramente, que Deus estava exercendo seu senhorio sobre a história humana. Doravante, as pessoas não iriam viver submetida às forças do mal. Em nome de Deus, Jesus viera para libertá-las desta opressão. O Reino de Deus fazia-se presente no meio do povo, e por meio do Filho. Seus gestos poderosos eram um claro sinal desta novidade. Portanto, a expulsão dos demônios era prenúncio de que o esquema antigo do pecado tinha sido abalado nos seus alicerces. – Senhor Jesus, faze-me ver, nos teus gestos poderosos, a presença do Reino de Deus atuando em nossa história, para trazer-nos libertação” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite 


Quinta, 10 de outubro de 2024

(Gl 3,1-5; Sl Lc 1; Lc 11,5-13) 27ª Semana do Tempo Comum.

“Eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-lo porque é seu amigo,

vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará o que for necessário” Lc 11,8.

“Somente Lucas narra-nos a parábola do amigo que acaba cedendo. Como grego, Lucas gosta da palavra ‘amigo’. Enquanto Marcos e Mateus só usam uma vez a palavra ‘amigo’, encontramo-la dezoito vezes em Lucas. Para os gregos, a amizade era um valor muito alto. ‘Os gregos são considerados o povo clássico da amizade’ (RAC, p. 418). Sócrates e Platão escreveram sobre a amizade. É somente entre pessoas boas que a amizade é possível. No evangelho de Lucas, Jesus chama seus discípulos de amigos (Lc 12,4). A comunidade em Jerusalém é descrita por Lucas como sendo uma associação helenista de amigos. Assim, é compreensível que Lucas aplique a imagem da amizade à nossa relação com Deus. O mistério da amizade só se revela quando, na oração, experimentamos Deus como nosso amigo que nos dá aquilo que precisamos para a vida e para o amor” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 09 de outubro de 2024

(Gl 2,1-2.7-14; Sl 116[117]; Lc 11,1-4) 27ª Semana do Tempo Comum.

“Um dia, Jesus estava rezando num lugar. Quando terminou, um dos seus discípulos pediu-lhe:

‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos’” Lc 11,1.

“Hoje vemos como um dos discípulos pede a Jesus instruções sobre como rezar bem. Pois o modo de rezar no qual foram educados já não lhes satisfazia. O Mestre lhes satisfez o desejo, orientando-os a rezar de maneira conveniente. A resposta de Jesus pode ser resumida com uma frase: a correta disposição para a oração cristã é a disposição de uma criança diante do seu pai, é um trato do tipo pai-filho. Isto é, um assunto familiar baseado em uma relação de familiaridade e amor. A imagem de Deus como pai nos fala de uma relação baseada no afeto e na intimidade, e não na relação de poder e autoridade. Rezar como cristãos supõe numa situação onde vemos a Deus como pai e lhe falamos, como seus filhos. Mas de que? – dele, de você: alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas..., ações de graças e petições, e Amor e desagravo. Chegamos a ser mulheres e homens de oração quando nosso trato com Deus se faz mais íntimo, como o de um pai com seu filho, transmitir em palavras e linguagem corporal o que sentem no coração. Disso nos deixou como exemplo o próprio Jesus. Ele é o caminho. O segundo aspecto da oração é que deve levar o orante a confrontar-se com o seu próximo. Por isso, sensibiliza-o para a solidariedade e a partilha, de modo que haja pão para todos. E capacita-o para o perdão e a reconciliação, transformando-o em articulador da grande família dos filhos e filhas de Deus. Tudo isso só é possível se for capaz de fazer frente à tentação, recusando-se a pactuar com o pecado e o egoísmo. Portanto, a oração do discípulo do Reino está em íntima relação com a sua vida. – Pai, inspira-me a rezar como convém, de forma que a minha oração se expresse em gestos de solidariedade, de reconciliação, sinais de minha comunhão contigo” (Sônia de Fátima Marani Lunardelli – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 8 de outubro de 2024

(Gl 1,13-24; Sl 138[139]; Lc 10,38-42) 27ª Semana do Tempo Comum.

“Porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” Lc 10,42.

“Se se fizesse uma simples pesquisa entre os homens de hoje sobre o que é único necessário, encontraríamos respostas muito diferentes e enfoques contraditórios, pois para alguns o único necessário é o dinheiro; para outros, é a saúde, para outros, o bem-estar ou o pão de cada dia, a roupa, a casa, a compreensão entre os que nos rodeiam, a paz. Indubitavelmente, todas estas coisas mencionadas exigem-se na vida humana, que por vontade do Criador quis que seja corporal e material, pessoal e comunitária, ou social; daí ser preciso para o homem viver em paz, na justiça e na honestidade, e na mútua compreensão uns com os outros; porém, todos esses valores humanos formam entre si uma corrente férrea, sujeita a um primeiro anel, que é Deus. Se se rompe esse primeiro anel, todos os outros se perdem: sem Deus, não existe moral, sem moral não existe justiça, sem justiça não existe paz e sem paz não se pode viver; daí, no último extremo, o amor a Deus ser o único necessário, pois tendo-o temos tudo, enquanto, sem ele, perdemos tudo que é bom, justo, belo e agradável. Marta estava atarefada com muitos afazeres, preocupada por muitas coisas, distraída em muitas obrigações; todo esse amontoado de coisas agitava e distraía, impedindo-lhe conseguir o repouso e a paz imprescindível para reencontrar-se em seu íntimo e ouvir em seu interior a palavra de Deus, que devia iluminá-la. As muitas ocupações de ordem material e profissional e mesmo de ordem apostólica podem transformar-se em obstáculos para nossa vida de oração e de contemplação; também poderá o Senhor recriminar-nos com a Marta, dizendo-nos que ‘andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas’ (V. 41), quando na realidade há necessidade de poucas coisas, ou melhor ‘uma só coisa é necessária’ (v. 42)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 07 de outubro de 2024

(At 1,12-14; Sl Lc 1; Lc 1,26-38) Bem-aventurada Virgem Maria do Rosário.

“Todos eles perseveravam na oração em comum junto com algumas mulheres, entre as quais Maria,

mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” At 1,14.

“Nos mistérios dolorosos e gloriosos do Rosário, não está Maria sempre presente como nos gozosos; todavia, não falta sua presença por meio daquela intensa participação que sempre teve em toda a vida do Filho. Em dois momentos culminantes, porém, volta e aparece em primeiro plano: no Calvário e no Cenáculo. Depois de ter acompanhado, em seu retiro, por informação dos discípulos, os primeiros passos da Paixão de Jesus – a agonia do Getsêmani, a flagelação, a coroação de espinhos –, Maria encontra-se com ele no lugar da crucifixão. Aí, a Paixão do Filho funde-se com a da Mãe: aos pés da cruz consuma, com Jesus agonizante, seu holocausto supremo. Maria tem o coração dilacerado. Recebe nos braços Jesus morto, coloca-o no sepulcro, mas não vacila na fé. Está certa que o Filho do Altíssimo não pode ser vencido pela morte. Ao raiar do terceiro dia, quando correm as primeiras notícias da Ressurreição, Maria não tem objeções ou dúvidas. Assim também, mais tarde, não a surpreende a Ascensão de Jesus ao céu. Já sabia e sempre crera que seu reino não teria fim. Ao ficar sem Jesus, seu lugar é junto aos outros filhos que o Senhor lhe confiara na cruz. Apóstolos e discípulos se recolhem em torno dela no cenáculo, à espera do Espírito Santo. Maria lhes anima a oração, sustenta-lhes a fé, recorda-lhes a doutrina do Filho. Eis o itinerário que o Rosário nos ajuda a percorrer com Maria para penetrar as inefáveis grandezas dos mistérios de Cristo: Encarnação, Paixão, Ressurreição. Quem mais que Nossa Senhora os compreendeu e viveu? Quem mais que ela pode dar-nos a compreensão deles? O cristão que bem reza o Rosário pode intuir dos sentimentos do coração de Maria, ante os grandes mistérios de que foi testemunha e protagonista. É que ele se põe em contato espiritual com Maria para acompanha-la nas várias etapas de sua vida. Assim se transforma o Rosário em profunda meditação, aliás, em contemplação, sob a guia de Nossa Senhora. Continuamente repetidas, querem as ave-marias exprimir a atitude da alma que se ergue para a Virgem, a fim de ser por ela introduzida na compreensão cada vez mais luminosa dos divinos mistérios. Seja esta graça o fruto da festa de hoje: ‘Ó Pai... concedei ao vosso povo reviver com tanta fé os mistérios de vosso Filho, que alcance as promessas da Redenção’ (Oração ao Ofertório da Missa)” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

27º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Gn 2,18-24; Sl 127[128]; Hb 2,9-11; Mc 10,2-16)

1. As leituras bíblicas desse domingo falam sobre o matrimônio. Mas, de modo mais radical, falam sobre o desígnio da criação, da origem e, portanto, de Deus. Esse senhorio de Deus que as crianças sabem acolher melhor que os adultos, e é por isso que Jesus as indica como modelo para entrar no Reino dos Céus.

2. A indissolubilidade do casamento já não é coisa evidente, no mundo de hoje, nem mesmo para os católicos. E no tempo de Jesus era? A resposta exige cuidado. O matrimônio não era exatamente igual ao matrimônio católico sacramental de hoje.

3. Entre os pagãos greco-romanos, o divórcio era moeda corrente. Entre os judeus, era bastante comum o homem repudiar ou dispensar a mulher. O que se discutia era as circunstâncias, não tanto o princípio. É no rol dessas discussões que querem inserir Jesus.

4. Jesus segue seu caminho para Jerusalém onde deverá morrer, e tudo o que nos diz nessa metade do evangelho de Marcos, deve ser entendido em meio a essa nova dimensão.

5. Para testar Jesus, notório defensor da mulher naquela sociedade machista, perguntam se o homem pode despachar a mulher, coisa que nenhum rabino punha em dúvida. Como de costume, Jesus devolve a pergunta: ‘Que vos ensinou Moisés?’.

6. Eles apresentam o que está na Lei. Jesus, então, desmascara a crueldade dessa prática que Moisés tentou amenizar. Mas antes de Moisés existe o desígnio de Deus que se revela na criação, conforme a 1ª leitura. Portanto, o homem não separe o que Deus uniu.

7. Jesus defende a mulher contra o abuso do repúdio. Mas sua argumentação repousa no plano inicial de Deus e respeito do amor matrimonial: que os dois constituam uma só vida, da qual não se pode amputar uma parte sem danos tremendos.

8. Conhecemos os danos produzidos por uma separação. Por isso, na sua conclusão final, Jesus não adverte apenas os homens, mas também as mulheres.

9. Achamos duro? Jesus não é legalista. Jesus não trata da questão se um parceiro honesto, abandonado, mas necessitado de companhia para a vida, pode participar da comunidade eclesial, e de que modo. Esta é uma questão para os pastores hoje.

10. Jesus defende o amor de Deus, e defende-o até a morte, que irá acontecer em breve. Por isso iguala a prática ‘aceita’ de repudiar a parceira ao adultério, que era considerado gravíssimo e punido de morte. Só compreende tal radicalidade no amor (não na rigidez!) quem está seguindo Jesus pelo mesmo caminho. Ser discípulo dele traz consigo essa compreensão.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 05 de setembro de 2024

(Jó 42,1-3.5-6.12-16; Sl 118[119]; Lc 10,17-24) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos” Lc 10,21a.

“Privilégio é uma vantagem ou exceção concedida a um indivíduo ou também significa dom especial. Os apóstolos foram privilegiados por Jesus ao serem escolhidos para uma importante missão e por o conhecerem como o Filho do Pai sendo ele o próprio Deus. Jesus não escolheu sábios e entendidos para a missão do ‘ide e pregai o Evangelho’. Os seus apóstolos eram homens humildes, simples, pequeninos diante da sua comunidade, diante de sua família. Estamos falando da Missão dos Setenta, que agora chega ao seu final. Graças ao cumprimento dos apóstolos, a tarefa foi gloriosa apesar dos descontentamentos de doutores da lei, dos sábios e entendidos. Jesus fica agradecido a Deus por ter-se revelado aos pequeninos, seus discípulos. Somos escolhidos de Deus para uma missão, tão importante quanto a dos apóstolos: dar continuidade à obra de Cristo. Como fez com os seus apóstolos, Deus prometeu estar conosco, dar segurança, livrar-nos da maldade humana e nos deixou a Bíblia para aprendermos a falar com sabedoria e humildade. Como está o nosso preparo para enfrentar as pessoas que fogem da presença de Deus? Como está o nosso tempo para nos dedicar a essa tarefa? Qual será a fisionomia de Jesus ao nos encontrar no final da nossa missão? São questões para refletirmos e fazermos um balanço sobre a nossa atuação como cristão. O nosso preparo será no estudo da Bíblia, nas orações ao Pai para que a nossa missão tenha sucesso e possamos ver a alegria no rosto do próximo e no de Jesus. – Senhor, prepara-me para trabalhar na tua seara. Enche o meu coração de amor pelos desviados e pela minha missão. Obrigado(a) por me chamar. Amém (Iracy Dourado Hoffman – Meditações para o dia a dia – 2017).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 04 de outubro de 2024

(Jó 38,1.12-21; 40,3-5; Sl 138[139]; Lc 10,13-16) São Francisco de Assis.

“Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas quem me rejeita,

rejeita aquele que me enviou” Lc 10,16.

“Este gigante da santidade era fisicamente de modesta estatura, tinha barbicha rara e escura. E, no plano cultural, ainda mais modesto. Conhecia o provençal, ensinado pelo pai, por ter feito algumas leituras de romances de cavalaria. Era um hábil vendedor de tecidos, ao lado de um pai que lhe enchia a bolsa de moeda. Nas alegres noitadas com os amigos, Francisco não media despesas. Participou das lutas entre as cidades e conheceu a humilhação da derrota e de um ano de prisão em Perúgia. No regresso, fez-se armar cavaleiro pelo conde Gualtério e esteve a ponto de partir para a Apúlia, mas em Espoleto, ‘pareceu-lhe ver’, conta são Boaventura na célebre biografia, ‘um palácio magnífico e belo, e dentro dele muitíssimas armas marcadas com a cruz, e uma voz que vinha do céu: São tuas e dos teus cavaleiros’. A interpretação do sonho veio-lhe no dia seguinte: ‘Francisco, quem te pode fazer mais bem, o senhor ou servo?’ Francisco compreendeu, voltou sobre os seus passos, abandonou definitivamente a alegre companhia e enquanto estava absorto em oração, na Igreja de São Damião, ouviu claramente o apelo: ‘Francisco, vai e repara a minha Igreja que, como vês, está toda em ruínas’. O jovem não fez delongas, e diante do bispo Guido – a cuja presença o pai o conduzira à força para fazê-lo desistir –, despejou-se de todas as roupas e as restituiu ao pai. Improvisou-se em pedreiro e restaurou do melhor modo possível três igrejinhas rurais, entre as quais Santa Maria dos Anjos, dita Porciúncula. Uma frase iluminante do Evangelho indicou-lhes o caminho a seguir: ‘Ide e pregai... Curai os enfermos... Não leveis alforje, nem duas túnicas, nem sapatos, nem bastão’. Na primavera de 1208, 11 jovens tinham-se unido a ele. Escreveu a primeira regra de ordem dos frades menores, aprovada oralmente pelo papa Inocêncio III, depois que os 12 foram recebidos em audiência, em meio ao estupor e à indignação da cúria pontifícia diante daqueles jovens descalços e malvestidos. Mas aquele pacífico contestador teve a solene aprovação do sucessor Honório III, com a bula ‘Solet annuare’, de 29 de novembro de 1223. Um ano depois, na solidão do monte Alverne, Francisco recebeu o selo da Paixão de Cristo, com os estigmas impressos em seus membros. Depois, ao aproximar-se da ‘irmã Morte’, improvisou seu ‘Cântico ao irmão Sol’, como hino conclusivo da pregação de seus frades. Por fim, pediu para ser levado à Porciúncula e deposto sobre a terra nua, onde se extinguiu cantando o salmo ‘Voce mea’, nas vésperas de 3 de outubro” (Mario Sgarbosa – Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 03 de outubro de 2024

(Jó 19,21-27; Sl 26[27]; Lc 10,1-12) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó,

e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne verei a Deus” Lc 10,25-26.

“Se Jó tivesse continuado a percorrer os caminhos do protesto, teria encontrado a morte na solidão do deserto da sua vida, como aconteceu ao povo que murmurou durante o êxodo (cf. Nm 14). Pelo contrário, embora advirta, por um lado, que Deus o ataca com o sofrimento, por outro, pressente que os olhos do seu coração se abrem. Cresce nele o desejo de contemplar o verdadeiro rosto de Deus, não como um inimigo, mas sim como defensor. [Compreender a Palavra:] Jó, sozinho, doente, completamente prostrado por terra, sem forças, sente que todos os pensamentos que até então tinham preenchido a sua mente não podem corresponder à realidade. Deus é diferente da imagem que os seus amigos – e no fundo também ele próprio – tinham feito d’Ele. Aquele que agora o castiga será também Aquele que, no final, o vingará. Será Aquele que fará justiça, mas uma justiça diferente da que até então invocou. Jó, ainda antes de morrer e num tempo de confusão, quando o povo já se tinha deixado envolver pela cultura grega, quis deixar este testemunho, acerca de Deus, em herança a Israel. Está certo – sente esta inspiração cada vez mais clara no coração – de que verá a Deus vê-lo-á como amigo do homem. Quando O verá? Antes de morrer? Depois da morte? A tradução latina fala de uma visão de ressuscitado. Embora o texto hebraico não fale ainda disto, no Evangelho o desejo de Jó encontra cumprimento na ressurreição na carne em Cristo” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 02 de outubro de 2024

(Ex 23,20-23; Sl 90[91]; Mt 18,1-5.10) Santos Anjos da Guarda.

“Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus.

E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe” Mt 18,4-5.

“Ser criança é ser humilde, simples, verdadeiro, inocente, puro, crente, confiante, amável. Jesus afirma que o ingresso para entrar no Reino de Deus, é ser criança. Tornar-se criança é colocar em prática todas essas características. Jesus quer no seu Reino pessoas alegres, confiantes, amáveis, verdadeiras, crentes e amorosas. Tornar-se uma criança é viver a vida adulta com responsabilidade e amor com seus familiares, com seu próximo. É ter sabedoria de uma criança no convívio com o mundo, aceitando as diferenças e ajudando ao necessitado. É ser transparente nas suas atitudes e buscar a Deus preferencialmente. Acolher a criança, orientá-la nos princípios do Evangelho e amenizar as suas dificuldades é um dever do seu cuidador e dos seus pais. O texto nos diz que todas as vezes que recebemos uma criança, estamos recebendo Cristo em nossas vidas. Ser adulto muitas vezes é uma condição de autoconhecimento, de prepotência, de auto sabedoria, de poder, de segurança, de egocentrismo e de grandeza. Como abandonar essas características e se tornar como uma criança? Deus quer de nós arrependimento, a sinceridade no amar, a humildade e a simplicidade no agir e amar a Deus em primeiro lugar e ao próximo como a si mesmo. – Senhor, faze de mim uma pessoa humilde, simples, verdadeira e confiante nas tuas promessas. Obrigado(a) por me aceitar da maneira que sou. Amém (Acyr de Gerone Junior – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite