(1Cor 15,1-11; Sl 117[118]; Lc 7,36-50) 24ª Semana do Tempo Comum.
“Certa mulher, conhecida na cidade como
pecadora, soube que Jesus estava à mesa na casa do fariseu”
Lc 7,37a.
“Quem
na própria vida já passou por uma conversão se relaciona também de outra
maneira com os pecadores. Não projetará sobre os outros a sua própria culpa;
não fará deles, abusivamente, bodes expiatórios. Há de se relacionar com os
pecadores de maneira bondosa, segundo o exemplo de Jesus. Que Jesus se voltava
para os pecadores tem seu fundamento na confiança de que exatamente os
pecadores estão abertos para a Boa Nova sobre o amor misericordioso de Deus.
Lucas desenha Jesus como aquele que se voltava para os pecadores, e come e bebe
com eles. Ele contou uma história maravilhosa, uma obra prima de sua arte
teatral, a história do encontro entre Jesus e a pecadora (Lc 7,36-50). Nessa
narrativa, brilhante ‘pelo seu esmero estético’ (Bovon I, p. 385), Lucas empregou
recursos estilísticos da literatura dos simpósios gregos, sobretudo o tema da
aparição de hóspedes não convidados, o diálogo típico dos banquetes gregos (cf.
Heininger, p. 84s). Jesus está deitado, segundo o costume de círculos gregos,
para a refeição na casa de um fariseu. Aí aconteceu uma surpresa. Uma mulher,
conhecida na cidade como pecadora, entra e se aproxima de Jesus por trás. Com
suas lágrimas ela molha os pés de Jesus, enxuga-os com seus cabelos e unge-os
com óleo precioso. A unção da cabeça pertencia aos costumeiros ritos de
recepção, mas a unção dos pés era uma coisa inaudita (Bovon I, p. 391). É uma
cena erótica, pois somente a própria esposa ou uma filha podiam ungir os pés de
homem. E para o sentimento judaico soltar os cabelos era um gesto
particularmente erótico. A mulher até beija os pés de Jesus. Enquanto os
fariseus olham a cena com indignação, Jesus interpreta positivamente a conduta
da mulher. Ele vê as lágrimas, ele vê a aflição, ele vê a ânsia da mulher por
um amor verdadeiro. Jesus toma a iniciativa. O fariseu, que nos seus
pensamentos se tinha colocado acima Jesus, fica embaraçado com uma comparação,
tirada por Jesus do mundo do crediário da época (Lc 7,41s). depois Jesus
critica abertamente a atitude do fariseu, e defende o ato da mulher. No
comportamento da mulher ele vê uma expressão de amor. Esse amor é um sinal que
muita coisa lhe foi perdoada. Publicamente, diante de todos os comensais, Jesus
garante o perdão àquela mulher. Lucas, de propósito, deixa o leitor em dúvida:
Jesus perdoa a mulher porque ela lhe mostrou tanto amor ou confirma apenas o
perdão e o amor. E não vale a pena discutir sobre o que aconteceu primeiro, o
perdão ou o amor. O amor e o perdão engrenados, um no outro, mutuamente” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do
ser humano – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite