(1Cor 3,18-23; Sl 23[24]; Lc 5,1-11) 22ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus estava na margem do lago de
Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor
para ouvir a Palavra de Deus” Lc 5,1.
“Jesus
vê-se rodeado pelo povo, ansioso de ouvir a palavra de Deus; o povo tinha fome
e sede de justiça, fome e sede da palavra de Deus. Rodeia-o de tal forma que
quase lhe impede os movimentos indispensáveis, e assim Jesus ordena a
Pedro que afaste a barca um pouco da margem. ‘Faze-te ao largo’ (v. 4). Dentro
de você, não fora de você. Em suas profundidades, em sua intimidade não no que
o rodeia, não no que não é você. No silêncio de suas profundidades e não na
agitação e no bulício de sua atividade exterior; na abstração de tudo que não
seja Deus, as coisas de Deus. Para chegar a seu interior, você deverá
afastar-se de muitas coisas em seu exterior; para colocar-se nesse fecundo
silêncio, deverá fazer com que se calem muitas vozes, muitas conversas, muitos
ruídos, muito bulício e agitação; Deus fala no silêncio; a Bíblia diz que Deus
fala no deserto, não no deserto físico de ausência de população, mas sim no
deserto do coração, esse coração que se encontra despojado de tudo. Pode ser
que, por motivo de seus deveres de estado, você se ache imerso entre os ruídos
exteriores; mas afirmo-lhe que mesmo entre esses ruídos seu coração deve estar
em silêncio diante de Deus, e lhe afirmo também que, por mais que por sua
vocação você deve estar imerso no bulício do mundo, é imprescindível que haja
em sua vida momentos nos quais você se afaste de tudo e de todos e se dedique
única e exclusivamente ao silêncio, ao recolhimento, à oração, à sua intimidade
com Deus. Os santos pareciam tão entregues ao próximo, como se estivessem
absorvidos pela presença de Deus neles. Santo Antônio Maria Claret,
acompanhando o cortejo da rainha da Espanha no meio das multidões, não perdia o
colóquio ininterrupto com Jesus sacramentado que levava no peito. Nas parias
sentem-se ruídos, rumores, gritos: somente mar adentro é onde se goza do
deslizar suave das ondas e do afastamento da azáfama do mundo; somente ali
dentro do coração poder-se-á gozar das delícias suaves desse Deus que nos
acompanha continuamente. E não pense que a espiritualidade leiga, própria dos
leigos cristãos, exima você da interioridade de sua vida espiritual; sem essa
interioridade você mal conseguirá libertar-se das influências de tudo que o
rodeia” (Alfonso
Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano –
Ave-Maria).
Pe.
João Bosco Vieira Leite