Terça, 01 de outubro de 2024

(Jó 3,1-3.11-17.20-23; Sl 87[88]; Lc 9,51-56) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os” Lc 9,55.

“Talvez não seja tão frequente em você a atitude de rejeição ao Senhor; porém pode sê-lo a atitude de incompreensão, que em última análise também é uma atitude de rejeição a Deus, do plano de Deus, da vontade de Deus. na pergunta que Tiago e João fazem ao Senhor, brotava não somente a ofensa inferida ao Mestre, ao não recebe-lo, mas também algo do fundo humano e do ódio judaico contra os inimigos tradicionais, os samaritanos. Jesus repreende-os, pois, não era este o espírito do Reino: alguns textos evangélicos acrescentam aqui uma repreensão do Senhor aos apóstolos, àqueles a quem tinha dito: ‘Não sabeis de que espírito estais animados’ (v. 55), como a indicar-lhes, com toda clareza, que o espírito de vingança não é o Espírito de Deus, mas do diabo, acrescentando que a missão do Filho do Homem não é destruir, mas salvar (v. 56). No final do mesmo São Lucas, algo mais adiante, no capítulo 19, versículo 10, faz constar que ‘o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido’, e São João no evangelho também nos diz com toda clareza: ‘Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele’ (João 3,17)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de setembro de 2024

(Jó 1,6-22; Sl 16[17]; Lc 9,46-50) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Nu eu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou;

como foi do agrado do Senhor, assim foi feito. Bendito seja o nome do Senhor’” Jó 1,21.

“O autor, mediante uma narração popular, enfrenta um problema que atormentava o coração dos judeus religiosos do seu tempo, e também dos homens de hoje. Seguindo os acontecimentos de Jó, homem ‘íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal’ (cf. v. 8), ele formula a seguinte pergunta: ‘Mas Jó temerá a Deus de maneira desinteressada?’ (v. 9). Por outras palavras, por que é que o homem se dirige a Deus? Para servi-lo, ou para ser servido por Ele? [Compreender a Palavra:] a cena, descrita com grande habilidade narrativa pela leitura de hoje, desenrola-se em dois planos: na corte celeste diante do Senhor (vv. 6-12) e na terra (vv. 13-22). De fato, antes de começar o diálogo de Jó com os três amigos, o autor mostra-nos, a nós leitores, a decisão tomada no diálogo entre Deus e Satanás, ou seja, colocar à prova a religiosidade de Jó. Será uma religiosidade desinteressada, a de Jó? Mas Jó não conhece esta decisão. O Senhor permite que ele seja provado nos bens e nos afetos mais queridos, os filhos, tal como aconteceu aquando da prova de Abraão (cf. Gn 22,1). A reação inicial do homem da terra de Hus (cf. Jó 1,1) não é a murmuração, mas a aceitação humilde da vontade de Deus: ‘O Senhor concedeu, o Senhor tirou’ (v.21). Ele continua, mesmo na precariedade e no sofrimento, a dizer bem de Deus. Continua de verdade a ser o servo do Senhor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

26º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Nm 11,25-29; Sl 18[19]; Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48)

1. O evangelho deste domingo nos oferece duas possibilidades de reflexão: uma a respeito da atitude a ser assumida com aqueles que não são ‘dos nossos’; outra sobre o escândalo. A escolha da Liturgia parece inclinar-se para o 1º tema, porque com ele concorda a 1ª leitura.

2. Lá nós temos esse episódio em que algumas pessoas começaram a profetizar em meio ao acampamento israelita. O detalhe é que Moisés, o profeta escolhido por Deus para falar ao seu povo, não vê nisso um problema e até deseja que todo o povo de Deus profetizasse.

3. Assim acontece algo parecido na vida de Jesus, quando lhe comunicam que alguém está expulsando demônios em seu nome, mesmo não fazendo parte do seu grupo de discípulos. Jesus também não vê problema nisso, pois quem assim age, simpatiza com a ação cristã.

4. Os dois fatos nos lembram que o Espírito de Deus sopra onde quer. Que não devemos encarar as coisas da fé como uma espécie de estrelismo e de torcida. Que olhemos com respeito e tolerância, não com ciúme, aqueles que embora não sendo dos nossos, trabalham para uma autêntica promoção humana.

5. Uma coisa é estar contra os cristãos, que humanamente erram, traem e são incoerentes, mas não contra Cristo. Não vem do Espírito um discurso que vai contra o próprio Jesus ou mesmo quem traz projetos para a humanidade que não comungam com seu pensar. Para tudo, e sempre, é preciso fazer constantemente um discernimento dos espíritos, para examinar tudo e reter somente aquilo que é bom, nos lembra Paulo.  

6. Voltemo-nos ainda um pouco sobre o tema do escândalo, uma palavra que gera certo incômodo. Biblicamente tem dois significados: ‘tropeço’ e ‘obstáculo’. Assim pode ser algo que desvia do caminho, que leva ao pecado ou algo que impede e fecha o acesso. Na linguagem de Jesus seria o que impede a vinda da fé e a entrada no Reino.

7. Jesus pensa nos pequenos, pois um escândalo mostra sua força devastadora, levando-os a não ter mais condições de crer e rezar. Para Jesus isto é tão grave que ele sugere uma imagem de uma crueza incomum.

8. Basta olhar a nosso redor, à luz destas palavras de Jesus, para descobrir que todos nós estamos nesta situação de escândalo ativo, continuado e organizado que inspirou a ameaça de Cristo, seja no campo da aberração sexual e da violência, seja em outros setores da nossa sociedade, como na política.

9. Naturalmente, quem cria e alimenta esta situação não quer ouvir a palavra escândalo; considera sinal de obscurantismo, de beatice, assim como considera obscurantista aquela mesquinhez de consciência que se chama censura; falam de liberdade de expressão (que não é para todos), de arte, de realismo, tentando convencer a si mesmos de que não se trata, ao invés, da procura exasperada de sucesso e de lucro.

10. Há motivos de tremer vivendo numa sociedade como a nossa que assiste divertida a tudo isso e fecha a boca, ridicularizando as vozes que lhe lembram uma concepção mais séria e digna da existência. Há quem espere um novo dilúvio ou mesmo uma chuva de fogo como Sodoma e Gomorra. Uma resetada em nossa sociedade.

11. No entanto, ao longo da história, para além daqueles que se fazem ouvir em alto e bom som, existe sempre algo que podemos fazer ao menos dentro de nossas casas para manter limpo esse refúgio. Vigiar o que se diz, o que se lê, o que se vê, para que os jovens que o quiserem tenham ao menos a possibilidade de fazer um confronto entre a alegria que vem do respeito à vida e a alegria que vem da exploração e da violência.

12. Não esqueçamos que nós cristãos podemos ser um obstáculo a quem está caminhando para a fé e para Cristo. Por vezes não vivemos as exigências da fé, mantendo prisioneira a verdade de Deus. Mesmo escutando o Evangelho, na vida, somos injustos com o próximo, insensíveis diante da necessidade e da dor, cínicos e incoerentes, impendido que o outro tome a sério a palavra de Jesus, que se convertam e creiam n’Ele.

13. Se realmente essa palavra do Senhor é a verdade, como cantamos na aclamação, que ela nos permita ver à sua luz, o mundo e a nós mesmos. Se permitirmos que ela penetre em nossa existência, ela pode fazer florir a conversão e a coragem para combater os escândalos e para não sermos nós mesmos causa de escândalo.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de setembro de 2024

(Ecl 11,9—12,8; Sl 89[90]; Lc 9,43-45) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Lembra-te do teu Criador nos dias da juventude, antes que venham os dias da desgraça

e cheguem os anos dos quais dirá: ‘Não sinto prazer neles’” Ecl 12,1.

“É um trecho de grande intensidade poética o que a liturgia nos propõe hoje. Encontram aqui o lugar as perguntas e as angústias de cada homem acerca do passar dos dias. Se o nosso futuro nos está oculto, se à Primavera se segue um longo inverno, mas não é seguido por outra Primavera, qual é a coisa mais sábia a fazer durante a nossa vida? A estas perguntas responde Coélet na parte final do seu livro. [Compreender a Palavra] Coélet parece não ser de verdade um sábio pessimista. Também ele pertence àquela longa série de sábios honestos do Senhor, que acompanharam Israel, sobretudo dos momentos mais críticos, ou seja, no pós-exílio. Este foi um tempo no qual chegavam muitas novidades da cultura grega, que exerciam grande sedução sobre os jovens, os quais se arriscavam assim a abandonar as tradições dos antepassados. Coélet convida o jovem a expulsar a melancolia do coração, porque a vida que o Senhor lhe concede hoje é bela. Que a goze com alegria. Mas sabendo que também sobre isto será julgado, se tiver aceitado ou rejeitado os dons do Senhor. Depois chegarão o Inverno e a morte. Mas estamos nas mãos de Deus. O Evangelho será verdadeiramente uma Boa Notícia para todo o mundo: Jesus ressuscitado venceu definitivamente também a morte” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 27 de setembro de 2024

(Ecl 3,1-11; Sl 143[144]; Lc 9,18-22) 25ª Semana do Tempo Comum.   

“Estava rezando num lugar retirado e os discípulos estavam com ele. Então, Jesus perguntou-lhes:

‘Quem diz o povo que sou?’” Lc 9,18.

“A experiência de contato com Jesus permitia aos discípulos formarem uma ideia a respeito dele. Suas palavras e seus gestos revelavam sua identidade. O senhorio de Deus em sua vida ficava patente na consciência de ser o Filho, enviado para falar as palavras do Pai e realizar suas obras. As dimensões do poder que lhe fora conferido podiam ser percebidas nos milagres e prodígios que realizava. Sua liberdade interior evidenciava-se na insubmissão a certos costumes e tradições, absolutizados por algumas facções religiosas da época. Sua visão de sociedade manifestava-se no trato acolhedor dispensado às pessoas vítimas de marginalização, na solidariedade com os sofredores, na sensibilidade diante das injustiças, no serviço à restauração da vida. Tudo isto tinha como eixo o Reino de Deus, anunciado e implementado por ele. Quando Jesus dirigiu-se a seus discípulos a pergunta ‘quem sou eu?’, eles já possuíam elementos para formular uma resposta correta, diferente daquela corrente no meio popular. A resposta de Pedro, em nome do grupo, resumia a opinião de todos os discípulos. E Jesus confirmou a resposta dada. Entretanto, viu-se na obrigação de oferecer um esclarecimento. O Messias estava destinado a sofrer muito, ser vítima de rejeição, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Que os discípulos contassem com isto! – Senhor Jesus, dá-me inteligência para conhecer, sempre mais, tua identidade manifestada na tua vida de serviço ao Reino de Deus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 26 de setembro de 2024

(Ecl 1,2-11; Sl 89[90]; Lc 9,7-9) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Então Herodes disse: ‘Eu mandei degolar João. Quem é esse homem sobre quem ouço falar essas coisas?’

Lc 9,9.

“Herodes representa aqui o poder político, enquanto Jesus, o profeta, é a humildade personificada. Herodes, como representante do poder, é soberbo, altivo e exigente; quer que todos se prostem diante dele e cedam a seus caprichos, inclusive o profeta de Israel, aquele que Herodes ainda não sabia quem era, mas que, por isso mesmo, tinha despertado nele a grande curiosidade de vê-lo agir e ainda, talvez, poder presenciar alguns sinais maravilhosos que lhe haviam dado fama. Aqui temos (e logo se repetirá ao longo da história de todos os povos) o profeta enfrentando o poder e o poder tentando o profeta. O cristão, como profeta, há de ter uma atitude de discernimento; não deve erigir-se em juiz de pessoas e acontecimentos, mas deve ser seu profeta. Como profeta deve projetar, sempre acima de tudo, a luz da palavra de Deus, que é profética, porque impulsiona para o bem, para a justiça e para o amor. E não importará se, para isso, o cristão profeta deve enfrentar os poderes constituídos, se eles contrariam a palavra de Deus. Necessitará para isso de muita valentia e não menor sentido de justiça e de caridade, de equilíbrio e de prudência. Indubitavelmente, o profeta vai expor-se, como Jesus, a ser julgado e a ser tido pelo que não é; inclusive suspeitarão nele intenções não totalmente corretas e ainda lhe serão atribuídas doutrinas errôneas, fazendo-o aparecer como seguidor e propulsor das mesmas, a fim de anular sua ação profética. Se você é cristão, seguidor de Cristo, deve ser seu profeta; deve falar em nome dele, transmitir sua mensagem, que, por ser mensagem de salvação, é mensagem de justiça, de liberdade, de amor e de paz; e esse tipo de mensagem opõe-se ao mundo, aos poderes do mundo, às ambições do mundo, que por isso o criticará, julgará, condenará e dirá muitas coisas de você assim como Herodes perguntava a respeito de Jesus: ‘Quem é este de quem ouço tais coisas?’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de setembro de 2024

(Pr 30,5-9; Sl 118[119]; Lc 9,1-6) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Afasta de mim a falsidade e a mentira, não me dês pobreza nem riqueza,

mas concede-me o pão que me é necessário” Pr 30,8.

“A Palavra de Deus mostra-se verdadeira na vida concreta: o Senhor é um refúgio autêntico para quem recorre a Ele. Os versículos 5-6 mostram que a palavra de Deus é profundamente diferente da humana, não pode ser manipulada, deve ser transmitida intacta. Os versículos 7-9 são uma oração em forma de provérbio numérico. O sábio procura somente a verdade e o necessário para o seu sustento. [Compreender a Palavra:] Para poder indicar o caminho certo, o sábio deve ser animado pelo amor à verdade. Não deve agradar os seus discípulos procurando o seu afeto, em vez do de Deus, endereçando-os assim para um caminho de morte e não de vida. Por isso, antes de morrer, ele pede a Deus que o ajude a dizer sempre a verdade, mesmo que incómoda. Em segundo lugar, sabe que também precisa viver. Ele deve comer todos os dias. Por isso pede ao Senhor o pão de cada dia. Não muito pouco, para que o seu coração não tenha que murmurar; e não demasiado, para que também ele não abandone o caminho da sabedoria, procurando a vida nos bens, como os estultos. A sabedoria tradicional tem uma posição muito equilibrada sobre a riqueza e sobre a relação com os bens. Cada qual deve trabalhar para procurar o necessário. A preguiça é combatida continuamente. Todos devem procurar alcançar o bem-estar para uma vida digna, procurando não apegar o coração aos bens, a não iludir-se que possam ser estes a construir a salvação do homem” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de setembro de 2024

 (Pr 21,1-6.10-13; Sl 118[119]; Lc 8,19-21) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus

e a põem em prática’” Lc 8,21.

“O verdadeiro parentesco de Jesus não se funda na carne, mas no espírito. A comunidade com Jesus, mais que no sangue, está em escutar e tornar realidade a palavra de Deus. Maria é mãe de Jesus pelo sim total e absoluto que deu à palavra de Deus: ‘Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lucas 1,38). O texto não é uma rejeição a Maria, é sobretudo um louvor. Ela foi ‘sim’ à luz e deu à luz a Luz do mundo; não se apropria dela, entregou-a e o próprio ato de entregar a Luz torna-a mãe e irmã de todos os que, seguindo suas pegadas, são um sim à palavra e um exemplo para a ação da Igreja. Jesus Cristo aproveita aquela oportunidade, não para negar o afeto filial e de piedade para com os seus, mas para comparar o simples afeto familiar ‘humano’, ao outro afeto da grande família cristã baseado no ‘sobrenatural’. Temos aqui um belo exemplo que o próprio Jesus nos propõe: sua Mãe Santíssima como exemplo supremo de uma escuta atenta da palavra de Deus. Podemos ler no Evangelho de São Lucas: ‘Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração’ (Lucas 2,19). ‘Sua mãe guardava todas essas coisas no seu coração’ (Lucas 2,51). Belo exemplo que lhe dá sua Mãe celeste; você deve imitá-lo:

·         Escutar a palavra de Deus, prestar-lhe atenção, lê-la com vagar e com gosto, aproveitando todos os momentos que o Senhor lhe apresenta quer nas homilias, quer em qualquer outro comentário escriturístico;

·         Meditar a palavra de Deus; não basta escutá-la ou lê-la; é preciso meditar o que se escuta ou se lê; você precisa aprofundar o sentido da palavra de Deus e ir aplicando-a às diversas circunstâncias de sua vida.

·         Cumprir a palavra de Deus; somente assim transforma-se em vida; não basta, pois, que você conheça a palavra de Deus, que a medite em seu coração, se você não age assim no sentido de levá-la à prática; a estes precisamente, aos que cumprem a palavra de Deus, lhes é prometida a felicidade e são eles os que verdadeiramente pertencem à família de Jesus, e a esses ele ama com um amor profundo”     

(Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

  

Segunda, 23 de setembro de 2024

(Pr 3,27-34; Sl 14[15]; Lc 8,16-18) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama; ao contrário, coloca-a no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz” Lc 8,16.

“A insistência de Jesus no tema da humildade e do serviço não dispensava os discípulos de exercerem uma ação eficaz, visando a transformação do mundo. O serviço humilde era, para Jesus, algo relevante; não podia ser reservado ao âmbito do privado. A humanidade deveria encontrar, no agir do discípulo, um modelo inspirador. O Mestre ilustrou este ensinamento com a parábola da lâmpada colocada num lugar estratégico, de modo que sua luz atingisse todos os recantos da casa. Seria insensato colocá-la debaixo da cama, pois seu lugar natural é um candelabro bem situado. O discípulo, sem se deixar levar pelo orgulho e pela vanglória, não tem medo de fazer o bem à vista de todos. Sua ação resplandecente de amor e solidariedade ilumina as trevas do egoísmo, que contaminaram a ação humana. A violência é denunciada pela firmeza dos mansos e humildes de coração. O egoísmo revela sua face perversa ao ser colocado em contraste com o amor e a solidariedade. Os que creem na justiça identificam toda ação injusta. E, assim, todo agir inspirado na proposta do Reino vai na contramão de situações desumanizadoras que devem ser denunciadas. Isto se dá quando o discípulo do Reino tem a coragem de fazer-lhes frente, como a luz enfrenta e elimina as trevas. Portanto, é incompatível com sua vocação deixar de enfrentar o mundo que deve ser evangelizado. – Senhor Jesus, tira de mim o medo e a covardia que me impedem de iluminar, com minhas ações, o que, no nosso mundo, está mergulhado nas trevas (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

25º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Sb 2,12.17-20; Sl 53[54]; Tg 3,16—4,3; Mc 9,30-37)*

1. Na nossa liturgia da Palavra temos outro anúncio da paixão preparado pela 1ª leitura. Jesus é o Messias, ouvimos a declaração de Pedro no domingo anterior, mas é o Messias destinado ao sofrimento. Assim, Jesus vai corrigindo as falsas esperanças dos seus discípulos e os prepara para o que virá.

2. Os discípulos continuam sem entender. E pior, não perguntam. Tinham medo de que as explicações lhes desfizesse sonhos e esperanças e os conduzissem para uma direção bem diferente. Mas nossa atenção vai para a 2ª parte do nosso evangelho; Jesus alarga ainda mais a compreensão sobre seu pensar.

3. Como Marcos resume e concentra ao máximo os acontecimentos e as Palavras de Jesus, precisamos da luz e dos detalhes que nos trazem Mateus e Lucas sobre a mesma narrativa.

4. Mesmo anunciando sua paixão, Jesus percebe que nessa discussão que os discípulos travam pelo caminho persiste uma falsa compreensão do Reino de Deus anunciado por Jesus. Eles pensam em cargos, postos, em poder, Jesus pensa em serviço. Certamente dimensionavam as pequenas tarefas que tinham no grupo.

5. Jesus corrige de cara a falsa compreensão dos discípulos lembrando-lhes que ‘o maior seja o servidor de todos’. Na casa onde se hospedavam havia uma criança e Jesus a coloca como exemplo do que deve ser acolhido e protegido. Mateus vai acrescentar: exemplo do que temos de nos tornar para entrar no Reino.

6. Poucas cenas evangélicas são mais simples do que esta e mais carregada de tensão e de luz; os pensamentos humanos se chocam com os pensamentos de Deus. Algo parecido com a repreensão a Pedro no domingo anterior. Ainda vai levar um tempo até o pensamento deles se conformarem ao de Jesus. 

7. Certamente um fato assim não está perdido no passado. Não estamos também entre aqueles que no caminho, isto é, na vida, discutem e se atarefam para ser os maiores? E aqui também estamos nós em sua presença. É Ele que nos reúne e nos fala. Essa palavra que ressoa a nossos ouvidos deve também ressoar em nosso coração.

8. Nós seres humanos queremos ser os primeiros: é um desejo inato, primordial; não é, tampouco, um desejo mau; no fundo ele coincide com o desejo de ‘ser’, de valorizar a própria existência, de subir mais alto. Isso nos acompanha desde a infância. Não é algo ruim; é apenas ambíguo.

9. O Evangelho não está condenando esse desejo. É lícito querer ser grande! O que Jesus muda radicalmente é o motivo deste desejo e, portanto, também o modo de o realizar. Em Lucas (22,25), Jesus convida seus discípulos a contemplar a dinâmica do poder que rege o mundo e a não imitá-lo.

10. Para Jesus a verdadeira autoridade não está em estar acima dos outros, oprimir os outros, na afirmação de si mesmos reduzindo os outros a escravos, clientes ou aduladores; está em ‘ser primeiro para os outros’, em colocar o que se tem de bom a serviço de todos.

11. Quando os descrentes ouvem essas coisas se escandalizam e julgam que é loucura pura e simples; procedendo assim, pensam eles, o mundo se acabaria. Como se esse mundo construindo sobre a vontade de poder, sobre a ambição e o vedetismo fosse a melhor coisa que temos e estamos todos felizes.

12. Quem não enxerga que nossos males mais terríveis se originam precisamente daqui? Tiago nos questiona na 2ª leitura. Ele nos lembra que não só a infelicidade do mundo, mas também a nossa infelicidade pessoal e cotidiana deriva-se daqui: dos desejos imoderados de sobressair-se, das ambições que não conseguimos satisfazer ou que, uma vez satisfeitos, nos deixam mais descontentes e insatisfeitos do que antes.

13. Jesus nos mostra outro caminho: tornar-nos como crianças. Talvez seja uma das frases do Evangelho mais profundas e mais difíceis de entender. Talvez só a venhamos a compreender se mudarmos a nossa prática. Peçamos a Ele que nos imprima essas verdades no coração e no-las ‘recorde’ com seu Espírito quando chegar o momento de pô-las em prática.

* Reflexão com base em texto de Raniero Catalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 21 de setembro de 2024

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19ª]; Mt 9,9-13) São Mateu, Apóstolo.

“Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos e disse-lhe: ‘Segue-me!’

Ele se levantou e seguiu a Jesus” Mt 9,9.

“Outra reflexão que se desprende do relato evangélico é que, por conta do chamado de Jesus, Mateus responde imediatamente: ‘Ele se levantou e seguiu Jesus’. A concisão da frase põe em evidência a prontidão de Mateus em responder ao chamado. Para ele isto significativa abandonar tudo, principalmente aquilo que lhe garantia uma fonte segura de receitas, embora em certas ocasiões fosse injusta e desonrosa. Evidentemente, Mateus entendeu que a familiaridade com Jesus não lhe permitiria continuar com atividades desaprovadas por Deus. é fácil intuir a aplicação disto no presente: tampouco hoje é admissível o apego a coisas incompatíveis com o chamado de Jesus, como as riquezas imorais. Um dia Ele chegou a dizer sem meias palavras: ‘Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me’ (Mt 19,21). Isto é precisamente o que fez Mateus: levantou-se e o seguiu! Neste ‘levantar-se’ é legítimo ler o distanciamento de uma situação de pecado e ao mesmo tempo a adesão consciente a uma nova existência, correta, em comunhão com Jesus” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Sexta, 20 de setembro de 2024

(1Cor 15,12-20; Sl 16[17]; Lc 8,1-3) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa-nova do Reino de Deus. os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças” Lc 8,1-2a.

“No seu caminho, Jesus é acompanhado não apenas por homens, mas também, igualmente, por mulheres. Somente Lucas nomeia explicitamente algumas mulheres como acompanhantes de Jesus. As mulheres acompanham Jesus até sua morte na cruz. E elas são as primeiras a correr para o sepulcro, onde se encontram com os anjos e lhes anunciam a ressurreição de Jesus: ‘Por que procurais o vivente entre os mortos? Ele não está aqui; ressurgiu. Lembrai-vos como ele como ele vos falou quando estava na Galileia’ (Lc 24,5-6). Este ‘vos falou’ mostra que Jesus, na Galileia, não falava somente com os discípulos, mas sempre também com as mulheres. Elas são discípulas. Isso vale também para a comunidade cristã. Para Lucas, homens e mulheres são discípulos e discípulas de Jesus, com os mesmos diretos. Frequentemente as mulheres são as primeiras a entender o sentido das palavras de Jesus, enquanto os homens às vezes tomam por ‘lorotas’  aquilo que as mulheres experienciaram e comentam (Lc 24,11)” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 19 de setembro de 2024

(1Cor 15,1-11; Sl 117[118]; Lc 7,36-50) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora, soube que Jesus estava à mesa na casa do fariseu”

Lc 7,37a.

“Quem na própria vida já passou por uma conversão se relaciona também de outra maneira com os pecadores. Não projetará sobre os outros a sua própria culpa; não fará deles, abusivamente, bodes expiatórios. Há de se relacionar com os pecadores de maneira bondosa, segundo o exemplo de Jesus. Que Jesus se voltava para os pecadores tem seu fundamento na confiança de que exatamente os pecadores estão abertos para a Boa Nova sobre o amor misericordioso de Deus. Lucas desenha Jesus como aquele que se voltava para os pecadores, e come e bebe com eles. Ele contou uma história maravilhosa, uma obra prima de sua arte teatral, a história do encontro entre Jesus e a pecadora (Lc 7,36-50). Nessa narrativa, brilhante ‘pelo seu esmero estético’ (Bovon I, p. 385), Lucas empregou recursos estilísticos da literatura dos simpósios gregos, sobretudo o tema da aparição de hóspedes não convidados, o diálogo típico dos banquetes gregos (cf. Heininger, p. 84s). Jesus está deitado, segundo o costume de círculos gregos, para a refeição na casa de um fariseu. Aí aconteceu uma surpresa. Uma mulher, conhecida na cidade como pecadora, entra e se aproxima de Jesus por trás. Com suas lágrimas ela molha os pés de Jesus, enxuga-os com seus cabelos e unge-os com óleo precioso. A unção da cabeça pertencia aos costumeiros ritos de recepção, mas a unção dos pés era uma coisa inaudita (Bovon I, p. 391). É uma cena erótica, pois somente a própria esposa ou uma filha podiam ungir os pés de homem. E para o sentimento judaico soltar os cabelos era um gesto particularmente erótico. A mulher até beija os pés de Jesus. Enquanto os fariseus olham a cena com indignação, Jesus interpreta positivamente a conduta da mulher. Ele vê as lágrimas, ele vê a aflição, ele vê a ânsia da mulher por um amor verdadeiro. Jesus toma a iniciativa. O fariseu, que nos seus pensamentos se tinha colocado acima Jesus, fica embaraçado com uma comparação, tirada por Jesus do mundo do crediário da época (Lc 7,41s). depois Jesus critica abertamente a atitude do fariseu, e defende o ato da mulher. No comportamento da mulher ele vê uma expressão de amor. Esse amor é um sinal que muita coisa lhe foi perdoada. Publicamente, diante de todos os comensais, Jesus garante o perdão àquela mulher. Lucas, de propósito, deixa o leitor em dúvida: Jesus perdoa a mulher porque ela lhe mostrou tanto amor ou confirma apenas o perdão e o amor. E não vale a pena discutir sobre o que aconteceu primeiro, o perdão ou o amor. O amor e o perdão engrenados, um no outro, mutuamente” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de setembro de 2024

(1Cor 12,31—13,13; Sl 32[33]; Lc 31-35) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade”

1Cor 13,13.

“Esta página da Primeira Carta aos Coríntios é famosa, e com razão: apresenta o elogio da caridade (ágape), isto é, o ‘caminho mais sublime’ (13,13) que o próprio Deus percorre em cada um de nós. A composição articula-se em três momentos. No primeiro, o Apóstolo Paulo faz uma comparação entre o amor e os carismas, que eram os mais ambicionados em Corinto, por serem os mais vistosos (13,1-3); no segundo, celebra com quinze verbos as qualidades do amor, ou seja, o que o amor é e o que faz (13,4-7); no terceiro, exalta o valor perene da caridade e a sua superioridade sobre todos os outros carismas e sobre todas as virtudes (13,8-13). [Compreender a Palavra:] Neste hino Paulo procura transmitir a sua paixão por uma vida cristã que entra em contato com a própria realidade de Deus, que é amor. A caridade aqui celebrada, com efeito, não é obra do homem, mas a atividade gratuita do Senhor, que torna possíveis relações novas com os outros porque foi aceite a relação com Ele. Os quinze atributos da caridade (oito são negativos, para indicar que ela exige sempre que dentro de nós alguma coisa seja mortificada, um êxodo do homem velho) dizem como são as relações com Deus e entre os homens, tornadas possíveis pelo dom do ágape. A caridade nunca terá fim, porque é antes de mais relação com Deus que transparece nas novas relações com os homens. Por conseguinte, a caridade é verdadeiramente a única dimensão escatológica do presente, é o caminho mais sublime pelo qual se deve sempre aspirar (1Cor 14,1). Nós detemo-nos demasiado nos momentos que manifestam pouco amor e esquecemo-nos que Deus já nos deu a caridade no Batismo e que nós, embora com muitas limitações, já a vivemos. Dêmos graças a Deus porque a Sua caridade existe em nós e entre nós, e porque Ele nos dá a alegria de o reconhecermos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de setembro de 2024

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(1[[Cor 12,12-14.27-31; Sl 99[100]; Lc 7,11-17) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chores!’” Lc 7,13.

“Jesus era altamente sensível ao sofrimento humano. Não lhe passava despercebida nenhuma só situação de dor e angústia. Sua sensibilidade era ainda mais aguçada quando se tratava de pessoas cuja condição social as tornava vulneráveis, vítimas da exploração e da marginalização. Todo o seu ministério foi pontilhado de experiências de compaixão. O episódio às portas da cidadezinha de Naim é um bom exemplo disto. Aí ele se deparou com uma cena dramática: o enterro do filho único de uma viúva. A situação daquela mulher era de tal desamparo: viúva e sem outros filhos para ampará-la. Via-se abandonada à própria sorte. Seu futuro, pois, era incerto. Sem esperar ser solicitado, Jesus tomou a iniciativa de devolver a esperança ao coração daquela mulher, pois teve compaixão dela. Não se limitou, porém, a simples palavras de consolação. Ressuscitou-lhe o filho que era levado para a sepultura. Assim ela, bem como seu filho, passaram por um processo de revivificação. Marcada pela morte do esposo e do filho único, sem dúvida, ela já tinha mais motivos para viver. Sua vida teria sido uma contínua espera da morte. O gesto misericordioso de Jesus reascendeu-lhe a chama da vida. Valia a pena continuar a viver! – Senhor Jesus, que eu seja sensível à angústia e aos sofrimentos do meu próximo, e ajuda-me a devolver-lhe a alegria de viver (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 16 de setembro de 2024

(1Cor 11,17-26.33; Sl 39[40]; Lc 7,1-10) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Chegando aonde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: ‘O oficial merece que lhe faças esse favor, porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga’” Lc 7,4-5.

“Aquele oficial romano, que não pertencia ao povo de Deus, mereceu que Jesus lhe fizesse o milagre que pedia e mereceu por duas razões: porque ‘amava o povo de Deus’; porque tinha fé, muita fé. E o milagre, mais que pela cura do doente, ocorreu em razão da fé daquele homem; uma fé firme, uma fé que afirmava e admitia o poder taumatúrgico de Cristo, fé que Jesus era dono da saúde e da enfermidade, da vida e da morte, e por isso Jesus podia dar a saúde e mesmo avida. A fé do oficial romano era maior que a fé que até então tinha demonstrado os próprios integrantes do povo de Deus, essa foi que produziu o milagre e não o fato de pertencer ou não ao povo de Deus. Talvez o oficial romano não tenha captado toda dimensão da palavra de Jesus; mas você, que é cristão, e que deve aprofundar nessa projeção que a palavra de Deus deve produzir a saúde e o bem do seu espírito; deve ser eficaz e transformadora de sua vida, que  a partir da palavra de Deus deverá tomar orientação diferente e deverá transformar você em uma pessoa verdadeiramente espiritual, que saiba descobrir o sentido da eternidade, que todas as coisas têm por mais materiais que sejam. A palavra de Deus é que deve levá-lo ao amor de Deus e ao amor a seu próximo, seja ele quem for; o oficial romano, apesar de não pertencer ao povo de Deus, apesar de não ser israelita, ‘amava o povo de Deus’, e esse amor foi aduzido como reforço ao milagre que Jesus fez com o enfermo. O amor de Deus deverá produzir em você o amor ao próximo e esse amor ao próximo é que será capaz de realizar verdadeiros prodígios de transformação em sua vida, coisas que não chegariam a ter explicação senão no amor” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

24º Domingo do Tempo Comum – Ano B

 (Is 50,5-9; Sl 114[115]; Tg 2,14-18; Mc 8,27-35)

1. Mais uma vez temos a célebre pergunta de Jesus a seus discípulos. Mas o acento litúrgico não está na pergunta ou resposta, seja de Jesus ou dos discípulos, e sim no anúncio da paixão, como nos introduz a 1ª leitura.

2. Temos também a repreensão a Pedro para culminar nesse ensinamento de Jesus à multidão sobre o seguimento e a cruz como sinal de tudo o que envolve o nosso discipulado. Já refletimos um pouco sobre tudo isso. O que nos permite voltar-nos sobre a 2ª leitura que nos fala de fé e obras.

3. Sempre se traz à tona o posicionamento de Paulo que nos diz que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas somente pela fé (Gl 2,16), como que contrapondo a Tiago. Não se pode afirmar tal oposição pois o mesmo Paulo tem consciência que tanto a fé, como as obras, são dons do próprio Deus para nossa salvação (cf. Ef 2,8-10).

4. Nós somos obra de Deus, isto é o essencial. Deus, porém, não nos salvou em Cristo para que permaneçamos inertes e passivos ou mesmo no pecado, mas para que fôssemos capazes de realizar, pela graça e pela fé, as boas obras que Deus predispôs para nós, que são as virtudes cristãs.

5. Em 1º lugar está a caridade para com o próximo. É o mesmo Paulo que, na 2ª metade da carta aos Romanos, elenca uma série de boas obras que deve praticar quem crê: caridade, serviço, obediência, pureza, humildade. (cf. Rm 12—14).

6. Essa síntese entre fé e obra custou muita discussão entre católicos e protestantes. Se sabe que não nos salvamos pelas boas obras, mas não nos salvamos também sem as boas obras; que somos justificados pela fé, mas é a fé mesma que nos impele às obras, para não assemelhar-nos àquele filho da parábola que diz logo ‘sim’ ao pai que lhe pede para trabalhar no campo, mas que depois não vai (cf. Mt 21,28s).

7.  Pensando de maneira prática, o filósofo Luterano S. Kierkegaard aconselhava a começar pelas obras, pois segundo ele é mais simples que o princípio da fé. Para chegarmos a uma autêntica fé supõe uma interioridade e uma pureza de espírito que poucos alcançam.

8. É mais fácil começar fazendo alguma coisa, ainda que de modo imperfeito. É mais fácil crer se, renegando-se a si mesmo, se começa a fazer alguma coisa.

9. É como alguém que vê aquelas imagens de sofrimentos geradas pelas chuvas do Rio Grande do Sul, sente uma profunda compaixão, que se sente ‘obrigado’ a mudar de canal, porém não faz nada, a não ser, quem sabe, rezar por eles. Não seriamos alvo da crítica de São Tiago?

10. Temos que ter a Paulo e Tiago juntos: Devemos fazer as boas obras, mas devemos fazê-la na fé. Como resposta àquilo que Deus fez por nós, em espírito de gratuidade, não por outros motivos, ainda que seja para ganhar o paraíso.

11. Fazer as boas obras na fé significa não sentir-se orgulhoso ou superior por ter feito algo de bom, mas tudo atribuir à graça de Deus. Sem deixar-nos guiar por critérios humanos de simpatia ou antipatia, mas tão somente da necessidade. O próprio Tiago nos aconselha a pedir a Deus a capacidade de fazer o bem (cf. Tg 1,5-7). Nada é tão simples assim como parece...   

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 14 de setembro de 2024

(Nm 21,4-9; Sl 77[78]; Jo 3,13-17) Exaltação da Santa Cruz.

“Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto,

assim é necessário que o Filho do homem seja levantado” Jo 3,14.

“A primeira leitura da missa (Nm 21,4-9) narra-nos como o Senhor castigou o Povo eleito por ter murmurado contra Moisés e contra Deus ao experimentar as dificuldades do deserto; enviou-lhe serpentes que causavam estragos entre os israelitas. Quando se arrependeram, o Senhor disse a Moisés: ‘Faze uma serpente de bronze e põe-na por sinal; aquele que, tendo sido ferido, olhar para ela, viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e pô-la por sinal; e os feridos que olhavam para ela ficavam curados’. A serpente de bronze era figura de Cristo na Cruz; quem o olha obtém a salvação. Assim o diz Jesus no diálogo mantido com Nicodemos: ‘Como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que o Filho do homem seja levantado, a fim de que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna’(Jo 3,14). Desde então, o caminho da santidade passa pela cruz, e ganham sentido todas essas realidades que tanto precisam dele, como são a doença, a dor, as aflições econômicas, o fracasso..., a mortificação voluntária. Mais ainda: Deus abençoa com a Cruz quando quer conceder grandes bens a um dos seus filhos, a quem trata então com particular predileção. Não são poucos os que fogem em debandada da Cruz de Cristo, e se afastam da verdadeira alegria, da eficácia sobrenatural, da própria santidade; fogem de Cristo. Levemo-la nós sem rebeldia, sem queixas, com amor. ‘Estas sofrendo uma grande tribulação? Encontras oposição? – Diz, muito devagar, como que saboreando, esta oração forte e viril: Faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas. – Assim seja. Assim seja. – Eu te garanto que alcançarás a paz’ (José Maria Escrivá, Caminho, n. 691)” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar com Deus – Vol. 5 – Quadrante)

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 13 de setembro de 2024

(1Cor 9,16-19.22-27; Sl 83[84]; Lc 6,39-42) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Hipócritas! Tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem

para tirar o cisco do olho do teu irmão” Lc 6,42b.

“A comparação e a afirmação de Jesus não poderiam ser mais concretas; às vezes e muitas vezes fixamo-nos no próximo, vemos nele toda série de defeitos; e como nos doem os defeitos dos outros e quão feios nos parecem! No entanto, esses mesmos defeitos e ainda maiores em nós mesmos parecem-nos insignificantes e mesmo, de certo modo, achamo-los justificáveis. Os outros são neurastênicos; nós somos pessoas de caráter. Os outros são ambiciosos; nós procuramos controlar-nos. Os outros são sensuais e comodistas; nós somos prudentes. Os outros não enxergam a realidade; nós somos clarividentes. Jesus diz que nós somos tão exigentes como os outros e aumentamos de tal forma seus defeitos, que vemos neles até as mais insignificantes minúcias, enquanto nós temos a vista clara e limpa, sendo a verdade completamente diferente: o cisco está no olho do próximo, mas no nosso temos uma viga. Para julgar a respeito da limpeza de sua consciência, não se compare com os outros, mas compare-se com Deus, com o que Deus deseja de você. Não pergunte aos outros como deve ser, mas pergunte ao Senhor como ele quer que você seja. Deveria você constantemente repetir a oração e a atitude do profeta Samuel: ‘Falai (...), vosso servo escuta’ (1Samuel 3,10). Deus quer de você que se vá purificando cada vez mais; não basta não estar sujo com a sujeira do pecado; é preciso ir limpando-se cada vez mais; não basta não pecar, é preciso praticar a virtude positivamente; não basta não odiar, é preciso amar. Os homens julgarão você se não for mau; Deus exigirá de você que seja bom; os homens se contentarão com que você não pratique o mal, Deus leva você a praticar o bem; você não deve fixar-se somente no mal que tenha feito, quando você examinar sua consciência, sobretudo deve analisar o bem que você não fez, tendo condições de fazê-lo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de setembro de 2024

(1Cor 8,1-7.11-13; Sl 138[139]; Lc 6,27-38) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” Lc 6,36.

“O ensinamento de Jesus a respeito do amor aos inimigos foi especificado de várias maneiras. Responder o ódio com a prática do bem, a maldição com a bênção e a calúnia com a oração são todas formas de amar os inimigos e, assim, quebrar a espiral da violência. Oferecer a outra face a quem o esbofeteou e dar a túnica a quem lhe tirou o manto são também sinais deste amor. O discípulo, agindo assim, reverte uma maneira estereotipada de reagir, pela qual as pessoas tendem a revidar o mal com o mal e a violência com violência. Só é capaz de agir assim quem tem o coração repleto da misericórdia do Pai. Caso contrário, não terá condições de realizar os gestos heroicos propostos por Jesus. O modelo inspirador da ação cristã é a misericórdia do Pai. Ele é igualmente bondoso para bons e maus. Se ele respondesse às ofensas humanas, eliminando o pecador, boa parte da humanidade deveria desaparecer. O Pai tem paciência com os ingratos e malvados por nutrir a esperança de que se convertam para a misericórdia no trato mútuo. O mesmo se dá com o discípulo. A capacidade de fazer frente à violência, com o amor, justifica-se pela esperança de conquistar o malvado para o Reino. A atitude cristã pode fazer o perverso abandonar seu caminho de violência e levá-lo a optar pelo caminho indicado por Jesus. – Senhor Jesus, dá-me força e coragem para retribuir o ódio com o amor e, assim, poder conquistar meus inimigos para o Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de setembro de 2024

(1Cor 7,25-31; Sl 44[45]; Lc 6,20-26) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Estas ligado a uma mulher? Não procures desligar-te. Não estás ligado a nenhuma mulher?

Não procures ligar-te” 1Cor 7,27.

“Depois de ter tratado o tema das relações sexuais e do matrimônio nas diversas situações (1Cor 6,12—7,24), Paulo dirige-se às pessoas virgens, isto é, aos jovens e às jovens que estão para casar ou que se orientam para o matrimônio, e propõe-lhe também o ideal da virgindade como comunhão com Cristo, sem distrações e como espera da Sua vinda final. A virgindade anuncia que o mundo futuro está já presente, que o Espírito do Ressuscitado está já atuando, que Deus já triunfou na pessoa de Jesus Cristo: o fermento escatológico penetra em todas as situações e transforma-as. A ressurreição de Jesus inaugura o tempo novo e relativiza quer o presente quer as estruturas mundanas. A relação com o Senhor ressuscitado dá valor e significado a todas as opções de vida. Paulo insiste sobre a brevidade e caducidade do tempo, para propor um discernimento evangélico dos valores, para exortar a que se evite toda a forma de apego e de posse: vivemos numa situação que se tornou provisória. O cristão sabe que se encaminha para o mundo novo, e por isso matrimônio, riso, pranto, posse, venda não são realidades últimas. Os cristãos podem fazer uso do mundo, viver as relações conjugais, familiares, sociais, mas não devem estar completamente absorvidos por elas. O cristão casa-se, chora, alegra-se, compra, vende, mas não como os outros; estas dimensões da vida não são um fim em si mesmas, mas são meios para viver já aqui o que dura para sempre: o amor a Deus e aos irmãos. Paulo propõe a virgindade como união total ao Senhor, como testemunho do primado do Senhor e da relatividade daquilo que é terreno. O estado virginal e o estado conjugal são caminhos, modos idóneos, embora diferentes, de viver a caridade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 10 setembro de 2024

(1Cor 6,1-11; Sl 149; Lc 6,12-19) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus” Lc 6,12.

“A escolha dos doze Apóstolos deu-se num processo de oração e de discernimento. Tratava-se de um ato importante no contexto da missão de Jesus. Ele não podia ser movido por critérios que não fossem aqueles do Reino. Teria incorrido em erro se escolhesse somente quem lhe era simpático, quem fosse rico ou de família nobre ou, então, quem lhe pudesse oferecer ajuda financeira. Só a obediência ao Pai, depois de uma noite passada em oração, explica por que Jesus escolheu um punhado de pessoas humanamente tão pouco qualificados. E mais: gente que haveria de traí-lo, abandoná-lo, renegá-lo. Entretanto, foi assim que se manifestou a sabedoria divina. A consolidação do Reino, na história humana, haveria de ser obra de Deus. A precariedade de dotes nas pessoas escolhidas para serem instrumento de sua ação demonstrou-o muito bem. Embora humanamente cheios de limitações, os doze Apóstolos receberam a missão de levar adiante a missão iniciada por Jesus, o enviado do Pai. A ação deles revelou-se grandiosa, porque souberam confiar plenamente em Deus e deixar-se guiar por ele. O tempo demonstrou o acerto de Jesus na escolha dos doze. Excetuando Judas Iscariotes, que não soube confiar no perdão misericordioso de Jesus, todos os demais apóstolos assumiram com um ardor incrível sua missão de servidores do Reino. – Senhor Jesus, apesar de minhas fraquezas e limitações, conta também comigo para ser servidor do teu Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 9 de setembro de 2024

(1Cr 5,1-8; Sl 5; Lc 6,6-11) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Aí havia um homem cuja mão direita era seca” Lc 6,6.

“Uma mão seca é uma mão inútil, que não só não serve para nada, mas que é positivamente incômoda, pesa e é demais porque estorva. Jesus compadeceu-se daquele enfermo e, com infinita bondade e poder de Deus, cura aquela mão, dá-lhe vida e movimento, dá-lhe utilidade e agilidade e devolve àquele corpo a plenitude da atividade e a facilidade dos movimentos. Agora, do aspecto físico, podemos passar para o aspecto espiritual. Porque também no espiritual existem aqueles que padecem de enfermidades que secam o espírito e impedem que o homem realize uma positiva atividade espiritual. Também no espiritual existem os que estão inativos, despojados de toda inquietude de agir, mergulhados em uma passividade alarmante, sem se preocuparem não só por melhorar a sua vida, mas até mesmo sem inquietar-se por serem melhores do que são; seu organismo espiritual está seco, incapaz de agir, sem se preocupar com nada, nem com ninguém. Tudo isso deve fazê-lo pensar em você mesmo, não aconteça que em você se cumpra o que acaba de ler. Pense, portanto, não somente se você vive com a vida da graça, mas você deve também examinar-se sobre essa mesma vida da graça. Não lhe parece que também em você a graça pode estar presente, mas inativa, sem projeção, sem exuberância de vida, sem manifestações de seu dinamismo, mas atrofiada, uma vida da graça que é vida, porque não se tem pecado mortal, mas que é uma vida com um mínimo de vitalidade? Outras vezes a secura, a aridez na oração, em suas relações com Deus, podem não por sua culpa, mas permissão de Deus, provação a que Deus o/a expõe. Talvez você tenha experimentado dias e mesmo épocas, nas quais, ao colocar-se em oração, você o fazia sem gosto, sem vontade, melhor dizendo, não sentia nada: nenhum atrativo pela oração, Deus não o/a atraía, não o/a chamava, parecia estar surdo a seus pedidos e é possível que, nessas circunstâncias, você tenha deixado de orar, de se entreter com Deus, afastando-se da vida espiritual. Não era isso o que você devia ter feito. Se Deus lhe tirou o gosto pela oração, você devia orar sem gosto, mas com fidelidade à sua obrigação. Porque, orar somente quando se tiver e sentir gosto é prova evidente de que se ora não por Deus, mas por gosto pessoal; ao passo que, orar, mesmo quando não se tiver apetência para isso, ainda que não se experimente nenhum gosto, é sinal evidente de que não se busca a si mesmo, mas sim a Deus na oração” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

23º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Is 35,4-7; Sl 145[146]; Tg 2,1-5; Mc 7,31-37)

1. Jesus realiza mais uma cura. Desta vez a de um homem surdo. Suas curas não se davam por algum passe de mágica ou estalar de dedos. Jesus deixa escapar um ‘suspiro’, diz o texto, antes de tocar na orelha do surdo, como quem, de alguma forma sofria com a desgraça do outro, tomando-a sobre si.

2. Jesus manifesta solidariedade e compaixão. Em sua atitude já encontramos a primeira lição. Como nos comportamos diante daqueles que apresentam alguma limitação física? Se não podemos curá-lo, ao menos aliviamos seu sofrimento numa atitude de respeito e delicadeza no trato com o outro, sem humilhá-lo.  

3. Esses novos tempos de inclusão exigem da nossa parte certa atenção e aprendizado de como lidar com as limitações alheias. Não é preciso ter estudado psicologia para saber quais são as coisas que possam agradar ou desagradar uma pessoa surda, seja no nosso falar ou atenção necessária ao outro.

4. Mas não é só isso que o evangelho vem nos lembrar sobre a surdez. Marcos conserva em seu texto a palavra original na língua falada por Jesus, o aramaico: ‘Effatà’. Uma pequena relíquia conservada. Mas a Igreja primitiva já havia entendido que essa palavra não se referia tão somente a surdez física, mas também àquela espiritual. 

5. Assim, esse ‘Abre-te!’ é um grito dirigido a todo ser humano. Um convite a não fechar-se em si mesmo, a não ser insensível a necessidade do outro; positivamente, a realizar-se estabelecendo relações livres, belas e construtivas com as pessoas, dando e recebendo do outro.

6. Aplicado a nossa relação com Deus, ‘abre-te!’ é um convite a escutar a palavra de Deus, de deixar Deus entrar na própria vida. Foi com essa expressão que João Paulo II iniciou seu ministério pontifical: “Abri as portas a Cristo”.

7. São Paulo nos lembra que a fé nasce da escuta (Rm 10,17). Não há fé possível sem essa escuta profunda do coração. É certo que a fé é um dom, mas temos que nos perguntar se verdadeiramente temos dado espaço para que Deus nos fale. Se fazemos como o jovem Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo te escuta” (1Sm 3,10).

8. Às vezes é preciso fechar os olhos do corpo para abrir melhor os da alma. Não à toa, num mundo de tantos rumores, precisamos de silêncio para reconectar com Deus e com nós mesmos, com as nossas escolhas e decisões. A 9ª Sinfonia de Beethoven é uma das mais belas obras do autor, depois de perder a audição.

9. Certamente não precisamos atravessar a surdez física para descobrir esse outro mundo. Há uma surdez seletiva, que consiste em escolher o que escutar e o que não escutar. Seja uma crítica ao fato de crermos, quando se fala mal do próximo, quando se nos propõe um ganho desonesto, certas obscenidades, blasfêmias e vulgaridades sejam das conversas ou canções.

10. Sermos surdos, às vezes, quando nos ofendem ou falam mal de nós, deixando a palavra cair no vazio, antes que rebater. Quantos males, em família, se evitam com essa atitude, deixando cair no vazio palavras dita num momento de ira, como se não fossem escutadas.

11. Nosso evangelho se conclui com essas palavras sobre Jesus: “Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”. Podemos parodiar dizendo: “O Evangelho faz bem todas as coisas: faz ouvir àqueles que são surdos, quão bom é escutar, e faz surdo àqueles que escutam entender: quão bom é não ouvir”.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 07 de setembro de 2024

(1Cor 4,6-15; Sl 144[145]; Lc 6,1-5) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Então alguns fariseus disseram: ‘Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?” Lc 6,2.

“Os fariseus estavam atentos ao comportamento dos discípulos de Jesus. Quando notavam neles qualquer atitude que pudesse conotar desrespeito às tradições religiosas, apressavam-se em censurar-lhes. O alvo das censuras, no entanto, era Jesus. O fato de os discípulos atravessarem um trigal, em dia de sábado, e apanharem espigas para comer parecia-lhes uma clara infração do preceito do repouso sabático. Este gesto tão simples pareceu-lhes ser contrário à tradição. Jesus, porém, rebateu a advertência dos fariseus com dois argumentos. Em primeiro lugar, apresentou o caso de Davi, rei tido como piedoso e que não hesitou em comer os pães sagrados, num momento em que teve fome. E ninguém o condenou, embora isso não lhe fosse permitido. Em segundo lugar, Jesus era senhor também do sábado. Por conseguinte, tinha autoridade suficiente para permitir a seus discípulos fazer o que era proibido em dia de sábado. Evidentemente, o Mestre não agia assim por leviandade. Nem tampouco com o puro intuito de chocar os ‘piedosos’ fariseus. Jesus se diferenciava dos fariseus pelo fato, também, de se recusar a absolutizar as tradições religiosas. O respeito a essas tradições, para Jesus, só tinha sentido quando fosse para o bem das pessoas. – Senhor Jesus, livra-me do apego às práticas religiosas, até o ponto de absolutizá-las, deixando-me desumanizar por elas (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 06 de setembro de 2024

(1Cor 4,1-5; Sl 36[37]; Lc 5,33-39) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Mas dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, naqueles dias eles jejuarão”. Lc 5,35.

“O Evangelho dá testemunho da continuidade, mas também da grande descontinuidade que existe entre o Batismo de João Batista e o Batismo de Jesus. O primeiro é feito de penitência e de ascese, de autêntica conversão pessoal diante do juízo de Deus; ao invés, o Batismo de Jesus é o acolhimento festivo do Reino dos Céus, que vem ao encontro dos homens, como o noivo vai ao encontro da noiva. A parábola dos versículos 36-37 coloca em relevo a novidade do Reino de Deus, que exige também um modo novo de acolhê-lo. [Compreender a Palavra:] A imagem esponsal ocorre com muita coerência nos quatro evangelhos, procurando interpretar a presença de Jesus entre os homens como um festa de núpcias, que finalmente pode dar início à fecundidade da vida (cf. Jo 2,1-12). No texto de hoje, o aspecto esponsal da presença de Jesus é utilizado para colocar em evidência a diferença entre o modo de vida levado por um homem reto como João Batista, e o outro, porventura demasiado humano, de Jesus. Jejum e penitência são as tentativas que pomos em prática para nos convertermos, mas a verdadeira mudança nasce do acolhimento do motivo autêntico da festa, que é a pessoa de Jesus. Este fala abundantemente do aspecto festivo da vida cristã. As duas comparações do ‘vestido novo’ (v. 36) e dos ‘odres novos’ (v. 38) querem explicar a novidade da atitude a que somos chamados perante a atuação de Deus em Jesus. Seria loucura e descuido não compreender que aquilo que é novo merece uma disponibilidade e uma escuta novas” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 05 de setembro de 2024

(1Cor 3,18-23; Sl 23[24]; Lc 5,1-11) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor

para ouvir a Palavra de Deus” Lc 5,1.

“Jesus vê-se rodeado pelo povo, ansioso de ouvir a palavra de Deus; o povo tinha fome e sede de justiça, fome e sede da palavra de Deus. Rodeia-o de tal forma que quase lhe impede os movimentos indispensáveis, e assim  Jesus ordena a Pedro que afaste a barca um pouco da margem. ‘Faze-te ao largo’ (v. 4). Dentro de você, não fora de você. Em suas profundidades, em sua intimidade não no que o rodeia, não no que não é você. No silêncio de suas profundidades e não na agitação e no bulício de sua atividade exterior; na abstração de tudo que não seja Deus, as coisas de Deus. Para chegar a seu interior, você deverá afastar-se de muitas coisas em seu exterior; para colocar-se nesse fecundo silêncio, deverá fazer com que se calem muitas vozes, muitas conversas, muitos ruídos, muito bulício e agitação; Deus fala no silêncio; a Bíblia diz que Deus fala no deserto, não no deserto físico de ausência de população, mas sim no deserto do coração, esse coração que se encontra despojado de tudo. Pode ser que, por motivo de seus deveres de estado, você se ache imerso entre os ruídos exteriores; mas afirmo-lhe que mesmo entre esses ruídos seu coração deve estar em silêncio diante de Deus, e lhe afirmo também que, por mais que por sua vocação você deve estar imerso no bulício do mundo, é imprescindível que haja em sua vida momentos nos quais você se afaste de tudo e de todos e se dedique única e exclusivamente ao silêncio, ao recolhimento, à oração, à sua intimidade com Deus. Os santos pareciam tão entregues ao próximo, como se estivessem absorvidos pela presença de Deus neles. Santo Antônio Maria Claret, acompanhando o cortejo da rainha da Espanha no meio das multidões, não perdia o colóquio ininterrupto com Jesus sacramentado que levava no peito. Nas parias sentem-se ruídos, rumores, gritos: somente mar adentro é onde se goza do deslizar suave das ondas e do afastamento da azáfama do mundo; somente ali dentro do coração poder-se-á gozar das delícias suaves desse Deus que nos acompanha continuamente. E não pense que a espiritualidade leiga, própria dos leigos cristãos, exima você da interioridade de sua vida espiritual; sem essa interioridade você mal conseguirá libertar-se das influências de tudo que o rodeia” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 4 de setembro de 2024

(1Cor 3,1-9; Sl 32[33]; Lc 4,38-44) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, nós somos cooperadores de Deus, vós sois lavoura de Deus, construção de Deus” 1Cor 3,9.

“Paulo, embora começando pelos dons espirituais presentes em Corinto, declara a completa ignorância destes dons por parte dos Coríntios, devido às divisões e o protagonismo de alguns membros os quais, por dotes particulares, pretendem ter alguns direitos sobre a vida dos fiéis. Mas o ministro de Deus é só um instrumento nas mãos do Senhor, e contribui para o crescimento da Sua obra. Ao ministro, embora julgando-se servo inútil, é confiada a tarefa de colaborar com o Senhor. [Compreender a Palavra:] A distinção entre ‘pessoas naturais’ e ‘pessoas espirituais’ (v. 1) criou diversas incompreensões na História da Igreja, julgando-se ideal dividir os fiéis em classes, conforme o grau de compreensão da própria fé. Mas a intenção do Apóstolo Paulo não era criar mais divisões no interior da Igreja, já que declara que todos os Coríntios são ‘homens naturais’, precisamente porque procuravam separar-se uns dos outros distinguindo-se por privilégios ou pertenças especiais. É ‘espiritual’ quem possui o mesmo espírito de Cristo, que Se fez servo de todos, para que cada qual, desempenhando o seu trabalho, possa estar ao serviço do bem comum. Por isso as tarefas pessoais e os carismas individuais devem colocar-se ao serviço da comunhão, para que a comunidade cristã se torne polo de atração para todas as pessoas. Quem é ministro na Igreja para um determinado cargo que lhe foi confiado, sabe que não pode almejar mais do que ser colaborador de Deus e da alegria dos irmãos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 03 de setembro de 2024

(1Cor 2,10-16; Sl 144[145]; Lc 4,31-37) 22ª Semana do Tempo Comum.

“O espanto se apossou de todos, e eles comentavam entre si: ‘Que palavra é essa?

Ele manda nos espíritos impuros com autoridade e poder, e eles saem’” Lc 4,36.

“O empenho libertador de Jesus encontrou adversários ferrenhos, que agiam em sentido contrário. A possessão demoníaca era símbolo de um projeto incompatível com o de Jesus. Os demônios tinham-lhe aversão. Sua simples presença era suficiente para arruiná-los. O Mestre tornava-os incapazes de oprimir os seres humanos. Não lhes permitia exercer sua ação maligna sobre as pessoas. Antes, arranca-as de suas mãos, devolvendo-lhes a liberdade e a capacidade de decidir-se pela razão iluminada por Deus. A ação do mau espírito não se limita a determinados espaços, considerados profanos. Até mesmo numa assembleia litúrgica, como acontecia na sinagoga de Cafarnaum, encontra-se gente que não é movida pelo espírito de Deus. A simples presença física, num espaço tido como sagrado, não é suficiente para tornar a pessoa imune à ação do espírito inimigo de Jesus. O demônio lança seus tentáculos também aí. A única maneira de o discípulo do Reino manter-se imune das investidas do demônio consiste em tomar Jesus como centro da sua vida. Não mediante uma referência puramente teórica e abstrata, e sim, conformando-se com o projeto de vida do Mestre. Onde impera o amor e a prática da justiça – parâmetro da vida do discípulo –, não existe campo de ação para o mau espírito. – Senhor Jesus, que meu projeto de vida se conforme sempre mais com o teu, de modo que a ação do mau espírito não possa agir em mim” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 02 de setembro de 2024

(1Cor 2,1-5; Sl 118[119]; Lc 4,16-30) 22ª Semana do Tempo Comum.

“Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto

que saiam da sua boca” Lc 4,22a.

“Os ouvintes na sinagoga escutaram o comentário que Jesus fez do texto tomado do profeta Isaías, aplicando-o a si mesmo; escutaram a palavra de Deus, os ensinamentos de Jesus e todos ficaram cativados e entusiasmados. É a eficácia da palavra de Deus, quando cai em corações simples e dóceis; é a primeira condição, a primeira obrigação que temos em relação à palavra de Deus: escutá-la, abrir-lhe o coração, recebê-la, meditá-la e aprofundá-la. Porém de todas as maneiras, o Senhor Jesus chama ditosos e felizes, não aos que somente escutam e a cumprem. ‘Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e observam!’ (Lucas 11,28). As pessoas simples, que escutavam Jesus, não se contentavam em escutá-lo, mas ‘davam testemunho’ (v. 22). Eis o que você deve fazer: deve dar testemunho de Jesus Cristo com suas obras, com sua vida; você deve ser testemunho vivo do Senhor; já que você agora é aquele que escuta a palavra do Senhor. Além de dar testemunho, as pessoas simples ‘escutavam admiradas das palavras cheias de graça que saiam de sua boca’. Não deixe você também de admirar-se e de regozijar-se no íntimo de seu coração do que lê que Jesus disse; as palavras do Senhor que agora você lê no evangelho são as mesmas palavras que alcançaram os ouvidos e o coração dos que escutaram o Senhor; como não reconhecer, pois, que essas palavras e essa doutrina estão ‘cheias de graça’ e que, portanto, comunicam a graça, aumentam a graça e movem a graça a transmitir-se!” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite