(Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44[45]; 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-56)*
1. A
solenidade de hoje coroa o ciclo das grandes celebrações litúrgicas nas quais
somos chamados a contemplar o papel da Bem-aventurada Virgem Maria na história
da salvação.
2.
Com efeito, a Imaculada Conceição, a Anunciação, a Maternidade Divina e a
Assunção são etapas fundamentais, intimamente ligadas entre si, com que a
Igreja exalta e canta o glorioso destino da Mãe de Deus, nas quais podemos ler
também a nossa história.
3.
O Mistério da concepção de Maria evoca que, no desígnio divino da criação, o
ser humano deveria ter tido a pureza e a beleza da Imaculada. Aquele desígnio,
comprometido, mas não destruído pelo pecado, foi recomposto e restituído pela
vinda do Filho, através de Maria e pela livre aceitação do ser humano na fé.
4.
Assim, na Assunção de Maria, contemplamos aquilo que somos chamados a alcançar
no seguimento de Cristo e na obediência à sua Palavra, no final de nosso
caminho na Terra. E como percorreu Maria, esse caminho?
5.
O evangelho nos oferece algumas pistas. Lucas nos diz que logo depois do
anúncio do Anjo, “Maria partiu,... apressadamente”, para visitar
Isabel. Dizendo isto, ele quer sublinhar que, na ação do Espírito Santo, que
não comporta lentidões, Maria deve percorrer uma nova vereda e empreender um
caminho fora da própria casa, deixando-se conduzir unicamente por Deus.
6.
Sua vida passa a ser conduzida por Outro e é assinalada por acontecimentos e
encontros. É um caminho em que Maria, conservando e meditando no coração os
acontecimentos da própria existência, vislumbra neles de modo cada vez mais
profundo o misterioso desígnio de Deus Pai para a salvação do mundo.
7.
Seguindo Jesus de Belém para o exílio no Egito, na vida escondida e na pública,
até aos pés da cruz, Maria vive a sua ascensão constante a Deus no espírito do
Magnificat, aderindo plenamente, também no momento da obscuridade e do
sofrimento, ao projeto de amor de Deus e alimentando no coração o abandono
total nas mãos do Senhor, de maneira a ser modelo para a fé da Igreja.
8.
Toda a vida é uma ascensão, a vida inteira é meditação, obediência, confiança e
esperança, mesmo na obscuridade; e toda a vida é esta ‘pressa sagrada’, que
sabe que Deus é sempre a prioridade, e nada mais deve causar pressa na nossa
existência.
9.
A Assunção recorda-nos que a vida de Maria, como a de cada cristão, é um
caminho no seguimento, na sequela de Jesus, um caminho que tem uma meta
específica, um futuro já traçado: a vitória definitiva sobre o pecado e sobre a
morte, e a comunhão plena com Deus. Tudo isso já iniciado em nosso
batismo.
10.
Em nós, a união com Cristo, a ressurreição, está incompleta, mas para a Virgem
Maria ela é completa, não obstante o caminho que também nossa Senhora pôde
percorrer. Ela entrou na plenitude da união com Deus, com seu Filho, e nos
atrai e nos acompanha no nosso caminho.
11.
A vida do ser humano na Terra, nos recorda a 1ª leitura, é um caminho que se
realiza, constantemente na tensão entre o bem e o mal, como uma viagem num mar
frequentemente borrascoso. Maria é a estrela que nos orienta para o seu Filho
Jesus, nos lembra São Bernardo. Nele temos a vitória.
12.
Com este santo, místico cantor da Virgem Santa, assim a invocamos:
“Suplicamos-te, ó bendita, pela graça que encontraste, por aquelas
prerrogativas que mereceste, pela Misericórdia que tu deste à luz, faz com que
Aquele que por ti se dignou tornar-se partícipe da nossa miséria e enfermidade,
graças à sua intercessão, nos torne partícipes das suas graças, da sua
bem-aventurança e da sua Glória eterna, Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor,
que está acima de todas as coisas, Deus bendito nos séculos dos séculos.
Amém”.
* Com base em texto de Bento
XVI.
Pe. João Bosco
Vieira Leite