(Ap 21,9-14;Sl 144[145]; Jo 1,45-51) São Bartolomeu, apóstolo.
“Jesus viu Natanael, que vinha para ele,
e comentou: ‘Aí vem um israelita de verdade,
um homem sem falsidade’” Jo 1,47.
“Voltando
à cena da vocação, o Evangelista nos diz que, quando Jesus viu Natanael
aproximar-se, exclamou: ‘Eis aí um israelita verdadeiro, sem falsidade’ (Jo
1,47). Trata-se de um elogio que remete ao texto de um salmo: ‘Feliz é o homem
a quem Javé não aponta nenhum defeito!’ (Sl 32,2), mas que desperta a
curiosidade de Natanael, que replica com estupor: ‘De onde me conheces?’ (Jo
1,48a). A resposta de Jesus não se compreende de forma imediata. Diz: ‘Antes
que Felipe chamasse você, eu o vi quando estava embaixo da figueira’ (Jo
1,48b). Não sabemos o que aconteceu embaixo desta figueira. É evidente que se
trata de um momento decisivo na vida de Natanael. Ele se sente tocado em seu
coração por estas palavras de Jesus, sente-se compreendido e compreende: este
homem sabe tudo de mim. Ele sabe e conhece o caminho da vida, posso realmente
confiar neste homem. E assim responde com uma confissão de fé, limpa e bela,
dizendo: ‘Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel!’ (Jo 1,49). Nela
há um primeiro e importante passo no caminho da adesão a Jesus. As palavras de
Natanael põem em evidência um duplo e complementar aspecto da identidade de
Jesus: Ele é reconhecido não só em sua relação com o povo de Israel, do qual é
declarado rei, qualificação própria do esperado Messias. Nunca devemos perder
de vista nenhum desses dois componentes, visto que, se proclamarmos somente a
dimensão celestial de Jesus, corremos o risco de fazer dele um ser etéreo e
evanescente, e se, ao contrário, reconhecermos somente o seu lugar concreto na
história, deixamos de lado a dimensão divina que propriamente o define. Sobre a
posterior atividade apostólica de Bartolomeu-Natanael não temos notícias
concretas. Segundo uma informação referida pelo historiador Eusébio do século
IV, um certo Panteno encontrou sinais da presença de Bartolomeu nem mais nem
menos que na Índia (cf. Hist. eccl. V, 10,3). Na tradição posterior, a partir
da Idade Média, surgiu o relato de sua morte por esfoladura, que logo se tornou
muito popular. Pensem na conhecidíssima cena do Juízo Final na Capela Sistina,
em que Michelangelo pintou São Bartolomeu segurando com a mão esquerda a sua
própria pele, sobre a qual o artista deixou seu autorretrato. Suas relíquias
são veneradas em Roma, na igreja dedicada a ele na ilha Tiberina, para onde
foram trazidas pelo imperador alemão Oto II no ano 983. Para concluir, podemos
dizer que a figura de São Bartolomeu, apesar da escassez de informações
relativas a ele, nos diz que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada
inclusive sem realizar obras fundamentais. Extraordinário é e continua sendo
Jesus, a quem cada um de nós é chamado para consagrar a nossa vida e a nossa
morte” (Bento XVI
– Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).
Pe. João Bosco
Vieira Leite